Outros

Gergelim: pesquisa busca meios para ampliar cultivo

Melhoramento genético da Embrapa desenvolve nova variedade de gergelim sem a indesejada indeiscência dos grãos


Publicado em: 09/08/2012 às 18:10hs

Gergelim: pesquisa busca meios para ampliar cultivo

O mercado absorve toda a produção, a cotação pode chegar a R$ 8,00 o quilo, os pacotes tecnológicos estão prontos, há área disponível e possibilidade de cultivo em diversas regiões do País, os grãos são largamente consumidos pelos brasileiros, seu óleo é um dos mais estáveis que existe, pode servir para a produção de biodiesel e ainda para a alimentação de animais confinados. Aparentemente, tudo a favor.
 
No entanto, o gergelim ocupa apenas cerca de 25 mil hectares que produzem 16 mil toneladas ano, segundo os dados mais recentes do IBGE. Um volume insuficiente para atender a própria demanda interna, colocando o Brasil na condição de importador do grão.

Capsulas da planta do gergelim em detalhe: perdas provocadas pela sua abertura podem chegar a comprometer em até 70% produção nas lavouras comerciais

Uma das principais razões para que a cultura não deslanche está num detalhe agronômico: a deiscência da planta. Uma característica que faz com que as capsulas com os grãos se abram quando o gergelim está no ponto de colheita, derrubando as sementes no chão. A peculiaridade pode comprometer 70% da produção, de acordo com Nair Arriel, pesquisadora da Embrapa Algodão e responsável pelo melhoramento genético do gergelim na Embrapa.

“É o principal entrave à cultura do gergelim hoje no Brasil. Os implementos adaptados já existem, mas a falta de uma cultivar com as características de maior retenção de semente na capsula, impedindo que os grãos caiam ao chão, é que limita a expansão da cultura, sobretudo na Região Centro-Oeste, onde se concentram as lavouras comerciais do País”.

Na Região Nordeste, onde o plantio é realizado em propriedades de âmbito familiar, com lavouras de cerca de 1 hectare,  a colheita é manual. O produtor monitora e identifica o momento certo de colher e não há qualquer perda. No Centro-Oeste, porém, onde se concentram as lavouras comerciais com áreas de até 200 hectares, que, portanto, requerem necessariamente mecanização, a colheita não pode ser feita ser feita desse modo.

Para não haver perdas de sementes, os produtores são forçados, muitas vezes, a colher bem antes do ponto ideal de maturação, enquanto a capsula ainda está fechada. A prática pode comprometer a sanidade e a qualidade da produção pela presença dos grãos ainda verdes.

Pequenos cultivos no Nordeste não sofrem com o problema das indeiscência e geram boa renda para agricultores

Indeiscência

Para acabar com o problema, a Embrapa vem trabalhando no desenvolvimento de uma nova variedade caracterizada pelo maior tempo retenção do grão dentro da capsula após a maturação, a chamada indeiscência. A previsão de lançamento é para 2013. O objetivo final do trabalho de melhoramento, segundo ela, é justamente chegar a materiais que além de minimizar o problema das perdas, também estimulem o plantio do gergelim no País.

“Neste momento estamos fazendo vários ensaios em rede. Avaliando produtividade, teor de óleo, comportamento e a estabilidade em várias regiões diferentes do País. Em termos de produtividade, existe uma tendência de que as variedades indeiscentes sejam menos produtivas (a média produtiva das cinco variedades da Embrapa hoje no mercado está em torno de 1.500 quilos por hectare), porém, como não há perdas ocasionadas pela abertura da capsula, o volume de produção torna-se maior”, explica.

O trabalho coordenado pela Embrapa com gergelim conta com importantes parceiros nas redes de ensaio. Em Mato Grosso, a Emaper, em Goiás, a AgênciaRural e, sobretudo, as cooperativas goianas, que, segundo ela, têm sido importante para a expansão da cultura, fazendo também o trabalho de extensão. Na Região Nordeste e no Rio Grande do Sul, as universidades também desempenham papel semelhante.

Segundo a pesquisadora, de norte a sul, há uma rede formata e envolvida no trabalho para avaliações em diferentes ambientes e condições. A partir do resultado médio, será lançada a cultivar altamente produtiva, tolerante às principais doenças, com elevado rendimento de óleo, qualidades agronômicas adequadas tanto ao cultivo manual como mecanizado e com um potencial econômico condizente com a relevância do gergelim no mercado.

Fonte: Marcelo Pimentel/Portal Dia de Campo

◄ Leia outras notícias