Publicado em: 25/06/2012 às 17:50hs
O abandono do preparo do solo, associado a novos fundamentos de manejo foi uma fase na história da agricultura brasileira marcada por dificuldades e incertezas. Após 40 anos de implantação do sistema, pesquisadores e profissionais da área estarão reunidos para discutir a evolução do plantio direto, no 13º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, que acontece na Universidade de Passo Fundo, de 9 a 11/07.
O plantio direto foi introduzido no Brasil no fim dos anos 1960 como uma forma alternativa de preparo do solo. A partir da década de 1980, passou a ser conceituado como um complexo de tecnologias destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, contemplando mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura, manutenção permanente da cobertura e diversificação de culturas. Foi essa mudança de percepção que passou a diferenciar “Plantio Direto” de “Sistema Plantio Direto”. No início dos anos 2000, foi incorporado ao Sistema Plantio Direto o processo colher-semear, que prevê a redução ou a supressão do intervalo de tempo entre a colheita e o próximo plantio. A intensificação dos sistemas produtivos, com diversificação de espécies, ainda está em fase de adaptação pelos produtores, configurando um processo de manejo em constante evolução.
Uma das formas que visam à intensificação do sistema produtivo é a integração lavoura-pecuária, que, através da produção de grãos e pastagens, proporciona maior diversidade de espécies e manejo eficiente dos recursos naturais. Estudos da Embrapa Trigo mostram que a adição de fertilizantes nitrogenados e estercos no solo podem aumentar a acidez na camada superficial, porém sem aumentar a saturação por bases e a toxicidade por alumínio, em decorrência da presença de compostos orgânicos. Para o pesquisador Renato Fontaneli, a integração lavoura-pecuária, conduzida sob sistema plantio direto, é perfeitamente viável mediante a ocupação de áreas de lavoura com pastagens, desde que sejam tomados cuidados especiais no manejo dos animais para evitar a compactação do solo e a retirada excessiva de biomassa nos piquetes.
Além de prevenirem perdas por erosão, conservarem a umidade e promoverem a reciclagem de nutrientes, os restos culturais que cobrem o solo no sistema plantio direto também exercem importante papel no controle de plantas daninhas. Conforme o pesquisador Leandro Vargas, muitas espécies invasoras não germinam se estiverem cobertas por uma camada uniforme de palha. As primeiras plantas daninhas surgem apenas quando os resíduos começam a se decompor. Deste modo, ocorre atraso na germinação de sementes e na emergência de plântulas, reduzindo as populações de invasoras junto à cultura de interesse.
Um tema polêmico está relacionado à incidência de pragas e doenças no sistema plantio direto, já que a palha mantém a presença de inóculos (como fungos e bactérias) e disponibiliza alimento abundante aos insetos. Contudo, a diversificação de espécies preconizada no sistema plantio direto, via rotação de culturas, pode interromper o ciclo das doenças, principalmente quando o sistema intercala gramínea-leguminosa. No caso dos insetos, muitos agentes são benéficos ao sistema, já que ajudam na decomposição da palha e na construção de galerias no solo que ajudam na infiltração de água, na redistribuição de nutrientes e no aprofundamento do sistema radicular das plantas.
Desafios
Atualmente, mais de 30 anos após a evolução dos preceitos que regem o Sistema Plantio Direto, os pesquisadores observam que sua adoção continua sendo apenas o abandono do preparo de solo e a manutenção da palha na superfície. Outras práticas prejudiciais aos recursos naturais, e principalmente ao solo, continuam presentes nas lavouras, como intenso tráfego de máquinas, manejo impróprio da integração lavoura-pecuária, excesso de calagem, adubação apenas na camada superficial do solo, ausência de diversificação de culturas e descaso com o manejo das enxurradas. “Todas essas práticas resultam na degradação da fertilidade do solo, em razão da concentração de nutrientes e de raízes na camada superficial do solo e da compactação na camada subsuperficial. Como efeitos mais visíveis, temos a instabilidade da produção agropecuária, com frustrações de safra mesmo em pequenos períodos sem chuva, e a baixa produção de matéria seca pelas pastagens de inverno” , avalia o pesquisador José Eloir Denardin.
Segundo números do IBGE, a área com diversificação de culturas anuais no Brasil é de apenas 25% da área total cultivada. Na Região Sul, o problema é ainda mais grave: na safra de verão são cultivados 14 milhões de hectares e na safra de inverno apenas 2,6 milhões de hectares, ou seja, a diversificação de culturas está presente em apenas 18% da área total cultivada. Considerando que o sistema plantio direto abrange cerca de 9,8 milhões de hectares com culturas anuais nessa região do país, a falta de diversificação ameaça a sustentabilidade da atividade agrícola.
“Sistemas de manejo de solo compatíveis com as características de clima, de planta e de solo são imprescindíveis para interromper o processo de degradação no Brasil e, conseqüentemente, manter a atividade agrícola competitiva. Nesse contexto, o sistema plantio direto deve ser enfocado como processo de exploração agropecuária mais adequado no tripé econômico, social e ambiental”, conclui José Eloir Denardin.
Evento
Estes são alguns dos temas que serão levantados no 13º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha. A programação do evento está agrupada em três eixos: “Desafios e oportunidades da diversificação da produção”, “Contribuições do sistema plantio direto no manejo fitossanitário – redução dos custos de produção”, “Fertilidade biológica, física e química – manejo adequado do solo”, além do painel “Mecanização e Agricultura de Precisão”. No evento também serão abordados assuntos como benefícios da rotação de culturas; oportunidades da integração lavoura-pecuára, controle de plantas daninhas, pragas e doenças, e fertilidade. A programação completa está no site da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (http://www.febrapdp.org.br).
Mais informações: www.febrapdp.org.br
Fonte: Embrapa Trigo
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