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Por que é importante conservar o solo?

Técnicas de cultivo mínimo e plantio direto são práticas comuns entre os empreendedores do campo.


Publicado em: 14/04/2021 às 15:00hs

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Darci José da Silva: Engenheiro agrônomo e assessor Técnico do SindiTabaco
Por: Eliana Stülp Kroth

Esta quinta-feira, 15 de abril, é o Dia Nacional da Conservação do Solo, data criada para reflexão e conscientização da importância da correta utilização da terra e o debate sobre como evitar sua degradação. Os empreendedores do campo adotam cada vez mais as práticas conservacionistas por perceberem os benefícios, que vão desde o aumento na fertilidade e valorização da propriedade agrícola até a redução na necessidade de mão de obra.  

Para explicar sobre a importância de cuidar bem do solo, o blog Empreendedores do Campo entrevistou o engenheiro agrônomo e assessor Técnico do SindiTabaco, Darci José da Silva. Ele fala sobre as vantagens das técnicas de conservação, os tipos de práticas mais importantes e o levantamento anual realizado pelo SindiTabaco, que mostrou a crescente aplicação de técnicas conservacionistas nas propriedades produtoras de tabaco.  

Para o produtor rural, quais as vantagens de aplicar técnicas de conservação do solo? 

Darci Silva: O solo, assim como a água, são bens naturais preciosos e constituem um patrimônio de inestimável valor para a sobrevivência da humanidade. Ambos são recursos finitos e deterioráveis se inadequadamente utilizados. No caso mais específico dos solos, um dos fatores que mais ameaçam a sua integridade e preservação é a erosão. Existem vários tipos de erosão, mas a mais preocupante é erosão hídrica, provocada pelas chuvas torrenciais e enxurradas, podendo resultar em grandes perdas de solo e de sua capacidade produtiva. De forma concomitante favorece o aporte de sedimentos no leito dos rios, causando assoreamento e contaminação das águas. Além disso gera ainda a degradação dos ecossistemas, estando associada às questões ambientais, econômicas e sociais, fundamentos imprescindíveis para a promoção da sustentabilidade. É nesse momento que surge a necessidade imperiosa do uso das práticas conservacionistas, as únicas capazes de assegurar a produção agrícola sustentável, de modo a permitir que as futuras gerações recebem um legado potencialmente protegido para a crescente demanda global por alimentos. 

Um estudo recente da FAO demonstra que cerca de 33% das áreas agrícolas do mundo apresentam algum grau de degradação. Ora, isso já não é mais admissível numa civilização que se considera avançada no uso de tantas tecnologias. Os solos mais suscetíveis à erosão estão situados nas regiões tropicais e subtropicais do globo, onde ocorrem chuvas mais intensas e frequentes, temperaturas mais elevadas e dias mais longos. Esses solos precisam ser protegidos de forma permanente e terem sua superfície sempre coberta, tanto por meios dos cultivos agrícolas comerciais, quanto através dos cultivos de cobertura do solo durante os períodos de intervalo entre as safras. 

Assim, práticas tradicionais como lavração e discagem do solo já são consideradas ultrapassadas. As ações sustentáveis requerem o mínimo de mobilização do solo e substituição dos métodos tradicionais por outros como o Cultivo Mínimo e, principalmente, o Plantio Direto na Palhada. É imprescindível implantar os cultivos de cobertura como forma de produzir a biomassa para ser transformada em palhada de proteção do solo. Eventualmente, em solos ainda compactados pelos sistemas convencionais, uma boa subsolagem é recomendada e, dependendo dos resultados da análise periódica do solo, agregar uma calagem para corrigir a sua acidez.

Quais os tipos mais importantes de práticas conservacionistas do solo? 

Darci Silva: Atualmente são os cultivos de cobertura para formação de palhadas, os quais, através do seu sistema radicular abundante, promovem a restruturação do solo, melhorando as suas características físicas e biológicas. Solos protegidos por palhada minimizam os impactos da erosão e permitem uma infiltração mais eficiente da água no seu perfil, suavizando os efeitos das estiagens. Complementarmente, também é indispensável o plantio em nível (contorno) e a implantação dos cultivos de cobertura sobre “camalhões altos de base larga”, comprovado através de estudos da Embrapa com importante prática conservacionista. Dependendo da declividade do solo a ser cultivado, o uso de terraços continua sendo um método necessário e recomendado. 

Qual a técnica de cultivo mais apropriada para a lavoura de tabaco? 

Darci Silva: Entendo que não devemos recomendar tecnologias isoladas. A preservação do solo e a produção sustentável são alcançadas com mais êxito por meio do uso de práticas integradas – plantio em nível, cultivos de cobertura e plantio direto na palhada. 

Além do aspecto conservacionista, esses procedimentos geram redução de outras operações nas lavouras, promovendo diminuição da demanda de mão de obra e a consequente redução dos custos de produção. Como resultado, amplia-se o potencial de aumento da rentabilidade na produção de tabaco e também em outros cultivos comerciais subsequentes.  

O SindiTabaco faz o levantamento anual do uso de técnicas conservacionistas nas propriedades produtoras de tabaco. Quais os resultados percebidos nos últimos anos? 

Darci Silva: O SindiTabaco realiza esse levantamento junto às suas associadas e estas coletam os dados com seus produtores integrados, com abrangência sobre os três Estados do Sul. Esse tipo de estatística teve início em 2007 e foi realizado anualmente até 2011. A partir desse período o levantamento foi temporariamente interrompido, tendo retornado em 2014 e com a periodicidade de dois anos. 

Quando o trabalho foi iniciado, o sistema Convencional de preparo e manejo do solo era utilizado em 83% das lavouras de tabaco. A partir daí e graças aos avanços tecnológicos desenvolvidos pelas áreas de Pesquisa e Assistência Técnica das empresas associadas, esse cenário foi sendo transformado. Em 2014 os procedimentos conservacionistas (Cultivo Mínimo e Plantio Direto) já representavam 65% das áreas de produção de tabaco. E esse processo evolutivo não parou por aí, tendo alcançado a marca de 76% segundo o último levantamento feito em 2020. A próxima etapa de avaliação desse programa será em 2022.

 

Fonte: MSL Andreoli

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