Essa seleção é a base para um efetivo e bem sucedido plano de plantio. O máximo potencial produtivo (teto produtivo) de cada cultivar é determinado geneticamente, mas somente é alcançado quando as condições ambientais e de manejo são perfeitas. Infelizmente isso raramente ocorre na prática. Não é incomum, no entanto, uma cultivar superar outra na mesma lavoura por 400 a 600 kg/ha. Por isso, escolher a cultivar correta pode ajudar a assegurar sucesso e lucro para a próxima safra.

Centenas de cultivares de soja estão disponíveis aos produtores localizados na região dos Cerrados atualmente. Isso pode fazer dessa seleção um grande e trabalhoso desafio. Comparando com as opções existentes há dez anos atrás, há cultivares altamente produtivas com maior resistência a pragas e doenças, com características especiais. Há ainda as resistentes a herbicidas não seletivos. As empresas obtentoras de cultivares de soja e as empresas produtoras de sementes normalmente têm, em seus sites e catálogos de produtos, informações sobre o histórico de performance das suas cultivares.

É interessante observar que a escolha da cultivar é mais que tudo um fator de controle do risco. E a administração desse fator tem adquirido maior importância, pois os custos de produção estão muito altos. Algumas cultivares são liberadas para o mercado sem uma quantidade significativa de informações sobre seu histórico de desempenho. Solicitar provas de produtividade e desempenho agronômico aos vendedores de sementes, antes de realizar a compra, pode minimizar o risco de plantar novas cultivares. Se tais dados não estão disponíveis, é recomendado que se adote uma atitude cautelosa ou plante somente uma pequena área com a nova cultivar.

Selecionar uma cultivar que tem sido altamente produtiva e estável ao longo de vários anos e em múltiplos locais proporciona uma boa indicação de sua performance e estabilidade, minimizando o risco de uma falha. Se esses dados não estão disponíveis, os produtores devem procurar por informações de experimentos independentes e com muitas repetições. Dados combinados de muitos locais são mais confiáveis do que aqueles de experimentos localizados. Uma cultivar com performance estável em vários locais na mesma região tem maior probabilidade de se comportar bem em uma dada fazenda nessa mesma região.

Sementes de alta qualidade são importantes para alcançar o potencial genético (teto produtivo) de uma cultivar. Elas têm alta pureza genética, alta germinação, tamanho uniforme, não contêm sementes de ervas daninhas ou de outras espécies, seu tegumento não está danificado, além de apresentarem ausência de sintomas de doenças ou descoloração provocada por fungos e vírus. As sementes certificadas irão atender estes requisitos. Na seleção de cultivares, as características varietais devem ser consideradas na seguinte seqüência: i) produtividade e estabilidade, ii) resistência a doenças, iii) grupo de maturação, iv) composição do grão e v) altura e acamamento.

É importante ter em mente como as interações ambiente-patógeno-hospedeiro podem interferir na performance de uma dada cultivar. Por isso, o plantio de cultivares com resistência às principais doenças é uma forma efetiva e econômica de controle desses problemas. Muitas opções têm boa resistência ou tolerância à maioria das principais doenças que ocorrem na região dos Cerrados, como ao nematóide do cisto da soja, síndrome da morte súbita, cancro da haste e podridão de Phytophthora. O potencial agronômico de cultivares de alta performance deve considerar o histórico de doenças dentro da fazenda e das suas respectivas glebas.

Outra preocupação que o produtor deve levar em conta é o ciclo das plantas. A maioria das cultivares plantadas na região dos Cerrados é de ciclo médio, havendo uma tendência de plantio de precoces nas regiões onde há condições climáticas para o plantio de safrinha. Entretanto, a combinação de vários grupos de maturação (que classificam as plantas a partir do tempo decorrido entre o florescimento e a colheita) é uma estratégia para escalonar a colheita e as operações de manejo da cultura. O plantio de sojas de diferentes ciclos pode ajudar aos produtores minimizarem o risco de um veranico por diversificar as fases de florescimento, enchimento de grãos e maturidade fisiológica.

Na hora de selecionar a cultivar, é importante também que o produtor se informe sobre os prêmios oferecidos por grãos com características diferenciadas. Esses valores podem significar uma diferença de preço interessante. Algumas empresas compradoras oferecem melhores preços pelos grãos de soja com níveis elevados de óleo, proteína e aminoácidos. As empresas que têm condição de segregar os grãos que recebe entre convencionais e transgênicos conseguem auferir prêmios pelos convencionais nos mercados e repassam esses prêmios aos produtores.

A escolha da variedade deve considerar também a altura que ela adquire ao ser plantada em determinada época, em dada região, sob determinada população de plantas. Esses últimos fatores devem ser ajustados de acordo com o conhecimento da altura da planta. Plantas altas são geralmente mais susceptíveis ao acamamento. Dependendo da severidade, o acamamento reduz a produtividade e torna a colheita mais difícil. Por sua vez, se a planta for excessivamente baixa tende a perder grãos durante a colheita, pois os grãos que estão localizados na parte inferior da planta não são alcançados pela barra de corte da colheitadeira.

Diante de tantas questões a serem avaliadas, a dúvida permanece: então qual a melhor cultivar a plantar? Geralmente, a ênfase é sobre a produtividade e estabilidade. Após isso, a resposta é definida com base nas informações sobre cada lavoura e seu histórico de pragas e doenças, que determinam as necessidades específicas da área. Tomar notas sobre a incidência e severidade de doenças é uma boa fonte de informações úteis para futuras seleções de cultivares. Despender tempo e esforço na seleção da cultivar correta é um bom investimento e assegura a máxima produtividade e lucro.

Sebastião Pedro da Silva Neto e Claudete Teixeira Moreira Engenheiros agrônomos, pesquisadores da Embrapa Cerrados.

Sérgio Abud da Silva Biólogo da Embrapa Cerrados