Soja

Chuva não alivia perdas em lavouras com soja no RS

A falta de chuvas e as altas temperaturas registradas no Rio Grande do Sul, na semana passada, preocupam os produtores de soja


Publicado em: 23/02/2012 às 18:10hs

Chuva não alivia perdas em lavouras com soja no RS

Com as chuvas dos últimos dias, regiões características da cultura avaliam a possibilidade de recuperação de grãos, que já apresentam perdas consolidadas superiores a 40% em todo o Estado, e não acreditam em grandes alterações no cenário de projeção dos prejuízos da estiagem.

Conforme o relatório da Emater-RS, com base na primeira quinzena de fevereiro, a morte prematura da planta tem forçado o processo de maturação das sementes. Com isso, ao invés de amarelarem, são colhidas ainda verdes, com altos índices de clorofila, o que afeta o potencial de vigor, a germinação e o rendimento industrial na obtenção de óleo.

Em Santa Rosa, uma das principais produtoras de soja, o gerente regional da Emater-RS, Amauri da Silva Coracini, afirma que as chuvas continuam irregulares e pouco colaboraram para mudar o quadro de seca. As perdas ultrapassam os 53%, nos 653 mil hectares destinados à cultura no Noroestes do Estado, um prejuízo já estimado em mais de R$ 536 milhões na região.

De acordo com Coracini, a permanência das condições de estiagem podem elevar os danos para 60% da área plantada. Ele alega que 100% das plantas estão em fase de floração ou enchimento de grãos e a previsão é de que a semeadura se inicie no final de março. Além disso, algumas variedades precoces ou superprecoces tiveram o ciclo acelerado e a colheita foi antecipada com danos irreversíveis para a qualidade dos grãos.

Uma amostra coletada em Ijuí, analisada na Unidade de Classificação da Emater na semana passada, apresentou resultados preocupantes. Do total, foram constatados 15% de umidade, 35% de grãos verdes, 5% de grãos chochos e imaturos e 4,5% de grãos danificados. Com isso, de acordo com o relatório da entidade, além de uma redução considerável em termos de produção, os agricultores enfrentarão problemas para comercializar o pouco que conseguirem colher.

“Ainda não temos uma avaliação precisa das últimas chuvas na região, mas é sabido que foram muito irregulares e que não devem mudar o cenário da baixa qualidade e das perdas que já ultrapassam os 50% na variedade precoce e devem atingir os 60% com a permanência das condições de estiagem”, revela o gerente regional de Santa Rosa.

No escritório da Emater em Bagé, responsável por 16 munícipios, o assistente-técnico Erich Groeger, explica que o excesso de calor afeta a floração. “A estiagem atrasou a cultura e reduziu o desenvolvimento. Com o aumento das incidências de chuva estamos acompanhando a recuperação das lavouras. O panorama do campo mudou e a soja possui grande potencial de recuperação, justamente, por dividir a floração”, analisa.

Mesmo com uma média de cerca de 200 mm em fevereiro, Groeger é cauteloso quanto à possibilidade de recuperação das perdas. Segundo ele, médias pluviométricas inferiores a 40 mm registradas ao longo do mês de janeiro na maior parte da região, determinam danos irreversíveis em pelo menos 30% da área plantada na região.
Prejuízos devem superar a quebra histórica de 2005

Acompanhado de perto o desenvolvimento das lavouras de soja em diversas regiões do Estado, o engenheiro-agrônomo e gestor-técnico da Cooplantio, Dirceu Gassen, vê com pessimismo as perspectivas de safra em 2012. Segundo ele, os prejuízos devem superar os índices históricos de 2005, quando a cultura registrou perdas de mais de 5 milhões de toneladas de grãos e média inferior a 790 kg por hectare.

Ele explica que a floração é de quatro semanas, em um ciclo com duração de 120 dias. Este período, considerado crucial para o desenvolvimento do grão, aconteceu no auge da estiagem para as variedades precoces e também para as plantações tardias. Na atual fase, as plantas apresentam demanda hídrica bastante elevada e o cálculo, conforme Gassen, é de 7 mm diários. Por isso, a cada dia os prejuízos tendem a aumentar. Na visão do técnico, mesmo que chovesse de maneira generalizada, com índices superiores a 40 mm em todo o Estado nesta semana, não seria possível salvar a maior parte da produção. “A situação é gravíssima e as perdas serão muito maiores do que se tem projetado até aqui. Em uma avalição preliminar, se constata que serão muito mais prejudiciais do que as registradas em 2005”, revela. No entanto, Gassen ressalta que atualmente a área total de plantio no Rio Grande do Sul é 15% maior do que há seis anos e os investimentos em genética tornaram as planta mais resistentes. Ainda assim, ele acredita que a média de colheita deve ficar muito abaixo do verdadeiro potencial, inferior a 600 kg por hectare.

Fonte: Jornal do Comércio

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