Publicado em: 28/11/2024 às 09:00hs
Durante a 29ª Conferência das Partes (COP 29), em Baku, no Azerbaijão, um estudo recente publicado na Frontiers in Sustainable Food Systems destaca o potencial da América para compensar parte das emissões de gases de efeito estufa por meio da adoção de práticas sustentáveis de manejo agropecuário. Essas práticas não apenas restauram a saúde do solo, mas também promovem o sequestro de carbono, um processo crucial para a mitigação das mudanças climáticas.
O solo, considerado um recurso essencial para a vida, desempenha um papel fundamental na produção de alimentos, purificação da água, promoção da biodiversidade, neutralização de poluentes e regulação do clima. Este último ocorre principalmente por meio do sequestro de carbono, onde as plantas removem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e o fixam no solo por meio da decomposição de resíduos orgânicos. Em sistemas naturais, a dinâmica de carbono é equilibrada, mas práticas agrícolas frequentemente alteram essa dinâmica, impactando a capacidade de armazenamento de carbono.
O estudo, intitulado “Carbon Farming in the Living Soils of Americas”, foi desenvolvido por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA) e da Ohio State University (OSU). O trabalho, baseado em uma ampla revisão da literatura sobre o impacto das boas práticas de manejo no sequestro de carbono, tem como objetivo estimar o potencial dessas práticas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa nas Américas.
De acordo com Carlos Eduardo Cerri, professor da Esalq/USP e coordenador do CCARBON/USP, a pesquisa analisou mais de 13 mil trabalhos para avaliar como práticas como o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas e sistemas integrados de produção agropecuária podem contribuir para o aumento do sequestro de carbono no solo. Maurício Cherubin, também da Esalq/USP e vice-coordenador do CCARBON/USP, ressalta que, se 30% da área agrícola das Américas (~334 milhões de hectares) adotasse essas práticas, seria possível sequestrar cerca de 13,1 Pg CO2eq em 20 anos, o que corresponderia a aproximadamente 40% das emissões do setor agropecuário durante esse período.
O estudo também aponta que, com a adoção de práticas mais eficientes ou a ampliação das áreas de cultivo, esse potencial de sequestro pode ser ainda maior. Dr. Muhammad Ibrahim, diretor de Cooperação Técnica do IICA, destaca a importância do estudo para fornecer dados essenciais para os países e regiões do continente, ajudando-os a definir programas de enfrentamento das mudanças climáticas.
No entanto, os pesquisadores enfatizam a necessidade de novos esforços para gerar dados mais precisos, especialmente em regiões como América Central, Caribe e região Andina, onde as informações sobre o impacto do manejo sustentável no carbono do solo ainda são limitadas. O estudo também sugere a padronização dos protocolos de amostragem, incluindo a análise das camadas mais profundas do solo, para reduzir as incertezas nas estimativas.
Além dos autores mencionados, o estudo conta com a colaboração de pesquisadores como Rattan Lal (OSU), Federico Villarreal e Francisco F.C. Mello (IICA), João Villela, e os pós-graduandos Jorge Locatelli e Martha Carvalho (Esalq/USP e CCARBON/USP). O artigo completo está disponível gratuitamente na plataforma da Frontiers in Sustainable Food Systems.
Fonte: Portal do Agronegócio
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