Soja

Transgênico em carga de soja convencional causa perdas

O problema parece recorrente: ao ser colhida ou transportada, a soja convencional pode se misturar a variedades transgênicas


Publicado em: 31/07/2012 às 11:10hs

Transgênico em carga de soja convencional causa perdas

A solução, um prejuízo para o produtor: em face da contaminação (a nível inferior a 1%), a carga é considerada alterada e perde preço (cerca de 2% sobre o valor comum).

Os testes que identificam a presença da transgenia - aparentemente uma cautela relacionada à saúde pública - são motivados por uma questão de patente, de acordo com especialistas.

Em 2009, quando trabalhava para uma trading, o atual analista de Grãos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleber Noronha, presenciou o teste de uma carga de soja dar positivo.

"Por causa da estrutura de distribuição da propriedade, o produtor colheu um pouco de transgênico em uma colheita que era para ser convencional. Coisa de 2%", conta o especialista.

Se o caso acontecesse nesta semana, considerando que os caminhões que transportam a soja carregam, em média, 37 toneladas, o prejuízo seria de R$ 616 para o agricultor, segundo Noronha.

A diferença de preços entre soja convencional e geneticamente modificada, no Mato Grosso, é de R$ 1,50 a R$ 2 por saca. "É tudo para se manter a cobrança de royalties", afirma o analista do Imea.

A sojicultura mato-grossense, considerada um reduto do grão convencional, em função principalmente do mercado europeu, é composta por 70% de área transgênica, segundo o Imea.

No Brasil, as estimativas acerca do território transgênico variam. O País foi considerado, nos últimos três anos, a "alavanca global" do uso de transgênicos pelo Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês), instituição global que mede a incidência de sementes geneticamente modificadas na agricultura mundial.

Para especialistas, na safra em vigor, a incidência deve crescer.

Perdas e misturas

Para a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange), na safra passada, 28% da área de soja foram plantados com cultivares convencionais, isto é, livres de transgenia, do grão.

Já para a consultoria Céleres, que representa a ISAAA no Brasil, 85,3% das lavouras da oleaginosa estão plantadas com sementes de laboratório.

A ocorrência da mistura entre os dois tipos de variedade, durante a colheita ou o transporte, é a preocupação que a Abrange e a Céleres têm em comum.

O diretor-executivo da Abrange, Ivan Paghi, diz que há muita dificuldade logística em segregar o produto no País, e que 50% da soja convencional se perdem ao longo do processo mercantil.

"Pode acontecer mistura, sim", endossa-o o analista de Biotecnologia da Céleres, Jorge Attie. "É preocupante que isso aconteça, pois o produtor tem que pagar royalties", acrescenta.

Monsanto é que sabe

Quem fornece os testes às tradings são as fabricantes biotecnológicas do mercado da soja, de acordo com Noronha, do Imea. "Monsanto, né", ele resume.

Até o fim do ano, a companhia deve lançar uma variedade, a Intacta RR2 Pro, que impulsionará o espraiamento da transgenia durante as próximas safras, no Brasil. A empresa espera obter autorizações para que se possa exportar a nova tecnologia à China e à União Europeia.

Procurada pela reportagem, ficou de lhe responder.

No País, hoje, existem 33 cultivares de sementes transgênicas. Na safra passada, registrou-se crescimento de 20,9% no território da transgenia, que hoje tem 31,8 milhões de hectares.

Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

◄ Leia outras notícias