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Especialistas dão sentido prático à sustentabilidade

Discussão ganha sobrevida com metodologias que medem pontos fracos de fazendas, mostra evento realizado pela Basf em Campinas


Publicado em: 09/10/2012 às 14:50hs

Especialistas dão sentido prático à sustentabilidade

Foco das discussões sobre o futuro do agronegócio há uma década, a questão da sustentabilidade está finalmente ganhando sentido prático – o que lhe dá sobrevida por tempo indeterminado. Foi o que mostraram os debates entre pesquisadores de instituições públicas e privadas realizados no Top Ciência, evento promovido pela Basf em Campinas (SP), na última semana.

Nas últimas três décadas, as emissões dos gases do efeito estufa, as mudanças climáticas e a responsabilidade social se sucederam como temas das cobranças ao agronegócio. Desde os anos 2000, a busca pelo que se definiu como “sustentabilidade” promete atender essas preocupações. Isso numa fase de contínua ampliação da produção de alimentos, diante da previsão das Nações Unidas de que a população mundial, que atingiu 7 bilhões de pessoas em 2011, continua crescendo e só deve se estabilizar por volta de 9,5 bilhões, após 2050.

O conceito de sustentabilidade, que abrange das questões ambientais aos custos de produção, passou a algo mais concreto com a adoção de metologias que medem os impactos ao ambiente, gargalos logísticos e a viabilidade das fazendas. Ainda não se chegou a um sistema consensual porque as unidades produtivas diferem de uma região para outra, disse Eduardo Leduc, vice-presidente sênior a Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina. Porém, as metodogias chegam a diagnósticos que indicam com precisão os pontos fracos de cada área.

Interessa à Basf, é claro, mostrar que o consumo de agrotóxicos – necessário à produção em escala – fica bem atrás de outros fatores enquanto ameaça à produção sustentável. Porém, na prática, as avaliações das fazendas permitem correções em todos os sentidos e são consideradas um primeiro passo para a certificação das unidades produtivas.

As ferramentas que a Basf aplica para avaliar se uma propriedade é sustentável seguem critérios sócioeconômicos, ambientais e de produção. Tecnicamente, apontam formas de o produtor reduzir os impactos ambientais e gastos financeiros. Para uma fazenda de Mato Grosso, por exemplo, isso é possível com a diminuição do impacto do transporte da produção, que viaja até 2 mil quilômetros até os portos. Para áreas próximas de portos de exportação e indústrias, o aproveitamento de resíduos e o racionamento do uso de agroquímicos assumem esse papel.

“Os problemas da agricultura estão cada vez mais complexos. Teremos que ter uma visão mais holística, do início ao fim de cada cadeia”, disse Maurício Russomano, vice-presidente de Proteção de Cultivos da Basf no Brasil. “Sustentabilidade não é uma onda. Trata de um portfólio como um todo, de uma cadeia de valor”, acrescentou Leduc.

Principal convidado do Top Ciência, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso avaliou que o Brasil tem avançado muito em pesquisa e precisa continuar nesse caminho para ganhar sustentabilidade. Antes da estruturação dos programas de pós-graduação, “quem fazia doutorado tinha a foto publicada em jornal”, citou. Por outro lado, FHC avalia que ainda é necessária maior aproximação entre universidades, empresas e governo.

Negócios

Indústria alemã espera mais da América do Sul


Com vendas que somaram 73,5 bilhões de euros em 2011 (15% a mais do que em 2010), a Basf quer chegar a 115 bilhões de euros em 2015. Uma das estratégias da multinacional alemã é surfar a onda de crescimento do agronegócio. Para isso, reforça atuação na América do Sul e espera melhor desempenho na região.

A Divisão de Proteção de Cultivos, que vendeu 4,4 bilhões de euros no ano passado, terá de ampliar seus negócios nos países sul-americanos para cumprir a meta de vendas da multinacional. A arrecadação está melhorando, mas como as vendas da Basf na região cresceram 13% em 2011, dois pontos a menos que o índice global, a avaliação é que ainda há espaço em países como Brasil, que deve ocupar o posto de maior produtor e exportador de soja em 2012/13. Dos 6.200 funcionários que a empresa tem nessa região, 4.200 atuam em território brasileiro e terão de fazer valer esse posicionamento.

Os investimentos em pesquisas estão sendo descentralizados. A projeção da empresa é que as projetos desenvolvidos fora da Europa, hoje 20% total, cheguem a 50% em 2020. (JR)

Redistribuição

Para associações, uso de pastagens fará a diferença


A Basf não é a única empresa que desenvolve ferramentas e serviços ligados à sustentabilidade. E, além das indústrias, as próprias organizações que representam os produtores atuam nesse sentido, mais fortemente nos últimos cinco anos, depois da campanha deflagrada pelo Greenpeace em 2006 que tentava desestimular o consumo de derivados da soja produzida na região amazônica e nas regiões com desmatamento descontrolado.

Para a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e a Associação dos Produtores de Soja do estado (Aprosoja), que partiram em defesa do agronegócio em âmbito internacional, a sustentabilidade depende não só de ajustes e certificações, mas essencialmente do melhor aproveitamento das áreas da pecuária, com a ampliação do número de bovinos por hectare e o uso da área excedente na produção de grãos. (JR)

Inovação aberta

Prêmio rastreia pesquisas de laboratórios do agronegócio


Numa tentativa de se aproximar de pesquisadores externos, a Basf oferece prêmios aos cientistas. O Top Ciência 2012 avaliou 393 pesquisas e premiou 30 cientistas sul-americanos com uma viagem à Alemanha. Entre os 23 premiados do Brasil, 11 estão ligados a universidades e 12 a empresas do agronegócio, institutos de pesquisa e à cooperativa Coopercitrus.

As pesquisas que representam inovação e podem render divisas seguem direto para registro de patentes. A maioria dos projetos está ligada ao desempenho de agroquímicos.

Entre os premiados, dois projetos desenvolvidos no Paraná trabalharam com resultados da aplicação do fungicida Opera, no milho e no trigo. Eles foram desenvolvidas por Jaqueline Huzar Novakowiski, da Unioeste, de Guarapuava, de Eduardo Gilberto Dallago, da CWR Pesquisa Agrícola Ltda., de Palmeira. Um terceiro trabalho do Paraná também foi premiado. Tadeu Inoue, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), ganhou o Top Ciência com projeto que verificou a atividade de enzimas antioxidantes em folhas de soja tratadas com glifosato e piraclostrobina. Os resultados saíram quinta-feira.

Fonte: Gazeta do Povo

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