Pragas e Doenças

Mudanças Climáticas Aumentam o Risco de Doenças em Lavouras, Aponta Estudo da Embrapa

Pesquisadores alertam que 46% das doenças agrícolas poderão se tornar mais severas até 2100, exigindo novas estratégias para proteger a produção agrícola brasileira


Publicado em: 23/04/2025 às 14:00hs

Mudanças Climáticas Aumentam o Risco de Doenças em Lavouras, Aponta Estudo da Embrapa
Foto: Flávio Martins Santana

As mudanças climáticas trazem sérios riscos para a agricultura brasileira, com doenças de plantas mais intensas e difíceis de controlar. Um estudo realizado pela Embrapa revela que 46% das doenças agrícolas no Brasil devem se tornar mais severas até o ano de 2100, afetando culturas fundamentais como arroz, milho, soja, café, cana-de-açúcar, hortaliças e frutas. As elevações de temperatura e as alterações no regime de chuvas favorecem o desenvolvimento de fungos, vírus e insetos vetores, exigindo uma revisão dos sistemas de monitoramento e controle fitossanitário no País.

Aumento de Temperaturas Potencializa Doenças Fúngicas

O estudo, que analisou 304 patossistemas relacionados a 32 das principais culturas agrícolas brasileiras, indica que os fungos são os patógenos mais prevalentes, responsáveis por cerca de 80% dos casos avaliados. O aumento da temperatura média, que pode superar os 4,5°C em algumas regiões do Brasil até o final do século, cria condições ideais para o agravamento de doenças causadas por fungos, como a antracnose e o oídio. Além disso, as variações nas chuvas, com períodos secos ou excessivamente úmidos, também contribuem para a disseminação de doenças.

Francislene Angelotti, pesquisadora da Embrapa Semiárido (PE), destaca que prever o impacto das doenças no cenário das mudanças climáticas é um desafio complexo. Ela enfatiza a necessidade de contínuas pesquisas e novas estratégias de adaptação para enfrentar esses desafios. "É fundamental investir em inovações para fortalecer os sistemas fitossanitários do País", ressalta.

Expansão de Vetores e Desafios no Controle Fitossanitário

Outro ponto de preocupação é o aumento das doenças transmitidas por vetores, como pulgões, cochonilhas, moscas-brancas e ácaros. Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), explica que o calor acelera o ciclo de vida desses insetos e aumenta sua longevidade, o que resulta em populações maiores e mais ativas ao longo do ano. Isso representa um risco elevado para culturas como batata, banana, tomate, citros e milho, que já são afetadas por essas pragas.

Além disso, as mudanças climáticas podem comprometer a eficácia dos defensivos agrícolas, exigindo ajustes nas estratégias de controle fitossanitário. Alterações na dinâmica dos fungicidas, como a forma de absorção e degradação nas plantas, podem tornar o uso de produtos químicos menos eficiente, aumentando custos e riscos ambientais.

O Brasil na Vanguarda do Biocontrole

O Brasil é líder mundial na produção e consumo de biopesticidas, com a maior área agrícola sob controle biológico. Contudo, os especialistas alertam que o País precisa acelerar a adaptação desses agentes biológicos às novas condições climáticas. Bettiol sugere o desenvolvimento urgente de bioherbicidas e produtos que aumentem a eficiência no uso de nitrogênio e reduzam o estresse abiótico nas plantas, além de melhorar as soluções biológicas para o controle de doenças estratégicas, como a ferrugem asiática da soja e a ferrugem do cafeeiro.

Ação Integrada para Enfrentar os Desafios

O estudo recomenda uma série de medidas coordenadas para proteger a agricultura nacional, incluindo a diversificação dos sistemas de cultivo, a integração de tecnologias de manejo, o uso de agentes biológicos e a implementação de modelos de previsão e alerta para epidemias. Para Angelotti, o enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas depende de políticas públicas eficazes e de um esforço conjunto entre agricultores, cientistas e governos para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor agrícola.

Risco Fitossanitário: Desafio para a Diversidade Agrícola do Brasil

Com um vasto território e uma grande diversidade de climas e culturas, o Brasil apresenta desafios únicos para o monitoramento de doenças fitossanitárias. Emília Hamada, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, salienta a importância de realizar avaliações regionais para identificar a vulnerabilidade das culturas a doenças em um cenário de mudanças climáticas. "As projeções indicam aumentos significativos de temperatura e alterações no regime de chuvas, que podem agravar os riscos de doenças fúngicas em várias regiões do País", aponta Hamada.

A pesquisadora reforça a necessidade de mais avanços científicos para mitigar os impactos dessas mudanças e prevenir danos econômicos e ambientais às lavouras brasileiras.

Caminhos para a Adaptação: Ciência e Planejamento

O estudo da Embrapa conclui que, se nada for feito, os prejuízos econômicos e ambientais causados pelas mudanças climáticas podem ser severos. No entanto, com planejamento estratégico, inovação e ações coordenadas, o Brasil tem a oportunidade de modernizar seu sistema de defesa vegetal e transformar esse desafio em um impulso para a agricultura sustentável e resiliente.

Veja a íntegra do estudo

Fonte: Portal do Agronegócio

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