Publicado em: 27/08/2013 às 00:00hs
Christiane Abreu de Oliveira Paiva: pesquisadora da Embrapa
Por: José Heitor Vasconcellos
O principal objetivo desta parceria é o desenvolvimento de novos produtos fertilizantes para a agricultura brasileira, com potencial de redução de custos de produção e maior segurança ambiental.
Atualmente, metade do adubo fosfatado utilizado na agricultura é importada e dependente da oscilação de preços dos combustíveis fósseis. Essa pesquisa poderá reduzir não só essa dependência externa mas também contribuir para o incremento da produção de grãos no País.
A pesquisadora Christiane Abreu de Oliveira Paiva explica esse projeto de pesquisa.
Grão em Grão: O que é a biossolubilização?
É a utilização de microrganismos para solubilizar os nutrientes encontrados no solo e em minerais, como as rochas fosfatadas, por exemplo.
E por que isso é importante?
Sem essa solubilização, as plantas não conseguiriam absorver o fósforo encontrado nas rochas fosfatadas ou o fósforo presente no solo, mas indisponível para as plantas. E esse nutriente é muito importante para o desenvolvimento e a produtividade de culturas como o milho, por exemplo.
Há quanto tempo vocês estão trabalhando com biossolubilização?
A tecnologia de biossolubilização de rochas fosfatadas vem sendo estudada, na Embrapa Milho e Sorgo, há 15 anos, tendo início com pesquisas na área de eficiência de aquisição de fósforo em milho, em projetos conduzidos pelos pesquisadores Ivanildo Evódio Marriel, Vera Maria Carvalho Alves e Eliane Gomes. Atualmente toda a equipe de Microbiologia e Fertilidade do Solo da Unidade está envolvida nesta área e no projeto Embrapa/Vale.
E qual a eficiência desses microrganismos?
Temos em nossa Coleção de Microrganismos Multifuncionais aproximadamente 300 microrganismos que são eficientes na solubilização de fósforo. Alguns alcançam 60% de eficiência na liberação do fósforo total de rochas. Esses microrganismos, quando associados à adubação com fosfato de rocha e a uma fonte solúvel de fósforo, como o supertriplo, podem aumentar em cerca de 10% a produção de grãos em milho e reduzir o uso de fertilizantes sintéticos.
Quais os benefícios ambientais dessa tecnologia?
São vários: com o uso associado de microrganismos, rochas e metade da dose de adubos solúveis, em média, tem-se uma menor exploração das jazidas de rochas fosfatadas; menor custo energético de produção; menor utilização de fontes solúveis não renováveis, com redução de impactos ao solo, ar e água e mitigação das emissões de CO2.
Além de ser uma alternativa de insumo biológico renovável, essa tecnologia irá possibilitar o aproveitamento de resíduos sólidos orgânicos, como a cama de frango, e coprodutos da indústria de fertilizantes.
Qual a estratégia para a utilização desses microrganismos?
Uma das estratégias é usá-los como produtores de ácidos para a biossolubilização natural de rochas fosfatadas de menor valor comercial para empresas como a Vale.
Outra estratégia seria o uso destes microrganismos no enriquecimento de fertilizantes organominerais à base de compostos orgânicos de rochas fosfatadas.
A terceira, que não está incluída nesta parceria, mas em outros projetos da Embrapa, seria o desenvolvimento de inoculantes para fósforo, como os já utilizados para nitrogênio, em uso direto nas sementes.
Há outros projetos com essa linha de pesquisa na Embrapa?
Outros projetos desenvolvidos pela Embrapa Milho e Sorgo estão relacionados ao Macroprograma 1 da Embrapa, dentro da Rede FertBrasil.
Neles estão inseridas propostas inovadoras de formulação de dois novos produtos fertilizantes: um inoculante para culturas de grãos com microrganismos solubilizadores de fósforo e um fertilizante granulado com adubo solúvel enriquecido com cama de frango e microrganismos solubilizadores de fósforo, sendo esta última atividade coordenada pela pesquisadora Flávia Cristina dos Santos.
É importante salientar que todos estes projetos têm um apelo regional, como o uso de rochas do estado de Minas Gerais (Patos de Minas, Araxá e Itafós), que podem ser convertidas em fertilizantes pela ação dos microrganismos e pelo uso da cama de frango - um resíduo produzido em grande quantidade por aviários tanto de Minas Gerais quanto de Goiás.
Esse projeto terá duração de três anos e a equipe de pesquisa é composta também pelos pesquisadores Ivanildo Evódio Marriel, Flávia Cristina dos Santos, Francisco Adriano de Souza, Eliane Aparecida Gomes e Álvaro Vilela de Resende.
Fonte: (RJ 12914 JP) Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
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