Publicado em: 30/07/2009 às 17:00hs
A soja é uma das principais leguminosas de importância econômica e social para o estado de Roraima. Na safra de 2006 foram plantados 6.900 ha dessa leguminosa totalizando 19.458 toneladas de grãos, com uma produtividade média de 2.820 kg/ha. A produtividade da cultura poderia ser maior se não fosse o ataque das pragas. Diversos insetos-praga ocorrem durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura da soja.
Com o objetivo de reduzir os danos causados por esses insetos medidas de controle normalmente são adotadas. Não se recomenda, porém, que o controle das pragas seja realizado sem um critério técnico. Recomenda-se que a tomada de decisão pelo controle seja baseada no monitoramento populacional das pragas ao longo do ciclo da cultura. Para essa tomada de decisão alguns aspectos precisam ser considerados: nível de ataque da praga, número e tamanho dos insetos, estádio de desenvolvimento da cultura e o objetivo final da produção (grãos ou sementes). Outro aspecto importante a ser considerado é a ocorrência e a eficiência dos inimigos naturais que realizam o controle biológico dos insetos-praga.
São escassas as informações a respeito da dinâmica das pragas e de seus inimigos naturais na cultura da soja no estado de Roraima e, por isso, esse trabalho objetivou realizar o monitoramento de insetos-praga e o levantamento de seus inimigos naturais em lavouras de soja em Roraima.
O monitoramento dos insetos-praga e de seus inimigos naturais foi realizado nos campos experimentais da Embrapa Roraima, Água Boa e Monte Cristo, numa área de 600 m2 em cada campo, ambos em área de Cerrado, no município de Boa Vista, durante os meses de junho (estádio V2) a setembro (estádio R8), na cultivar Tracajá, em plantio realizado em maio de 2006.
Durante o estudo as áreas experimentais não receberam nenhuma aplicação de inseticida. Os insetos foram coletados semanalmente, utilizando-se o pano de batida, totalizando 10 batidas de pano por semana, em cada área.
No caso das lagartas o pano de batida foi colocado entre duas fileiras de soja. Nessas fileiras as plantas foram sacudidas sobre a área do pano para posterior contagem das lagartas (maiores que 1,5 cm de comprimento). No caso dos percevejos, contabilizados os que apresentaram mais de 0,5 de comprimento, o pano foi colocado de tal forma a amostrar as pragas em apenas uma fileira.
No levantamento dos inimigos naturais, ovos dos percevejos fitófagos foram coletados nas áreas experimentais, colocados em potes de plástico, transparentes e telados, forrados com papel filtro umedecido e mantidos em câmara climatizada a 25°C até a emergência dos parasitóides. Após a emergência, esses insetos foram acondicionados em álcool 70%.
As larvas mortas de lepidópteros desfolhadores, apresentando sinais de infecção fúngica, foram coletadas em campo e encaminhadas para taxonomista para identificação do fungo entomopatogênico.
As aranhas foram coletadas utilizando-se o pano de batida e acondicionadas em álcool 70%. Essas predadoras e os parasitóides foram enviados para taxonomistas para identificação.
As principais lagartas desfolhadoras observadas, Anticarsia gemmatalis e Pseudoplusia includens, apresentaram seus picos populacionais na fase vegetativa da cultura, nas duas áreas avaliadas. Ressalta-se, porém, que a maior média de larvas coletadas das duas espécies juntas alcançou 3,9 lagartas/amostragem, média muito inferior ao nível de controle estabelecido que é de 40 lagartas/batida de pano.
Os principais percevejos fitófagos observados, Euschistus heros, Nezara viridula e Piezodorus guildinii, apresentaram seus picos populacionais na fase reprodutiva da cultura, nas duas áreas avaliadas. Somente no campo experimental Água Boa o número médio de percevejos/amostragem ultrapassou o nível de controle estabelecido que é de 2 percevejos/batida de pano, considerando uma lavoura destinada à produção de grãos. Caso a área avaliada fosse uma lavoura comercial, medidas de controle deveriam ser adotadas.
Os principais predadores dos insetos-praga observados, as aranhas, foram: Cheiracanthium inclusum, Argiope argentata, Oxyopes salticus, Misumenops sp. e Eustala sp.
Os principais parasitóides de ovos de percevejos fitófagos identificados foram: Ooencyrtus submentallicus, Telenomus sp. e Neorileya sp. As taxas de parasitismo dos ovos observadas chegaram a alcançar 90%.
O principal fungo entomopatogênico identificado infectando larvas de Anticarsia gemmatalis foi Nomuraea rileyi.
De maneira geral os níveis populacionais dos insetos-praga nos dois campos avaliados foram baixos. Somente em uma das áreas e considerando os percevejos fitófagos seria necessária a adoção de medidas de controle. Visto que não houve aplicação de inseticidas durante a condução dos experimentos, pode-se inferir que houve uma atuação muito eficiente dos agentes de controle biológico dos insetos-praga, que contribuíram para a manutenção dos baixos níveis populacionais das pragas durante todo o desenvolvimento da cultura.
Os resultados desta pesquisa, embora obtidos de áreas experimentais, indicam que a realização do monitoramento dos insetos-praga, ao longo do ciclo da cultura, pode auxiliar na tomada de decisão pelo controle e, consequentemente, pode contribuir para a redução: do número de aplicações de inseticidas (beneficiando a preservação dos inimigos naturais), dos custos de produção e das contaminações (ambiental, humana e dos alimentos); além de reduzir o uso dos derivados de petróleo que contribuem para o aquecimento global.
Alberto Luiz Marsaro Júnior, Pesquisador em Entomologia, Embrapa Roraima
Fonte: Embrapa Roraima
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