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Estiagem castiga a região do sisal

Solo esturricado, tanques, cacimbas, riachos e açudes engolidos pelo sol escaldante que abate sobre os municípios da região sisaleira, tem provocado a dizimação de animais, apagado o verde dos pastos, da caatinga, o brilho nos olhos dos sertanejos, aumentado o fluxo do êxodo rural e a fome em milhares de famílias que não encontram um só dia de trabalho na roça


Publicado em: 23/04/2012 às 16:30hs

Estiagem castiga a região do sisal

Decretado em Situação de Emergência, os municípios de Conceição do Coité, Retirolândia, São Domingos, Valente, Santa Luz, Queimadas, Cansanção, Monte Santo Euclides da Cunha, Ichu, Barrocas, Candeal, Riachão do Jacuípe e Quijingue veem seus filhos fugirem de seu habitat natural por causa da seca que provocou perdas da agricultura familiar – milho, mandioca e feijão – e irem à busca de condições de sobrevivência em outras regiões da Bahia e até mesmo fora do estado.

“Tem que acabar com as burocracias e liberar carros-pipas para atender os municípios castigados pela seca. A questão de homem público é solução. Conversa fiada Não!”, desabafa o técnico agrícola José Mauro de Oliveira Filho, Maurinho, ex-prefeito de Queimadas, lembrando que a seca é uma realidade na região e disse que durante seus dois mandatos frente à prefeitura local, chegou a construir 35 barragens de perenização no leito do rio Itapicuru e chama a atenção das autoridades para os 500 motores bombas instalados por fazendeiros que fazem a sangria no curso do rio. Com uma população de 28 mil habitantes, o município de Queimadas, que já chegou a produzir 60 mil litros de leite dia, hoje não chega a 10 mil.

Em relação à longa estiagem deve se levar em conta, também, o desmatamento progressivo na região que vem sendo executado há muito tempo por proprietários de áreas rurais com o objetivo, principalmente, para formação de pastagens visando a criação de animais, notadamente bovinos e caprinos. Em ampla região do território do sisal é difícil se encontrar uma área de caatinga, uma vez que a vegetação natural foi toda derrubada. Esta situação, conforme observadores, concorre diretamente para a redução dos índices pluviométricos, tornando ainda mais raras as chuvas nesta parte da Bahia.

O motorista Tiburtino Gonzales, que há muitos anos faz o percurso até a cidade de Senhor do Bonfim, falando à reportagem da Tribuna da Bahia, mostrou-se alarmado com o índice de desmatamento. Para ele, independente da construção de barragens, aguadas, tanques, cisternas, leitos de rios, o governo precisa estabelecer um programa de reflorestamento em toda região e nisso aí inclui a ação contra os proprietários de terra que continuam derrubando o pouco que ainda existe da vegetação natural da região.

Apontada como uma das piores secas dos últimos 30 anos e com os mananciais secos, o prefeito da cidade de Santa Luz, Joselito Carneiro Junior, já fez a limpeza de 100 aguadas e disse que, se não chover nos próximos dias vai deixar todos os tanques limpos. O secretário de Administração e Finanças da prefeitura, José Antônio, disse que 45% dos 33 mil habitantes do município, vivem na zona rural e as localidades mas castigadas pela seca são: Várzea da Pedra, Miranda, Serra Branca, Distrito de Pereira e região, Sisalândia, entre outros. O secretário diz que dos oito carros-pipas existentes no município, dois são mantidos pela prefeitura, que gasta em média R$ 70 mil mensais e garante que até o momento não recebeu nenhuma ajuda dos governos estadual e federal. “Se não chover nos próximos dias, vamos ter que pegar água no rio Itapicuru em Queimadas, a 60 km de distância”.

O médico Joaquim Manoel dos Santos, prefeito do município de Quijingue, que viajou no domingo (22) para Brasília, em busca de recursos para atender os flagelados da seca, disse que não existe nem água e nem comida para os animais e garante que a situação é crítica nas localidades de Jurema, Lagoa da Barra, Monte Cruzeiro, Lagoa do Licuri, Clarice, Boa Vista, Garrote e Serrote do Meio. O chefe do Executivo lembra ainda que o rebanho do município esta restrito a 1/3 do existente e garante que a coisa só não é pior porque o município é servido com água potável de boa qualidade proveniente da Bacia Sedimentária de Tucano.

Dos 28 mil habitantes de Quijingue, sete mil são cadastrados no Programa Bolsa Família, o que vem amenizando o quadro da fome na comunidade, já que não tiveram safra agrícola de milho e feijão no ano passado, devido aos efeitos climáticos.

“Estamos vivendo uma das piores secas das últimas cinco décadas. O município de Valente, que já foi tido como a capital do sisal, vive uma calamidade muito forte em função da falta de chuvas há um ano.

Das 50 aguadas públicas existentes, todas estão vazias e limpas. A água fornecida pela Embasa, com alto teor de salubridade, vem da adutora da Barragem de São José do Jacuípe, que está com 10% de sua capacidade. Vejo a todo instante apelo de pessoas agonizando em busca do líquido precioso. Os carros- pipas que vinha pegando água em Santa Luz tiveram os serviços suspensos pelo prefeito daquela cidade. Se não chover nas próximas horas, alternativa é pegar água no rio Itapicuru em Queimadas, a 70 km de distância, o que vai encarecer bastante o preço da viagem. O pior é que não existe previsão de chuvas e o período de trovoadas já passou”, relata o prefeito Ubaldino Amaral.

O lavrador Antônio Xavier, morador da Fazenda Nova América, que ganha R$ 25,00 por dia para cortar batata de sisal para o gado, disse que conseguir um dia de trabalho na roça está muito difícil. “Olha, moço, a situação aqui na região de Coité está feia, não existe água nos tanques nem para o consumo humano nem animal, e as pastagens foram engolidas pelo sol escaldante que vem acabando com tudo.

Se Deus não tiver pena de nós e dos animais, vão morrer todos de fome e sede. A única fonte de alimento para o gado é a batata do sisal”. O vaqueiro Gilson Vieira, da Fazenda Quixe, disse que essa é a primeira vez, em 19 anos, que ele viu o tanque da propriedade secar, e sem alternativa de forrageiro na roça, as ovelhas vêm sendo alimentadas com palma, folha de leucena, carrancudo e batata de sisal.

Fonte: Tribuna da Bahia

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