Pragas e Doenças

Mal manejada, virose faz estrago na principal região produtora do País

Avanço de doença em ritmo acelerado sobre as lavouras do ES e da BA preocupa e, este ano, já deve comprometer um quarto da produção regional


Publicado em: 01/08/2012 às 15:30hs

Mal manejada, virose faz estrago na principal região produtora do País

O processo tem sido rápido e é perigoso. Historicamente, o nível de infestação do mosaico ou mancha anelar do mamoeiro nas lavouras de papaya no norte do Espírito Santo e sul da Bahia, em média, sempre flutuou dentro entre 2 e 5% ao final do ciclo. Em 2012, no entanto, subiu para 25%. E pelas leis de defesa vegetal do Brasil, pé contaminado é pé derrubado. Em outras palavras, do ano passado para cá, a produção da região pode ser reduzida em um quarto.

Sozinha, a região responde por 80% da produção brasileira de mamão. Em 2011, essa produção gerou uma receita de quase US$ 30 milhões. Os números dão a dimensão do impacto sobre a fruticultura e o próprio agronegócio nacional, já que também estamos falando da principal região exportadora da fruta no País. A intensidade com que o vírus causador da doença tem atacado as lavouras cresce proporcionalmente ao descuido no diagnóstico e controle da doença por parte de produtores.

Como não existe controle químico ou biológico para o vírus, a alternativa é o manejo preventivo, que consiste na erradicação — o chamado roguing — das plantas em que a doença seja identificada. Até ano passado, a técnica de controle tinha feito da região um exemplo mundial bem-sucedido de convívio com o mosaico.

Segundo José Roberto Fontes, fitotecnista e diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), a técnica de manejo continua eficiente, não houve mudanças no padrão de comportamento do vírus ou do pulgão (vetor da doença), o clima não contribuiu o aumento da doença. A razão para o descontrole da doença está mesmo no descuido com relação o roguing por parte de alguns agricultores.

“Há indícios de que alguns produtores não estão realizando o corte das plantas doentes logo quando o diagnóstico é feito. Cada semana que se deixa uma planta contaminada em campo mais aumenta disseminação da virose”, explica ele.

Legislação

O mosaico faz o mamão perder o brix, interferindo no sabor e, num estágio mais avançado, surgem manchas esverdeadas no fruto, que também depreciam o valor do fruto no mercado. Sob o ponto de vista agronômico, a alta infestação da doença pode comprometer completamente a produção.

A ocorrência pode ser identificada nas folhas mais jovens com o surgimento de manchas amareladas e irregulares (daí o nome mosaico) e uma mancha oleosa no pecíolo da folha. São os sintomas característicos do início do ataque do vírus.

Existem portarias federais e estaduais, tanto no Espírito Santo como na Bahia, que doutrinam a condução da lavoura nessa obrigatoriedade de corte das plantas com virose logo que surgem tais sintomas. A legislação estadual dá direito ao fiscal do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) e Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) de inspecionar as lavouras, caso detecte a presença de plantas doentes, pode determinar o corte compulsório através de mandado via ministério público. Se o produtor resistir, a força policial pode ser usada.

“Não se trata apenas de uma orientação técnica. É uma questão de defesa vegetal. Inclusive, o cumprimento dessa legislação é uma das exigências que atendemos para exportar para o mercado norte-americano”, ressalta.

Inviabilidade

Persistindo os elevados índices de virose nas lavouras locais, a tendência é que a cultura do mamão se torne rapidamente inviável na região, inclusive com contaminação das mudas, o que obrigatoriamente, forçaria o produtor a cortar toda a sua lavoura.

“Todos os produtores de uma mesma região devem fazer o roguing. Não adianta apenas um fazer, porque o pulgão circula entre todas as propriedades levando o vírus. O que faz, sem o vizinho ter feito, tem prejuízo da mesma forma. Alçando voo e pegando correntes de ar, o pulgão pode voar por até 20 quilômetros”, observa Fontes.

Para contornar o problema, a Brapex e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), estão oferecendo para os fruticultores cursos de capacitação a fim de que possam identificar a virose logo que apareça.

Preço aquecido

Outra razão para que alguns produtores optem por não fazer o roguing pode estar no valor do produto. O mamão vinha de um período de preços baixos no mercado. No último ano, porém, o preço subiu. A cotação pode ter feito com que produtores menos informados imaginassem que mantendo o mamoeiro doente por mais tempo poderiam aumentar a sua produção. O caminho é a intensificação dos cursos e das fiscalizações para sanar o problema.

Mais informações sobre a doença podem ser obtidas no site da Embrapa Mandioca e Fruticultura: www.cnpmf.embrapa.br ou na Brapex, através do telefone 27 3264-0477.

Fonte: Marcelo Pimentel/Portal Dia de Campo

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