Adubos e Fertilizantes

Retorno da oferta de potássio pressiona produtores a reduzir a produção

Fornecimento global se estabiliza após conflitos geopolíticos, mas demanda permanece tímida


Publicado em: 24/10/2024 às 14:40hs

Retorno da oferta de potássio pressiona produtores a reduzir a produção

O fornecimento global de potássio está se aproximando dos níveis observados antes da invasão da Ucrânia, à medida que Rússia e Bielorrússia contornam as sanções ocidentais e aumentam os embarques para a Ásia e a América do Sul. Essa dinâmica tem levado os produtores a cortar a produção e a evitar o excesso de oferta no mercado.

Para este ano, a produção de potássio deve atingir 73 milhões de toneladas métricas, com exportações da Rússia entre 12 e 13 milhões de toneladas e da Bielorrússia em torno de 10 milhões de toneladas, segundo Julia Campbell, chefe do serviço de precificação de potássio da agência de preços de commodities Argus.

Os preços do potássio começaram a se normalizar após um período de volatilidade que se seguiu à invasão da Ucrânia. "As exportações russas caíram drasticamente no início do conflito devido a desafios financeiros e logísticos, mas esses problemas diminuíram com o tempo", explica Campbell.

Além disso, o aumento das exportações de potássio do Canadá, Jordânia e Laos também tem contribuído para a oferta global e redução dos preços, gerando preocupações sobre um possível excesso de oferta, com uma leve melhora na demanda projetada apenas para 2025.

Durante os relatórios de lucros semestrais, grandes produtores de potássio, como a empresa alemã K+S, adotaram uma perspectiva otimista sobre o crescimento da demanda e a estabilização dos preços. Contudo, analistas advertiram que a abundância da oferta global limitará os preços, impactando as perspectivas de lucro das empresas. "Não acredito que haverá algum tipo de prêmio de preço ou benefício real em decorrência da mudança global na oferta e no comércio. Observamos isso principalmente em 2022 e 2023, quando os preços permaneceram moderados", afirma Seth Goldstein, analista da Morningstar.

O Canadá, que aumentou significativamente sua participação no comércio global de potássio em 2022, viu as participações da Bielorrússia e da Rússia diminuírem. Desde então, os preços do potássio caíram para menos de US$ 300 por tonelada, após alcançarem um pico de US$ 1.000 em meados de 2022, devido à fraca demanda, segundo dados da Argus.

"Estamos nos aproximando dos custos operacionais de produção, o que pode forçar algumas empresas a reduzir a produção", alerta Paul Joules, analista do Rabobank. A Nutrien, maior produtora mundial de potássio, anunciou em agosto a suspensão de seus planos de aumento da produção, citando condições desfavoráveis de mercado.

Aumento das remessas e preocupações crescentes

Os produtores russos têm intensificado os embarques para a China e a Índia, utilizando novas rotas ferroviárias desde que a Rússia se retirou do acordo de grãos do Mar Negro no ano passado. Isso resultou em uma demanda crescente no Sudeste Asiático e na América do Sul, de acordo com Goldstein.

Exportadores bielorrussos estão transferindo cargas dos portos do Báltico para portos russos e oferecendo potássio com desconto por meio dessas novas rotas, contornando as sanções.

Paralelamente, a Eurochem, sediada na Suíça, está expandindo suas operações nas unidades de Usolskiy e Volgakaliy na Rússia. Humphrey Knight, analista da CRU London, observa que "o setor de MOP (muriato de potássio) já está passando por um período de oferta muito alta".

Impacto no setor agrícola e nos preços

A queda nos preços do potássio tem melhorado a acessibilidade de alguns grãos e sementes oleaginosas, segundo Delphine Leconte-Demarsy, consultora de fertilizantes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. "Nos EUA, o potássio continua mais caro do que antes do aumento de preço, mas isso é compensado pelos preços comparativamente mais altos das safras", explica.

Entretanto, os agricultores locais têm enfrentado impactos distintos, dependendo dos custos logísticos e das taxas de câmbio. "Na China, embora o potássio esteja mais acessível atualmente, a depressão dos mercados de arroz limita o uso deste insumo nessa cultura", complementa.

No Brasil, um grande exportador de produtos agrícolas, os preços do potássio voltaram aos níveis de 2019, incentivando seu uso em culturas de maior valor, como soja e milho. Joules, do Rabobank, destaca que os agricultores continuarão a colher benefícios, uma vez que o mercado restrito deve manter os preços do potássio abaixo das médias históricas. (1 dólar = 0,9215 euros)

Fonte: Portal do Agronegócio

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