Publicado em: 08/11/2024 às 18:00hs
A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos pode provocar mudanças significativas no mercado de commodities agrícolas, especialmente devido à sua abordagem protecionista e ao foco em políticas como o "America First", que privilegiam acordos bilaterais. A soja, um dos principais produtos exportados pelos Estados Unidos, está entre as commodities mais suscetíveis aos impactos de sua política econômica, caso o republicano retorne ao poder com estratégias semelhantes às do seu primeiro mandato.
O analista e consultor da Safras & Mercado, Élcio Bento, acredita que, se as diretrizes adotadas por Trump em seu segundo mandato forem semelhantes às de seu primeiro, certos padrões podem ser esperados. “A guerra comercial com a China durante sua gestão anterior serve como um indicativo de que novos conflitos podem surgir”, comenta Bento. Durante seu governo, Trump renegociou acordos multilaterais, como o NAFTA, e retirou os Estados Unidos do TPP (Trans-Pacific Partnership), além de adotar medidas que impactaram diretamente os mercados agrícolas, como as tarifas sobre produtos importados da China.
Esse cenário resultou em mudanças nas exportações de soja: enquanto os Estados Unidos enfrentaram uma redução nas compras da China, o Brasil viu um aumento nas suas vendas do grão para o gigante asiático. Caso tensões semelhantes se repitam, o Brasil e outros grandes produtores de soja poderão novamente se beneficiar, atendendo à demanda da China, observa o consultor.
As tarifas e sanções aplicadas por Trump visaram proteger a produção nacional, mas também causaram oscilações no mercado global, com quedas nos preços de commodities como soja e milho. "Embora os subsídios concedidos a agricultores tenham ajudado a sustentar a competitividade dos produtos dos EUA, esses incentivos geraram distorções temporárias nos mercados internacionais", explica Bento. Nessa dinâmica, o Brasil poderia se posicionar como a principal alternativa de fornecimento para a China.
Além disso, as políticas republicanas historicamente favorecem um dólar mais fraco, o que torna os produtos americanos mais competitivos no mercado global, pressionando concorrentes como Brasil e Argentina, destaca o analista.
A abordagem assertiva de Trump, com a intensificação de sanções ao Irã e sua postura estratégica em relação a Israel, também pode ter efeitos sobre o mercado de petróleo e derivados, afetando os custos logísticos do setor agrícola. O retorno de Trump poderia ainda resultar em uma resolução rápida do conflito entre Rússia e Ucrânia, o que, segundo Bento, poderia impactar a estabilidade geopolítica e o mercado global de grãos.
Em um contexto de crescente incerteza, a postura combativa de Trump nas negociações comerciais com países como China e Irã tende a gerar um ambiente de volatilidade nos preços das commodities agrícolas, especialmente para grãos expostos ao comércio global, como soja e milho. "Essa instabilidade pode afetar a confiança dos investidores e o planejamento no setor agrícola", prevê o consultor.
Em suma, um segundo mandato de Donald Trump, com políticas semelhantes às do primeiro, pode resultar em reorganizações comerciais e volatilidade nos mercados internacionais, afetando tanto os produtores americanos quanto os mercados globais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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