Agrotóxicos e Defensivos

A China e o Mercado de Pesticidas no Brasil: Uma Parceria de Crescimento Mútuo

Transformação gradual e desafios no mercado brasileiro de agroquímicos


Publicado em: 07/01/2025 às 13:10hs

A China e o Mercado de Pesticidas no Brasil: Uma Parceria de Crescimento Mútuo

Nos últimos 25 anos, a China passou por uma transformação significativa, não apenas internamente, mas também no contexto global, tornando-se um dos protagonistas nas relações comerciais entre países. Inicialmente distante do mercado internacional, o país se tornou líder mundial na produção e exportação de pesticidas, com impacto direto no Brasil.

O engenheiro agrônomo e especialista em registro de agrotóxicos, Flavio Hirata, compartilha sua visão sobre essa relação, que começou de forma tímida, mas que evoluiu consideravelmente ao longo do tempo.

O Início da Parceria

Em sua primeira visita à China, em 1999, Hirata observou que os chineses não vislumbravam o potencial do mercado internacional, especialmente em relação ao Brasil. Na época, a indústria de pesticidas chinesa era predominantemente composta por empresas estatais, com foco na produção em grande escala, e os preços dos produtos fabricados na China eram muito mais baixos em comparação aos vendidos no Brasil, o que tornava a relação comercial inviável.

Os desafios estavam não apenas na distância geográfica e no idioma, mas também na resistência dos chineses em explorar o mercado brasileiro, que ainda estava emergindo como um grande produtor agrícola. Apesar disso, Hirata acreditava no potencial de uma parceria mútua entre a China e o Brasil, baseada na troca de pesticidas chineses por grãos brasileiros. Com essa visão, ele iniciou, em 2004, um trabalho de aproximação, promovendo visitas, seminários e eventos para apresentar a agricultura brasileira aos empresários chineses e estreitar laços comerciais.

Mudança Gradual e Adoção de Novas Práticas

A evolução foi gradual, mas notável. Ao longo dos anos, a China aprimorou suas práticas de segurança, proteção ambiental e qualidade, seguindo as diretrizes dos Planos Quinquenais do Governo. O fechamento de fábricas irregulares e o aumento da qualidade dos produtos prepararam o terreno para uma nova fase de interação com o mercado brasileiro. A partir de 2005, fabricantes de pesticidas chineses começaram a registrar seus produtos no Brasil, inicialmente com produtos técnicos, e, mais tarde, com produtos formulados.

As parcerias com empresas brasileiras e transnacionais se fortaleceram, e a China tornou-se um dos principais fornecedores de pesticidas para o Brasil, adaptando-se às demandas locais. A precificação dos produtos chineses também passou a ser ajustada ao que o mercado estava disposto a pagar, especialmente durante a pandemia, quando a escassez global de produtos levou a aumentos de até 400% nos preços.

Desafios e Concorrência no Mercado Brasileiro

Com a presença crescente das empresas chinesas no Brasil, surgiram novas dinâmicas de mercado. Além das parcerias com empresas locais, muitas delas começaram a importar e revender produtos diretamente aos distribuidores e agricultores, tornando-se, muitas vezes, concorrentes diretos de seus próprios clientes. Apesar disso, os desafios permanecem, já que o mercado brasileiro possui peculiaridades que exigem estratégias bem definidas para alcançar o sucesso.

Nos últimos anos, algumas empresas chinesas enfrentaram dificuldades financeiras no Brasil, acumulando prejuízos. Por outro lado, os importadores de produtos chineses passaram a contar com linhas de crédito, algo impensável anos atrás. A especulação sobre aquisições de empresas brasileiras por grupos chineses e indianos é crescente, especialmente considerando o excesso de capacidade de produção mundial.

O Impacto das Práticas de "Menor Preço"

Uma preocupação crescente no mercado é a prática de “menor preço”, comum em diversos setores, incluindo o de agroquímicos. Esta estratégia, adotada por muitas empresas chinesas, visa competir por meio da redução de custos, o que pode comprometer a qualidade dos produtos e a integridade do mercado. No Brasil, já é possível observar exemplos de empresas estabelecidas em condições inadequadas, como apartamentos residenciais, para reduzir custos operacionais.

Embora a prática seja comum em várias partes do mundo, ela apresenta riscos a longo prazo, com possíveis danos à reputação e à sustentabilidade do mercado. Os próprios fabricantes chineses demonstram apreensão sobre essa abordagem e buscam alternativas para lidar com a concorrência desleal.

O Futuro da Parceria China-Brasil

Nos últimos 20 anos, a China consolidou-se como um player essencial no mercado de pesticidas brasileiro. Contudo, essa relação, que inicialmente parecia improvável, agora é uma via de mão dupla, beneficiando ambos os países. Mais recentemente, empresas indianas também começaram a disputar o mercado brasileiro, o que tem levado a uma intensificação da competição.

A trajetória da AllierBrasil, pioneira em promover a agricultura brasileira no exterior, reflete a evolução dessa parceria entre os dois países, que segue se desenvolvendo com a ampliação de registros de produtos, parcerias técnico-comerciais e aquisições. A entrada de empresas asiáticas no mercado brasileiro, especialmente da China e da Índia, é um indicativo claro de como o Brasil continua sendo um destino estratégico para o setor de pesticidas.

Fonte: Portal do Agronegócio

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