Pragas e Doenças

Mistura de porco com javali tira o sono dos agricultores de Itambé

Na lista das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo, os javaporcos podem levar produtores de milho da região de Maringá a desistir da atividade


Publicado em: 05/07/2012 às 16:20hs

Mistura de porco com javali tira o sono dos agricultores de Itambé

Armadilhas, cachorros e até vigilantes noturnos têm sido as armas empregadas por produtores rurais da região de Itambé (a 32 quilômetros de Maringá) para evitar os ataques de javaporcos aos milharais, mas a cada dia estas medidas mostram-se menos eficazes e os prejuízos aumentam a cada safra. Na safra que começa a ser colhida nas próximas semanas os prejuízos podem chegar a 10% em algumas propriedades, porcentual que se aproxima do lucro que era esperado pelos produtores.

A legislação ambiental brasileira não permite o abate de javaporcos, mas no Estado de São Paulo alguns municípios obtiveram autorização temporária da Justiça para caçar os animais, porém no Paraná nunca foi autorizado este tipo de matança. Por meio dos sindicatos rurais e cooperativas, os produtores de Itambé pedem que seja autorizado o abate dos bichos para, pelo menos, reduzir a população de javaporcos na região. Isto porque a quantidade de animais praticamente dobra a cada ano.

Os javaporcos, resultado do cruzamento de javali com porco doméstico, são um problema relativamente novo para os produtores rurais brasileiros. Na década de 90, javalis foram importados da Europa para a criação em cativeiro no Uruguai para a produção de uma carne exótica para o mercado sul-americano, porém vários animais fugiram, embrenharam-se nas matas e acabaram cruzando com porcos domésticos, surgindo aí o javaporco. Os primeiros ataques a lavouras foram observados no Rio Grande do Sul, mas nos últimos anos os animais chegaram a vários Estados.

Em Itambé não se trata da chegada dos animais vindos do Sul, mas de uma tentativa de criação de javalis feita por um produtor rural há pouco mais de 12 anos. Também ali houve destruição de chiqueiros e os animais europeus se aproximaram de criações de porcos e se acasalaram. Alguns produtores ainda tentaram prender e criar o animal mestiço, mas com índole selvagem, acabava fugindo para viver nas matas como javalis.

Os primeiros ataques aos milharais de Itambé aconteceram há 10 anos e na época eram poucos os javaporcos. Mas, segundo os produtores, a impressão é que o número de animais dobra a cada ano e hoje já são centenas e estão se espalhando, começando ataques também em municípios como Floresta, São Pedro do Ivaí, São João do Ivaí e na região central do Estado.

“As fêmeas têm períodos de gestação de cerca de quatro meses e em cada ninhada podem gerar até mais de 10 filhotes”, diz o agrônomo Daniel Cláudio Grigolo, da Cocari Cooperativa Agropecuária e Industrial, que tem sede em Mandaguari e entreposto em Itambé. Por isso, segundo ele, a população de javaporcos vem aumentando com tanto rapidez. De acordo com o agrônomo, se não forem tomadas providências logo, o problema pode ser grave no futuro.

Para o agrônomo, o perigo do javaporco não se resume ao milho que destrói, principalmente porque, com o aumento da quantidade de animais, logo eles passarão a atacar outras culturais, em outras épocas do ano. Segundo ele, os javaporcos podem representar perigo para a produção suína por serem reservatórios das mesmas doenças dos porcos domésticos e assim o comércio internacional de carne de porco pode ser prejudicado pelo elevado risco de transmissão de doenças, causando conflitos com os padrões internacionais de sanidade animal. Já está provado que os javaporcos podem transmitir doenças como febre aftosa, raiva e lectospirose.

Só o abate resolve


Os irmãos Élio e Ivan Ramos, tradicionais produtores de soja e milho de Itambé, foram os primeiros a viver o problema, que agora é de todos seus vizinhos. Segundo eles, a lavoura de milho safrinha deste ano já teve cerca de 10% destruídos pelos animais. Como o milho ainda não chegou ao ponto de ser colhido e os ataques continuam, eles temem que o prejuízo continue aumentando.

Segundo Élio, o prejuízo está nos pés de milho danificados, mais horas extras pagas a funcionários que os acompanham no processo de espantar os animais em horário noturno, o preferido para destruição das lavouras.

Produtores como Valdecir Brambilla, Luiz Balan e os irmãos Ramos, que faziam rotação de culturas durante o ano, já abdicaram do sistema, cujo planejamento incluía a inserção de uma área de milho no verão, método aconselhável para manter a fertilidade do solo. “No inverno, em todas as propriedades há milho safrinha e assim os ataques são disseminados, mas na safra de verão são poucos os produtores que plantam milho, o que significa que com a concentração menor da cultura esses milharais serão o alimento procurado pelos javaporcos”, diz Ramos.

Além de ter gente para espantar os animais, os Ramos, Brambilla, Balan e outros produtores já tentaram armadilhas, que não deram certo, e agora estão formando canis, mas eles próprios dizem não acreditar que isso possa ser solução. Segundo Élio Ramos, um javaporco chega a pesar mais de 300 quilos e é extremamente violento. Neste ano um cachorro grande foi morto pelos animais ao tentar espantá-los.

Por meio do Sindicato Rural de Maringá, a que estão filiados, os produtores de Itambé estão tentando obter autorização da Justiça para iniciarem a caça aos animais. “Há muita comida nesta região e eles não têm predador natural. Se não forem abatidos vão chegar a uma quantidade que inviabilizará a atividade agrícola na região”, diz Élio Ramos.

Fonte: odiario.com

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