Adubos e Fertilizantes

Investidores frisam riscos que o setor de carne traz à biodiversidade e focam em reaproveitar dejetos como fertilizantes

Campanha busca engajar 10 companhias, incluindo JBS e BRF


Publicado em: 21/09/2022 às 14:20hs

Investidores frisam riscos que o setor de carne traz à biodiversidade e focam em reaproveitar dejetos como fertilizantes
  • A FAIRR, influente rede internacional de investidores com US$ 8 trilhões AUM, lançou uma campanha de engajamento com 10 companhias da área de carne para lidar com a poluição provocada pela criação de rebanhos 
  • JBS e BRF estão entre as empresas globais que precisam administrar os dejetos das criações, com o objetivo de transforma-los em fertilizantes
  • Os dejetos são um problema ainda mais sério que os plásticos: mais de três bilhões de toneladas são produzidos nas fazendas de rebanhos a cada ano, mais que o volume de plásticos produzido no mundo todo
  • Os investidores convocam as companhias a transformar os nutrientes dos dejetos animais em recursos valiosos, como fertilizantes
  • Regulação crescente: as firmas do agronegócios enfrentam regulações crescentes e riscos financeiros devido à má gestão de dejetos e esterco lançados na água 

A FAIRR Initiative, rede de investidores com US$ 68 trilhões sob gestão, lançou uma campanha de engajamento inédita focada nos impactos à diversidade causados pela má gestão dos dejetos das grandes produtoras de proteína animal no Mundo e pela poluição de nutrientes oriundos da criação intensiva de rebanhos. Esta é a primeira de uma série de campanhas promovidas pela FAIRR para endereçar os desafios à biodiversidade, que gera valor na ordem de US$ 44 trilhões - o equivalente à metade do PIB global - anualmente, tornando-a crítica para a economia.  JBS e BRF são as companhias brasileiras que estão na lista das dez empresas que a FAIRR pretende angajar -  Cranswick (Reino Unido), Maple Leaf (Canadá) e WH Group (China) – proprietários da Smithfield Foods, nos EUA - entrou outras.

Entre os investidores que apoiam a campanha está a Robeco. Eles pedem às empresas que divulguem uma avaliação completa de como os dejetos animais, notadamente o esterco, são gerenciados em suas cadeias e quais ações concretas estão tomando para administrar riscos como a poluição por nutrientes.

O esterco representa uma reserva preciosa de fertilizantes de azoto e fósforo. No entanto, devido às complexidades em torno de sua distribuição, é rotineiramente tratado como um resíduo a ser descartado de forma barata, em vez de um fertilizante valioso. Raramente é transportado por mais de alguns quilômetros para ser espalhado nas plantações, não saindo para regiões onde não há tanto gado.

Também foram envolvidas na campanha duas empresas agroquímicas (Darling Ingredients e Yara International) para explorar os resíduos animais como matérias primas. Um exemplo é o reuso de nitrogênio e fósforo para produzir fertilizantes. Os preços dos fertilizantes atingiram níveis recordes desde o início da guerra na Ucrânia, evidenciando a necessidade de melhor destinação dos dejetos. A UE já está procurando acelerar o desenvolvimento de produtos alternativos para reduzir sua dependência de produtos e gás russos.

O engajamento é informado por um novo relatório, publicado hoje, que afirma que mais de três bilhões de toneladas de resíduos são produzidos em fazendas de animais a cada ano, mais do que o volume de plástico produzido em todo o mundo. Muitos casos de manejo inadequado do esterco animal levam à poluição por nutrientes que prejudica os cursos d'água, a qualidade do ar e a biodiversidade, resultando em ações judiciais consideráveis e vários exemplos de oposição da comunidade à expansão das fazendas.

Os membros investidores da FAIRR estão bem cientes dos crescentes riscos de biodiversidade e suas implicações, particularmente no período que antecede a Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas (COP 15) em dezembro. O aumento da regulamentação para combater o desperdício e a poluição da agricultura animal está sendo visto em todo o mundo, inclusive na Holanda, China e EUA, deslocando as cadeias de suprimentos e muitas vezes pressionando as empresas a aumentar seus investimentos de capital.

DECLARAÇÕES

Jeremy Coller, presidente e fundador da Iniciativa FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital, disse:

“O fracasso da indústria da carne em gerenciar o estrume de forma eficaz está ameaçando a biodiversidade e os resultados dos investidores. Inacreditavelmente, mais resíduos são produzidos por fazendas de animais a cada ano do que o volume de plástico produzido em todo o mundo. A prática de despejar quantidades excessivas de estrume e permitir que os nutrientes poluam os cursos d'água está matando a vida marinha e colocando em risco a saúde pública.

“Os investidores estão bem cientes do risco regulatório para as empresas, tendo visto os primeiros passos dados nos EUA e na Holanda. Além disso, as empresas estão perdendo a oportunidade de fazer parte de uma solução global, criando fertilizantes valiosos a partir de resíduos, em um momento em que nunca foi tão caro adquirir”.

Peter van der Werf, Gerente Sênior de Engajamento, Robeco, disse:

"A Robeco está comprometida em proteger e restaurar a biodiversidade por meio de suas atividades financeiras e investimentos. Como um dos principais impulsionadores da perda de biodiversidade globalmente, o desperdício e a poluição da produção pecuária intensiva devem ser abordados - e esse compromisso inédito é um passo importante frente.

“Cerca de um quarto de nossos ativos sob gestão são altamente ou muito altamente dependentes de pelo menos um serviço ecossistêmico – serviços que dependem de ecossistemas saudáveis. Proteger a biodiversidade é do interesse de longo prazo de nossos clientes e nosso desempenho de investimento, sem mencionar o planeta.”

Eugenie Mathieu, Analista Sênior de ESG, Aviva Investors, comentou:

“A Aviva está comprometida em proteger e melhorar a biodiversidade do planeta e, como investidor, isso começa com a compreensão dos riscos. Mais da metade do PIB global depende dos serviços ecossistêmicos que a biodiversidade fornece, e os danos crescentes aos ecossistemas causados pela má gestão de dejetos animais são difíceis de engolir.

“Precisamos urgentemente de um esforço coletivo da cadeia de fornecimento de proteína animal para reduzir o impacto de seus resíduos e criar resiliência contra a regulamentação iminente. Soluções inovadoras estão por aí, e pedimos às empresas que agarrem o touro pelos chifres para evitar o colapso da biodiversidade global”.

Fonte: Igarape Midias

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