Publicado em: 18/01/2012 às 17:10hs
Segundo o Centro de Informações para Grãos e Óleos da China (CNGOIC, na sigla em inglês), as importações de soja do gigante asiático, maior comprador do insumo do país, cairão 16% em janeiro deste ano se comparado a igual mês de 2011.
A retração do consumo de soja terá peso negativo tanto no volume de exportações, quanto no valor das sacas, aumentando o prejuízo do produtor nacional. O complexo soja, que agrega não somente os grãos, mas também o óleo e o produto triturado, perde preço há meses. Só no segundo semestre de 2011, o produto se desvalorizou 15,9% no mercado internacional.
E essa queda é um dos principais fatores que levaram José Augusto de Castro, vicepresidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a reduzir para US$ 3 bilhões a sua projeções para o superávit comercial brasileiro em 2012. Trata-se de estimativa bastante pessimista, já que a média de expectativas coletadas pelo Banco Central na pesquisa para o relatório Focus aponta para saldo comercial positivo de US$ 19 bilhões neste ano. Em 2011, o superávit foi de US$ 29,8 bilhões.
A declaração do CNGOIC foi entendida pelo mercado agrícola internacional como uma consolidação da redução do consumo chinês. Analistas do setor afirmam que os estoques, que já estavam em alta, tendem a aumentar ainda mais — e estoque em alta, com demanda em desaceleração causa queda de preço.
Até novembro de 2011, o Brasil vendeu US$ 10,5 bilhões em soja, 47,8% a mais que em 2010. O insumo é o segundo maior produto exportado para a China, com 4,5% de participação no total vendido para o parceiro asiático — perde apenas para o minério de ferro. “A tendência é de redução de preços. Não digo que sobrará soja no mercado, pois a demanda pelo produto processado está crescendo. Mas os produtores serão forçados a assimilar esse desaquecimento e baixar os preços”, diz Adriano Machado, especialista da consultoria Safras & Mercados.
De acordo com o analista, os agricultores estão segurando parte da produção à espera de valorização da soja, que não deve acontecer. “No mercado internacional os preços estão em baixa há algum tempo e não há perspectiva de melhora. O dólar está em tendência de queda e os estoques estão em alta. Os produtores deveriam antecipar as vendas para não terem de desvalorizar tanto as cargas”, diz.
Luz no fim do túnel Ivan Ramalho, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (Abece), entende que, apesar das perdas com a commodity agrícola, as exportações para a China crescerão 10% em 2012, fundamentadas nas vendas de minério de ferro e petróleo. “Essa alta não será como no ano passado, quando vendemos cerca de 30% a mais que em 2010. Mas, sem dúvidas, esse comércio crescerá de modo satisfatório”, diz Ramalho, exsecretário do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O consumo de matérias-primas metálicas e energéticas pelas indústrias chinesas continuará elevado em 2012, pressionando os preços destas commodities. O minério de ferro, produto mais vendido pelo Brasil, sofre com a desaceleração mundial desde outubro, porém, ainda possui preços atrativos para a indústria nacional e com uma oferta inferior à demanda.
Daniela Maia, da Ativa Corretora, afirma que o consumo de minério de ferro pela China tem garantido os preços acima de US$ 140 por tonelada. “A tendência é que esse desequilíbrio por parte da demanda permaneça, mas isso não é tão certo. Embora os últimos dados sobre a economia chinesa tenham sido bons para o setor, outros vão na direção oposta”, diz Maia.
O preço do insumo, no entanto, não deverá voltar aos patamares vistos no primeiro semestre de 2011, acima de US$ 180 a tonelada. Segundo o Standard Bank, em 2013 e 2014 haverá maiores quedas. O Brasil comercializou, até novembro último, US$ 18 bilhões em minério de ferro, crescimento de 56,3% ante 2010.
Fonte: Brasil Econômico
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