Publicado em: 16/01/2017 às 01:00hs
Condenação de carcaças, fatores que interferem.
Vamos falar de fatores que interferem na condenação de carcaças. O Brasil ocupa uma posição de destaque entre os maiores produtores mundiais de carne de frango. Acompanhando este posicionamento, observamos um grande desenvolvimento nos processos relacionados ao abate das aves, com a implantação de processos automatizados de evisceração e corte das carcaças.
Porém, com todo esse desenvolvimento implantado nos abatedouros, muitos pontos antes e após o abate devem ser considerados, para que não ocorram ou minimizem as perdas com o descarte e/ou condenações das carcaças.
A condenação de carcaças pode ser parcial ou total, dependendo do tipo e nível de lesão que possa ter ocorrido (Aristides et al., 2007), além disso, podem variar muito de uma integração para outra. O SIF (Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) realiza as inspeções ante mortem e pos mortem para avaliação das carcaças. Na avaliação no pos mortem, se houver a condenação parcial da carcaça, as partes não lesionadas podem ser aproveitadas.
Desta forma, podemos observar que as condenações podem ocorrer por pontos específicos antes e durante o processo de abate.
Pontos relacionados ao manejo das aves:
A maioria dos danos na carcaça são relacionados ao manejo inadequado no período pré-abate, principalmente durante a captura das aves no galpão. Porém, podemos citar outros pontos de manejo que também contribuem para a condenação de carcaças das aves no abatedouro, dentre eles: os manejos relacionados a ambiência, manejo de comedouros e bebedouros, além do manejo da cama, sendo essas as mais comuns.
Uma das lesões que mais ocorrem são os calos no peito. Essa lesão hemorrágica ocorre devido à tendência da ave em encostar o peito na cama ao agachar. Um manejo inadequado da cama, aliado a falhas na ventilação, podem agravar esse problema.
Ainda relacionado ao manejo inadequado da cama, as lesões no coxim plantar das patas das aves – também conhecidos como calos nos pés – são muito recorrentes. Embora essas lesões não causem a condenação de carcaças, os pés frangos são aproveitados como produto acabado, tornando um grande ponto de perda no processo do abate.
A apanha e captura das aves são as atividades que acarretam mais casos de hematomas e fraturas, resultando na condenação de carcaças. A apanha deve ocorrer de forma cuidadosa, evitando provocar a aglomeração das aves. Se possível, deve ser realizada a noite e em temperaturas amenas. Alguns autores defendem ainda o uso de luz azul, objetivando reduzir o estresse nas aves. A captura das aves deve ocorrer pelo dorso, evitando segurá-las pelas pernas ou segurar várias aves de uma só vez.
Sobre as lesões:
A caquexia é caracterizada pela a atrofia da musculatura, com ausência de deposição de tecido gorduroso e coloração violácea da carne. Causas nutricionais e infecciosas estão bastante relacionadas a essa enfermidade, porém, fatores ligados ao manejo dos primeiros dias da ave, como: temperatura do galpão, consumo de água e taxa de lotação, por exemplo, podem contribuir para o aparecimento desta condição (BRASIL, 2001). A quilha saliente é o principal sintoma visível na carcaça.
Uma lesão que invariavelmente resulta na condenação de carcaças (parcial) é o peito amadeirado, que é caracterizada por apresentar uma rigidez ao toque e/ou protuberâncias ao longo da porção ventral da musculatura peitoral. A superfície da musculatura pode apresentar acúmulo de líquido, de coloração clara a levemente turva, e estar associada ainda a ocorrência de petéquias. A ocorrência de peito amadeirado pode estar relacionada ao rápido crescimento das aves, principalmente aquelas com genética direcionada para maior rendimento de peito e peso de peito, além de dietas com alta energia.
Muito relacionada a densidade de alojamento no aviário, as dermatites são lesões na pele ou tecido adjacentes na forma de feridas, fissuras ou úlceras. Quando a ruptura da pele evolui para um processo inflamatório, ocorre a caracterização de um abscesso.
Os arranhões na pele podem ter diversas causas, dentre elas: a densidade do aviário, o fornecimento de ração inconstante – aliado a pouco espaço de comedouro – e o manejo durante a captura das aves para o abate.
A celulite é um processo inflamatório subcutâneo que se apresenta na forma de edemas e são caracterizadas por manchas amarelas ou amarronzadas e pode estar associada a um grande número de bactérias. Os locais de maior ocorrência são nas coxas, peito e região submandibular. As principais causas são: as onfalites, a falta de empenamento, problemas de cama, fatores ambientais e de estresse (ARISTIDES et al., 2007).
A artrite caracteriza-se por ser um processo inflamatório nas articulações, associado ao aumento de volume e supuração. Podem ser originadas de processos infecciosos ou mesmo falhas na nutrição (VIEIRA, 2008).
Considerações finais:
Vale lembrar que a densidade das gaiolas de transporte deve ser respeitada, evitando colocar mais aves do que o recomendado, bem como resguardar que as partes das aves fiquem para fora da gaiola, provocando esmagamento e eventual condenação de carcaças.
Durante o transporte, devem ser respeitadas as condições de bem-estar animal, atentando-se ao tempo de viagem, as condições climáticas e o tempo de espera, tanto na carga como na descarga dos caminhões. Lesões no peito podem ser observadas devido ao choque da ave com o piso da gaiola e solavancos durante o transporte. Estima-se que 20% das lesões e contusões na carcaça sejam ocasionadas durante o transporte (RIVAS, ISOLAN e PINTO, 2009).
Condenação de carcaças no frigorífico
Vamos falar sobre carcaças no frigorífico. Os mesmos cuidados abordados com a apanha das aves devem ser respeitados durante a recepção e o descarregamento do caminhão e das gaiolas no frigorífico.
Além disso, um jejum inadequado antes do abate pode ser um ponto de preocupação. O papo cheio durante o abate pode ser uma via contaminante no processo de evisceração, uma vez que, a ração pode acarretar contaminantes à carcaça e ao processo como um todo. Em geral, o período de jejum abaixo de 4 horas pode apresentar riscos de contaminação no abatedouro.
A pendura das aves na norea deve ser feita sem movimentos bruscos, evitando estressar as aves. Nesse momento, as lesões nas coxas e nas asas são muito comuns, já que as aves se debatem muito durante esse processo.
Durante o processo de insensibilização, os cuidados devem ser direcionados para uso de uma tensão correta no tanque de imersão energizado. O uso de tensões muito altas pode ocasionar vermelhidão nas pontas das asas, devido à grande concentração de sangue nessa área em função da contração das vias sanguíneas.
A sangria das aves deve ser feita de forma cuidadosa, permitindo a saída de todo o sangue e evitando que a carcaça fique com um aspecto avermelhado. Altas temperaturas antes do abate podem prejudicar a sangria por favorecer a vasodilatação periférica.
Ainda, as altas temperaturas da água durante o processo de depenagem podem contribuir também para a condenação da carcaça. Durante esse processo, uma atenção especial deve ser direcionada a regulagem da depenadeira, evitando o rompimento da pele, bem como as fraturas ou deslocamentos nas asas e nas coxas.
Vale ressaltar que o processo de evisceração é o ponto mais crítico no tocante a condenação das carcaças no frigorífico. Nesse momento, a contaminação pode ocorrer pela liberação do conteúdo intestinal. Um tempo adequado de jejum na dieta sólida, antes do abate, pode minimizar esse risco de contaminação.
A obtenção de uma carcaça de frangos íntegra depende dos esforços antes e depois do abate. O descarte de carcaças no abatedouro é um fator extremamente prejudicial, pois os investimentos feitos durante todo o período de crescimento da ave – ração, energia, funcionários, etc. – serão perdidos.
Todas as condenações visam sempre a segurança alimentar do consumidor final dos produtos. Dessa forma, todos os esforços que contribuam para minimizar as condenações das carcaças no frigorífico, proporcionam grandes retornos para todos os envolvidos no processo de produção de carne de frangos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARISTIDES et al., L.G.A.; DOGNANI, R.; LOPES, C.F.;SILVA L.G.S.; SHIMOKOMAKI, M. Diagnósticos de condenações que afetam a produtividade da carne de frangos brasileira. Revista Nacional da Carne, São Paulo, ano 2007, n.368, p. 22-28, outubro 2007.
BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABATESTIMANTO. (Org.). Apostila de treinamento de agentes de inspeção de aves. Passo Fundo, 2001.
RIVAS, P. M.; ISOLAN, L. W.; PINTO, A.T.. Relação entre o transporte e o bem estar de frangos de corte com a mortalidade pelo transporte e ocorrência de lesões na carcaça. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AVICULTURA, 21., 2009, Porto Alegre. Anais… . Porto Alegre: UFRGS, 2009. p. 200 – 201
SIHVO, H. K.; IMMONEN, K; PUOLANNE, E. Myodegeneration with Fibrosis and Regeneration in the Pectoralis Major Muscle of Broilers. Veterinary Pathology, n.51, v.3, p. 619–623, 2014.
VIEIRA, Sérgio L.. Qualidade visual de carcaças de frango de corte. São Paulo: E-color, 2008.
Lidson Nery é Nutricionista de aves de corte na Agroceres Multimix
Fonte: Agroceres Multimix
◄ Leia outros artigos