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Agricultura regenerativa é uma ferramenta fundamental para enfrentar a crise climática, asseguram em debate organizado pelo IICA no Diálogo Internacional Borlaug

Atores relevantes do setor agroalimentar das Américas dos âmbitos público e privado destacaram a agricultura regenerativa como uma ferramenta insubstituível para abordar a crise ambiental que a humanidade enfrenta


Publicado em: 25/10/2023 às 17:30hs

Agricultura regenerativa é uma ferramenta fundamental para enfrentar a crise climática, asseguram em debate organizado pelo IICA no Diálogo Internacional Borlaug

As boas práticas agrícolas, tendentes a reparar o entorno, contribuem não só para uma maior produtividade, mas também para a conservação dos recursos naturais e a mitigação da mudança climática, foi explicado em um dos consensos atingidos em um painel organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na estrutura do Diálogo Borlaug 2023, cuja anfitriã é a Fundação World Food Prize (WFP).

A WFP, com sede em Iowa nos Estados Unidos, promove a inovação e impulsiona as ações tendentes a elevar de forma sustentável a qualidade e quantidade de alimentos disponíveis para a população do planeta. Cada ano, entregam o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o Prêmio Nobel nesse tema, àquelas pessoas que realizam as contribuições mais transcendentes e inovadoras em prol da segurança alimentar e nutricional.

No Diálogo Borlaug participam líderes globais, produtores agropecuários, acadêmicos, cientistas, educadores e estudantes de mais de 65 países, que discutem as questões mais urgentes com a premissa de explorar soluções para atingir sistemas agroalimentares mais sustentáveis, equitativos e inclusivos.

A edição deste ano tem como foco como aproveitar a inovação e a diversificação da produção para melhorar a resiliência frente à mudança climática, promover a recuperação após eventos meteorológicos extremos e alimentar o mundo de forma sustentável.

O debate organizado pelo IICA foi um dos eventos paralelos oficiais do Diálogo Borlaug, que começará formalmente na próxima semana, e teve entre os seus apresentadores ao cientista Rattan Lal, Laureado do Prêmio Mundial da Alimentação 2020 e considerado a máxima autoridade mundial em ciências do solo; Zulfikar Mustapha, Ministro de Agricultura da Guiana; Renata Miranda, Secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Brasil; e Marcello Brito, Secretário Executivo do Consórcio Amazônia Legal, que engloba aos estados amazônicos do Brasil.

Também formaram parte da discussão Juan Pablo Llobet, Diretor Regional para a América Latina da Syngenta; Alessandra Fajardo, Diretora do Food Value Chain Partnership da Bayer; e Elvia Monzón, agricultora da Guatemala que foi laureada pelo IICA com o prêmio Alma da Ruralidade pela sua contribuição à segurança alimentar.

As palavras de abertura estiveram por conta do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.

Os solos como escoadouros de carbono

“Se gerenciamos adequadamente os solos, o seu potencial de captura de carbono é enorme. Podem captar até 25% das emissões dos combustíveis fósseis, e por tanto podem ajudar de forma significativa o objetivo de manter o aumento da temperatura global por abaixo de 1,5 graus centígrados”, disse Rattan Lal, que lidera junto ao IICA o Programa Solos Vivos nas Américas.

O especialista, Diretor do Centro de Gestão e Captura de Carbono (C-MASC) Rattan Lal da Universidade Estadual de Ohio, assegurou que a agricultura regenerativa não é uma prática só, mas uma filosofia produtiva inspirada na inovação ecológica e o consumo de energias não geradas com combustíveis fósseis que se propõe devolver o carbono da atmosfera aos solos.

“Devemos demonstrar que isso pode gerar renda adicional para os agricultores, já que o carbono também se pode comprar e vender, como qualquer outro gás de efeito estufa. Temos que promover uma maior circulação de certificados de carbono, com os que um governo ou uma empresa possa pagar a um agricultor por retirar o carbono da atmosfera e devolvê-lo ao solo”, assegurou.

O ministro Mustapha disse que o impulso à agricultura regenerativa é crucial para a Guiana pela sua importância para a sustentabilidade da produção e para a melhoria da produtividade. “Tivemos muitos problemas por eventos extremos, como enchentes.  Isso nos levou a procurar práticas mais sustentáveis, já que a mudança climática nos obrigou a mudar nossos procedimentos agrícolas tradicionais. Hoje promovemos uma agricultura inteligente, com maior infraestrutura e diversificação de cultivos”, assegurou Mustapha.

Pelo seu lado, Renata Miranda explicou que a prioridade do Ministro de Agricultura e Pecuária do Brasil é garantir a segurança alimentar no atual contexto de mudança climática.

"A segurança alimentar é indispensável, já que garante que haja menos violência, e ajuda a resolver questões como a educação. É um pilar estruturador da sociedade.  E falar de agricultura regenerativa é falar desse compromisso com a segurança alimentar”, manifestou.

Campanhas comprometidas com a sustentabilidade

Alessandra Fajardo e Juan Pablo Llobet esclareceram as iniciativas que executam nas Américas as empresas Bayer e Syngenta, para favorecer uma agricultura mais resiliente frente à mudança climática graças à pesquisa e às novas tecnologias.

“Temos objetivos para 2030 de reduzir 30% as emissões de gases de efeito estufa nos países em que trabalhamos. Isso é uma forma de melhorar a vida de 6 milhões de pequenos agricultores dos que somos muito próximos. E definitivamente os nossos objetivos de sustentabilidade estão muito ligados à agricultura regenerativa”, assegurou.

Fajardo explicou os detalhes do Programa Pro Carbono, iniciativa da Bayer que trabalha na Argentina com produtores dispostos a expandir sua produtividade e aumentar a captura de carbono no solo por meio de práticas agrícolas sustentáveis.

Juan Pablo Llobet explicou que, para a Syngenta, a agricultura regenerativa significa o desenvolvimento e geração de inovações e tecnologias que sejam complementadas com práticas agrícolas orientadas para melhorar a saúde do solo e a conservação da biodiversidade.

“Procuramos contribuir inovação para criar cultivos mais resilientes à mudança climática.  A prioridade é desenvolver uma alternativa viável para uma agricultura sustentável e que possa produzir alimentos em escala global.  Isso não pode ser atingido por um só ator, e por isso somos sócios do IICA no Programa Solos Vivos nas Américas”, assegurou.

Pelo seu lado, a agricultora Elvia Monzón, integrante de uma cooperativa produtora de café na Guatemala, disse que a agricultura regenerativa é, do seu ponto de vista, “realizar ações em prol dos nossos solos, que nos deram vida e alimento e aos que tanto mal fizemos”.

“A minha prioridade”, adicionou, “são os meus filhos e meus netos”. Para eles querem deixar solos saudáveis com os que possam ter produção ao longo prazo.  Vale a pena devolver aos nossos solos o que eles nos dão, e seguirão dando se cuidamos deles”.

O Diretor Geral do IICA enfatizou o papel da inovação para uma agricultura que necessariamente tem que ser mais regenerativa, porque o mundo demanda hoje mais alimentos, produzidos com menor impacto ambiental.

“A regeneração”, disse Manuel Otero, “é o ato de reparar algo que está danificado e devolvê-lo ao seu estado original. Na agricultura se refere à adoção de boas práticas, que já estão sendo realizadas na nossa região, como o plantio direto, o uso de plantas de cobertura e a difusão de sistemas agrosilvipastoris.  Estamos por bom caminho e devemos investir mais”.

Otero assegurou que o IICA tem o compromisso de continuar fortalecendo a transformação da agricultura nas Américas para uma maior sustentabilidade.  “O nosso continente”, assegurou, “é fiador da segurança alimentar e sustentabilidade ambiental mundial. Por isso a conservação e recuperação dos solos, dentro da abordagem Uma Só Saúde, é uma prioridade”.

Também em representação do Instituto participou Francisco Mello, gerente de Gestão do Conhecimento e Cooperação Horizontal e coordenador técnico da iniciativa Solos Vivos das Américas.

“Por meio da iniciativa Solos Vivos, procuramos as provas científicas para apoiar as principais práticas agrícolas que capturam carbono no solo, estabelecendo referências que beneficiarão todos os países das Américas na criação de políticas públicas”, disse Mello.