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Nova cultivar de resgate cultural

Abóbora-gila BRS Portuguesa chega ao RS depois de pedidos de descendentes portugueses que desejam manter a tradição de suas famílias


Publicado em: 26/06/2012 às 18:10hs

Nova cultivar de resgate cultural

Lançada no dia 14 de junho na 20ª Fenadoce, a cultivar de abóbora-gila BRS Portuguesa chega ao Rio Grande do Sul trazendo um resgate cultural para as famílias de descendência portuguesa da região. Isso porque a espécie, comumente produzida em Portugal, faz parte da culinária lusitana há décadas, sendo usada para a produção dos tradicionais doces de gila. No Brasil, foram apresentados os exemplares das cultivares com suas características morfológicas e de produção, suas qualidades, opções de uso e como os agricultores podem obter as sementes.

Essa é a abóbora menos comum do gênero Cucurbita. Algumas pessoas se referem a ela apenas como gila e outras como abóbora-gila. Seus frutos são ovais, a casca é espessa e dura, com duas tonalidades de verde, formando um desenho reticulado, a polpa é branca e fibrosa e as sementes são de cor preta.

Com boa secagem e armazenagem, suas sementes podem ser utilizadas de um ano para outro. Ela serve para preparo de doces e pode ser substituída pelo coco ralado na culinária, No entanto, deve-se evitar o plantio próximo a outros tipos de abóboras ou morangas em função de cruzamentos.

Na parte externa, o fruto lembra uma melancia de tamanho pequeno com a casca extremamente grossa e dura. Já a polpa, é fibrosa, de coloração branca com sementes pretas, diferentemente das outras abóboras do mercado. A abóbora-gila é voltada para um mercado diferenciado. Ela é usada para fazer um doce, conhecido como doce de gila, tradicionalmente português — explica Rosa Lía Barbieri, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado.

A BRS Portuguesa é uma variedade crioula. A semente foi resgatada pela Embrapa e avaliada durante vários anos. Isso porque a empresa observou que a demanda pelas famílias de descendentes que conheciam essa abóbora era muito grande.

Eles falavam com saudosismo sobre o doce que as avós preparavam e cujas sementes não eram mais encontradas — conta a pesquisadora.

Esse lançamento faz parte de um projeto de pesquisa segundo o qual a empresa procurou resgatar as variedades crioulas através da pesquisa sobre os materiais e sua demanda. A partir daí, é estabelecido o registro junto ao Ministério da Agricultura para possibilitar que as empresas de sementes produzam comercialmente essas sementes e vendam de maneira que vários agricultores interassados possam comprar e produzir.

Ela não é adequada para grandes plantações, mesmo porque é um produto pouco conhecido. Na verdade, essa pesquisa é um resgate cultural através da variedade crioula porque algumas famílias tratam essa variedade como uma cultura de estimação. Geralmente, vemos que as pessoas colocam emoções quando falam da abóbora-gila — afirma Rosa Lía.

Segundo a pesquisadora, as sementes não foram inoculadas com nenhum patógeno, mas em todos esses anos de trabalho não foram detectadas doenças que atacassem a abóbora-gila.

Se for cultivada com adubação orgânica e não sofrer com falta de água, ela pode chegar a produzir mais de 20 frutos por planta. Já em condições de estresse hídrico, ela produz 10 frutos por planta em média — diz.

Uma característica interessante é sua tolerância a baixas temperaturas. Outras espécies do gênero Cucurbita param de produzir flores quando o inverno se aproxima. Já Cucurbita ficifolia produz frutos mesmo com temperaturas baixas.

Estudos feitos em outros países mostram ainda que a abóbora-gila pode ser usada como porta-enxerto para melão e pepino, culturas extremamente sensíveis a baixas temperaturas — conta a pesquisadora.

A história

A abóbora-gila foi trazida para o Brasil pelos imigrantes portugueses e açorianos há mais de 200 anos e vem sendo cultivada no Rio Grande do Sul pelos descendentes dessas famílias que passam as sementes de pai para filho.

No entanto, cada vez mais há relatos de que as pessoas estão deixando de cultivá-la ou porque a quantidade de semente foi muito pequena devido a alguma seca ou porque por algum motivo a semente estragou, entre outros.
 
Esse material é originário do México, onde já era cultivado pelos astecas. Os espanhóis levaram para a Europa, onde ele foi disseminado e até hoje é incorporado à doceria portuguesa.

Fonte: Portal Dia de Campo

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