Publicado em: 21/12/2009 às 18:28hs
Apesar de a mandioca ser a base alimentar de grande parte da população brasileira, a produtividade média nacional está abaixo do potencial da cultura, tendo sido estimada em 2007 em torno de 14 t ha1 (IBGE, 2009). A Bahia ocupa o primeiro lugar na produção de mandioca e apresenta uma produtividade média de 13,2 t ha1. O Estado do Paraná, embora apresente área bem inferior à colhida na Bahia (menos da metade), no ano de 2007 está posicionado como segundo produtor nacional, apresentando uma produtividade média de 22,4 t ha1. Os municípios do Extremo Sul da Bahia, a exemplo de Guaratinga, encontramse em uma situação inferior à média nacional, com rendimentos em torno de 12 t ha1.
No Extremo Sul da Bahia, a maioria dos plantios foi estabelecido com as variedades de mandioca brava Milagrosa e Caravela. Em trabalhos de introdução de variedades junto a assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, as variedades introduzidas apresentaram bom desenvolvimento na região e ótima aceitação pelos agricultores. O uso de variedades melhoradas e adaptadas às condições edafoclimáticas locais é um dos meios para se promover a melhoria do sistema de produção da cultura e aumentar o rendimento da mandioca na região. Este trabalho objetiva avaliar o comportamento de variedades locais e introduzidas de mandioca brava com os agricultores familiares do projeto de assentamento Lajedo Bonito, situado em Guaratinga, município do Extremo Sul da Bahia.
Em setembro de 2006, no município de Guaratinga, no projeto de assentamento Lajedo Bonito, foi instalado um experimento para testar diferentes variedades de mandioca brava. As variedades de mandioca brava testadas foram a Maraú, Platina, Cigana Preta, Crioula, Amansa Burro, Diamante, Mestiça, Salangor Preta, Irará (introduzidas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical), Itapicuru, Piriquitinha, Pretinha e Caravela (coletadas na região pelos agricultores). Foram realizados os tratos culturais preconizados para região, com adubação baseada na análise de solo. Aos sete meses foram avaliados o estande e a altura de plantas. Em outubro de 2007, junto com os agricultores, foi realizada a colheita do experimento, na qual foram avaliados a altura de plantas, o peso de parte aérea, o peso de raiz, o rendimento em amido e a preferência pelas raízes na colheita (realizada com cinco agricultores individualmente). Aos dados foi aplicada a análise de variância e, em seguida, as médias foram comparadas por meio do teste de Scott & Knott a 5% de probabilidade.
Considerando o desenvolvimento das plantas, aos sete meses de idade, as variedades Cigana Preta, Crioula, Mestiça, Irará e Itapicuru apresentaram as maiores alturas, que variaram de 2,50 a 2,62 m, enquanto as demais apresentaram alturas variando de 2,25 a 1,77 m (Tabela 1).
Tabela 1. Avaliação do desenvolvimento e produção de variedades de mandioca brava, realizada com agricultores familiares do projeto de assentamento Lajedo Bonito. Guaratinga BA, 2007.
Variedades | Altura (m) 7 meses1 | Altura (m) 12 meses1 | Estande 7 meses1 | Peso ramas (t ha-1)1 | Peso raiz (t ha-1)1 | Rendimento Amido (%)1 | Preferência |
Cigana Preta | 2,50 a | 2,77 a | 47 a | 29,0 a | 25,5 b | 30,1 a | 7 |
Crioula | 2,57 a | 2,69 a | 48 a | 25,0 a | 27,2 b | 34,0 a | 3 |
Mestiça | 2,62 a | 3,16 a | 43 b | 29,2 a | 16,5 b | 35,3 a | 11 |
Diamante | 2,14 b | 2,76 a | 49 a | 25,9 a | 22,9 b | 31,3 a | 9 |
Amansa Burro | 2,23 b | 3,18 a | 42 b | 24,2 a | 27,4 b | 32,4 a | 6 |
Platina | 1,77 b | 2,31 a | 46 a | 26,8 a | 18,5 b | 30,6 a | 8 |
Cachoeira | 2,25 b | 2,44 a | 48 a | 21,7 a | 36,0 a | 31,4 a | 5 |
Irará | 2,60 a | 2,86 a | 47 a | 22,2 a | 36,6 a | 24,7 a | 2 |
Salango Preta | 2,07 b | 2,73 a | 49 a | 18,7 a | 18,6 b | 31,3 a | 10 |
Maraú | 2,16 b | 3,01 a | 41 b | 13,4 a | 23,8 b | 31,4 a | 1 |
Caravela | 2,21 b | 2,67 a | 51 a | 20,4 a | 22,7 b | 31,8 a | 4 |
Piriquita | 2,11 b | 2,77 a | 39 b | 14,1 a | 23,8 b | 32,2 a | 12 |
Itapicuru | 2,52 a | 3,24 a | 48 a | 25,9 a | 34,7 a | 29,6 a | 2 |
Média | 2,29 | 2,81 | 46 | 22,8 | 25,7 | 31,2 | |
Teste F | * | n.s. | n.s. | n.s. | ** | n.s. | - |
CV (%) | 12,2 | 15,3 | 9,5 | 27,3 | 24,1 | 13,5 | - |
1Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott & Knott a 5% de probabilidade. **= significativo a 1% de probabilidade; *=significativo a 5% de probabilidade
Embora aos doze meses de idade a altura das plantas e o peso de ramas das variedades tenham apresentado uma grande amplitude de variação, essas diferenças não foram significativas estatisticamente e apresentaram valores médios de 2,81 m e 22,8 t ha1, respectivamente.
O maior estande foi o da variedade Caravela (50 plantas), enquanto Piriquita apresentou o menor estande (39 plantas). Em termos de produtividade de raiz, Irará, Cachoeira e Itapicuru apresentaram as maiores produtividades, entre 34,7 e 36,6 t ha1 (Tabela 1), resultado muito acima do observado na região Extremo Sul da Bahia, que é de 12 t ha1 (IBGE, 2009). Não houve diferença significativa entre as variedades avaliadas para o rendimento em amido, entretanto os valores observados (média de 31,24%) são considerados adequados. Na preferência global dos agricultores durante a colheita das raízes, a variedade Maraú ficou em primeiro lugar, seguida por Irará e Itapicuru.
REFERÊNCIAS
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Agricultura. Acesso em: 05 de maio de 2009. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br.
Arlene Maria Gomes Oliveira e Mauto de Souza Diniz - Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Nelson Luz Pereira - Técnico agropecuário da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, Seabra, BA
Jackson Lopes de Oliveira - aposentado da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília, DF
Fonte: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
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