Soja

Alta da soja entusiasma, mas não faz produtor tirar as botinas do chão

Especialistas debateram em São Gabriel do Oeste a alta do mercado do grão


Publicado em: 14/09/2012 às 20:00hs

Alta da soja entusiasma, mas não faz produtor tirar as botinas do chão

A alta do preço da soja que está batendo todos os recordes nos mercados nacional e internacional está entusiasmando os produtores, mas em razão das más experiências acumuladas nos últimos anos com quebras de safras e preços baixos, não é suficiente para que eles tirem as botinas do chão e se endividem para aumentar a produção no próximo ciclo. O momento para os agricultores é de capitalização.

Esse foi o tom das análises dos especialistas que participaram do Fórum Soja Brasil - "Os riscos e consequências do mercado em alta", promovido na tarde da quinta-feira (13), em São Gabriel do Oeste, no Norte de Mato Grosso do Sul. O evento foi realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e Canal Rural, com apoio das unidades do Senar em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, e ainda coordenação técnica da Embrapa.

Segundo Flávio França Júnior, economista e diretor de Produtos da Safras & Mercado, que foi um dos debatedores do evento, a elevação do preço da soja em 2012 é uma alta "fundamentalista", balizada pela grande demanda e baixa oferta do grão. "Não é uma alta especulativa. Os estoques mundiais vinham muito baixos em razão das quebras de safras nos Estados Unidos no ano passado, neste ano na América do Sul e da nova redução de produção norte-americana", explica.

França Júnior diz que em razão deste cenário, serão necessárias no mínimo duas ou até três safras "cheias" [com grande produção] para que os estoques mundiais de soja sejam recompostos e a demanda, que está racionada, em decorrência dos altos preços, volte ao normal. Ele comenta que com quase 50% da safra futura já comercializada, os produtores brasileiros, se o clima não atrapalhar o desenvolvimento das lavouras, já têm bons resultados acumulados porque fecharam negócios com o patamar de preços em alta.

"O produtor, entretanto, tem de entender que preço não cria raiz. Saca de soja sendo vendida entre R$ 70 e R$ 80 não é real. Não tem como se planejar tomando esses valores como patamar", alerta, completando que a alta está trazendo reflexos muito negativos para outras segmentos do agronegócio que dependem do produto, como os produtores de suínos e aves, que utilizam ração feita a partir de farelo de soja para alimentar os animais. "A situação já está muito complicada. O valor do farelo teve um aumento de 100% em relação ao ano passado. Se os criadores não repassarem o aumento não vão ter como se manter na atividade", alerta.

Outro debatedor, Liones Severo Correa, gerente comercial da Chinatex, uma das principais players chinesas na aquisição de grãos, aponta que a demanda do país asiático pela oleaginosa deve continuar firme. "A soja hoje é a principal base proteica mundial. Seu uso vai desde a produção de alimentos até a fabricação de farelo para a engorda de animais. A China demanda muito o grão, tanto que compra 60% da soja mundial. Isso ocorre porque o país concentra 23% da população mundial e essas pessoas precisam ser alimentadas. Para isso, os chineses têm, por exemplo, o maior plantel de suínos do mundo e consomem 17 milhões de toneladas de carne de frango e oito milhões de toneladas de carne bovina", revela.

Correa diz, entretanto, que apesar de elevada demanda pelo produto primário, a soja em grãos do Brasil, dificilmente o País conseguirá agregar valor ao produto antes de vendê-lo aos chineses. "Temos o chamado custo Brasil, que encarece e tira a competitividade dos nossos produtos. Para os chineses é muito mais barato, em razão da mão de obra e dos impostos, comprar a soja e produzir ração lá para os seus rebanhos do que comprar o farelo ou a ração brasileira. A esse problema econômico se soma ainda a dificuldade logística. Faltariam navios e contêineres para levar essa mercadoria até lá", conclui.

Potencial e profissiona
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O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, que também participou do Fórum Soja Brasil, apontou que em razão dos problemas que enfrentou nos últimos anos que o agricultor brasileiro se profissionalizou e se preparou melhor para lutar com as adversidades e também encarar de forma objetiva os momentos que se apresentam como grandes oportunidades.

"Não queremos que o produtor deixe de montar no cavalo encilhado, mas que ele monte do lado correto da sela, para não cair depois. A atividade não telara mais amadorismo, aventuras de pessoas de outras atividades que querem aproveitar a onda de preços altos para plantar soja. O produtor rural hoje não é mais amador, é profissional. Ele não pode se endividar para aumentar sua produção. Tem de se capitalizar. Investir em tecnologia. Este, aliás, é o momento oportuno para o País investir em infraestrutura, melhorar sua logística para que tenhamos condições de escoar nossa produção", analisa.

Já o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, ressalta que está deve ser a década da soja, com grande incremento de produção no País e nos Estados Unidos e Argentina, entre outros. Ele disse que o Brasil tem potencial para se transformar no maior produtor de grãos do mundo, mas que para isso precisa de mais segurança institucional, com a implantação, por exemplo, de um seguro para a produção e de melhorias na logística.

"Voltamos de uma visita que fizemos aos produtores norte-americanos que tiveram uma grande quebra de safra em razão da seca e a maioria deles não está preocupada com a situação, porque eles têm um seguro agrícola que vai cobrir os prejuízos. Outros, que não tinham seguros disseram que assimilariam os prejuízos com as 'gorduras' que tinham acumulados com bons resultados de safras anteriores, ou seja, eles estavam capitalizados. Por isso, nossos produtores têm de aproveitar esse bom momento da soja, com preços altos, para se capitalizarem em vez de se endividarem para aumentar a produção", recomenda.

O repórter da Agência Estado, Venilson Ferreira, diz que a percepção de mercado é que apesar da alta no mercado, os produtores de soja estão cautelosos em relação ao próximo ciclo.

A próxima etapa do Fórum Soja Brasil será realizada no dia 24 de março, em Sorriso, Mato Grosso, durante a abertura oficial da safra 2012/2013.

Fonte: Agrodebate

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