Laticínios

Atualização do Mercado de Leite: Análise do Desempenho e Tendências para 2024

Crescimento da produção e desafios climáticos marcam cenário atual do setor leiteiro


Publicado em: 03/10/2024 às 20:00hs

Atualização do Mercado de Leite: Análise do Desempenho e Tendências para 2024

O relatório mais recente da Consultoria Agro do Itaú BBA apresenta uma análise abrangente sobre a atualização anual do rebanho e da produção leiteira no Brasil, além de um panorama sobre a conjuntura do setor.

Em 2023, a produtividade da pecuária leiteira voltou a mostrar sinais de crescimento. Dados da Pesquisa Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE, revelam que a quantidade de vacas leiteiras no Brasil se manteve praticamente estável em 15,7 milhões de cabeças, apresentando uma leve queda de 0,1% em relação a 2022, quando houve uma redução de 1,4%, correspondente a 217 mil vacas a menos.

Por outro lado, a produção total de leite inspecionado cresceu 2,4%, marcando um novo recorde histórico após dois anos de declínio. A produtividade média nacional avançou 2,5%, alcançando 2.259 litros por vaca ao ano, com um aumento de 55 litros/vaca em relação ao ano anterior. As regiões Sul e Sudeste foram responsáveis por 34% e 33% da produção nacional, respectivamente. Entre os estados, Minas Gerais lidera com 27% do total, seguido por Paraná (13%), Rio Grande do Sul (12%) e Santa Catarina (9%). Notavelmente, a Região Nordeste destacou-se pela taxa de crescimento, superando a produtividade dos estados do Sul nos últimos três anos.

No Nordeste, Sergipe (37%), Rio Grande do Norte (26%) e Paraíba (17%) foram os estados que mais aumentaram a produtividade nesse período. Apesar de partirem de uma base baixa em 2010, Sergipe alcançou 3.200 litros por vaca/ano, superando Minas Gerais (3.000 litros). Paraná e Santa Catarina apresentaram médias de 3.800 litros/vaca/ano, enquanto o Rio Grande do Sul atingiu 3.900 litros.

O desenvolvimento da pecuária leiteira no Nordeste pode ser atribuído à maior adoção de tecnologias, ao apoio governamental e a políticas públicas de assistência técnica. Além disso, houve melhorias genéticas no rebanho com raças adaptadas ao clima semiárido, como Girolando, Jersey e Guzerá. O fortalecimento do mercado regional, impulsionado pelo aumento da renda e da demanda, e a adaptação às condições climáticas também contribuíram para esse avanço.

Em 2024, o cenário aponta para um crescimento contínuo na produção leiteira em relação ao ano anterior. Apesar de uma estabilização nos preços recebidos pelos produtores a partir de junho, após um aumento considerável entre janeiro e maio, a boa relação de troca entre leite e milho contribuiu para a elevação dos preços, mesmo com um crescimento na oferta que começou a desacelerar no segundo trimestre. A produção no Rio Grande do Sul enfrentou uma retração de 10% nesse período, o que impactou o crescimento da produção nacional, que foi de apenas 0,8%.

Em termos de preços, a média calculada pelo Cepea mostrou que o preço do leite em agosto (R$ 2,76 por litro) foi 29% superior ao de janeiro de 2024, enquanto o milho no Triângulo Mineiro caiu 24% no mesmo intervalo. As importações de leite no segundo trimestre de 2024 diminuíram em 6% em relação ao mesmo período do ano anterior, após um crescimento de 11% no primeiro trimestre. Até agosto, as importações acumulavam um aumento de 5%, totalizando 1,5 bilhão de litros, conforme dados da Embrapa Gado de Leite.

Após uma interrupção nas altas de preços ao produtor em junho e julho, esperava-se uma certa acomodação nos meses subsequentes. No entanto, agosto registrou uma leve alta de 1,4% em relação a julho, atribuída a uma recuperação mais lenta da produção. As chuvas excessivas no Rio Grande do Sul e as condições climáticas adversas no Sudeste e Centro-Oeste, incluindo secas e altas temperaturas, impactaram negativamente a produção, agravada pelos danos causados por incêndios nas pastagens.

No que tange à indústria de laticínios, o leite UHT teve uma queda de 3,5% no acumulado até agosto em comparação ao mesmo período de 2023, enquanto o preço ao produtor em São Paulo apresentou uma queda mais acentuada de 8,7%. A muçarela também sofreu uma redução anual de 1,9%, embora o spread tenha se mostrado mais favorável em relação ao custo da matéria-prima.

O consumo de produtos lácteos, por sua vez, é altamente sensível à atividade econômica. Os indicadores positivos de renda e emprego neste ano têm sustentado a demanda interna, elevando o poder de compra das famílias, incluindo as de menor renda, beneficiadas por programas de transferência de renda.

De acordo com a equipe de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco, espera-se um crescimento de 3% para o PIB em 2024, com a taxa de desemprego projetada para 6,9% ao final do ano. Isso, aliado a uma boa absorção doméstica, indica uma gradual recuperação da oferta para o último trimestre do ano. No entanto, a longa seca e o atraso das chuvas podem retardar a recuperação das pastagens e, consequentemente, a produção.

Embora os pastos estejam em condição crítica atualmente, a relação de troca favorável entre leite e milho continua a incentivar a oferta. Assim, o cenário do setor deve permanecer equilibrado nos próximos meses, com a produção sendo impulsionada por preços sustentados e custos baixos de ração. A demanda interna sólida tem garantido uma base de preços razoável para os derivados e, por conseguinte, para as margens da indústria.

À medida que avançamos, a manutenção dos custos de produção dos concentrados sob controle e condições climáticas favoráveis poderão ser essenciais para equilibrar a oferta e a demanda, dado que a primeira tende a se expandir.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias