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Revitalização das áreas cultivadas com a cultura do coqueiro gigante no Brasil


Publicado em: 28/05/2010 às 08:54hs

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A cultura do coqueiro da variedade gigante no Brasil, ocupa aproximadamente 208.000 ha, concentrando-se nas ecorregiões dos tabuleiros costeiros e baixada litorânea do Nordeste, sendo responsável pela produção de “coco seco”, utilizado na agroindústria de alimentos ( 30%)  e consumo doméstico (60%).

De acordo com dados do IBGE(1988), predominam na região pequenos produtores,  onde aproximadamente 90 % dos estabelecimentos apresentam de 10 a 100 ha, sendo que 53,8 % destes possuem menos que 10 ha, configurando assim uma situação de grande importância sócio econômica para a região. Ocupam solos arenosos caracterizados pela baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água, utilizando sistemas semi- extrativistas de produção, com colheitas distribuídas ao longo do ano realizadas em média a cada três meses. Em função da baixa densidade de plantio, com aproximadamente 100 plantas/ha, estas áreas são utilizadas também para consorciação com culturas de ciclo curto, ou para a criação de animais.
 
Grande parte dos atuais plantios observados ao longo da faixa litorânea do Nordeste foi estabelecido a partir de sementes de origem desconhecida, sem passar por um processo de seleção de mudas em viveiro, gerando na maioria dos casos, populações de híbridos segregantes conhecidos como “mestiços”. A despeito desta condição, podem ser encontradas situações com boa homogeneidade e produção quando não há limitação  das condições locais  de clima e solo, ou mesmo quando são adotadas práticas culturais voltadas para atender as necessidades hídricas e nutricionais d coqueiro.

Essa situação pode ser encontrada principalmente nos plantios localizados na baixada litorânea, quando o lençol freático se mantém próximo à superfície do solo ( 1 a 3 m de profundidade), condição esta que permite suprir o déficit hídrico registrado em grande parte do ano. Observa-se também que nesta condição, há menor ocorrência das doenças foliares “lixas”  e “ queima das folhas’, consideradas endêmicas e responsáveis por significativas perdas de produção.

A grande valorização das áreas situadas na baixada litorânea, como também a expansão do cultivo da cana de açúcar nos tabuleiros costeiros,  constituem fatores que de certa forma limitam a instalação de novos plantios com a cultura do coqueiro. Por outro lado, grande parte das áreas atualmente cultivadas se caracteriza pela baixa produtividade, decorrente em parte da idade avançada das plantas e da não utilização dos tratos culturais adequados, do baixo preço do coco auferido ao longo dos anos, como também da elevação dos atuais custos de produção.

Essa situação tem gerado um desestímulo do produtor reduzindo conseqüentemente os   investimentos neste setor, a despeito da  elevação do preço do coco observada nos últimos anos,  decorrente da implantação pelo governo federal das medidas de salvaguardas que estabelece cotas de importação do coco ralado.

De acordo com o quadro acima exposto, e diante das ameaças de reativação da importação do “coco ralado”, torna-se premente a necessidade de instalação de um programa de revitalização da cultura  do coqueiro, viabilizando assim um aumento sustentável de produção.  Este  programa poderia ser voltado não somente para a recuperação  dos atuais plantios como também  para a renovação das áreas decadentes, utilizando-se neste caso mudas de boa qualidade para instalação de novos plantios.

No primeiro caso, alguns critérios deverão ser adotados para selecionar as áreas passíveis de recuperação, os quais, devem estar relacionados com as condições locais de clima e solo, idade, potencial produtivo e estado fitossanitário dos coqueiros. Após a seleção das áreas a serem contempladas, e considerando-se a grande heterogeneidade do material genético dentro de um mesmo plantio, há necessidade de que se proceda a uma marcação das plantas que não apresentam capacidade de resposta aos insumos a serem aplicados, as quais, não deverão receber adubação e os tratos culturais recomendados para as outras plantas. Em muitas situações, é recomendável que estas plantas sejam erradicadas, procedendo-se neste caso o replantio com mudas selecionadas.

Considerando-se a situação atual, onde grande parte dos atuais plantios com coqueiros da variedade gigante encontra-se em idade avançada, a melhor  recomendação seria a  renovação destas áreas, utilizando-se neste caso mudas de boa qualidade, desde que a área a ser utilizada apresente condições de clima e solo que justifiquem o empreendimento.

Para implantação de um programa de revitalização, além do estabelecimento de linhas de crédito específicas que atendam as exigências desta cultura, há necessidade de fortalecimento da cadeia produtiva como um todo,  de forma  a dar suporte ao aumento da produção pretendida.

Neste sentido  a Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizada em Aracaju (SE), deu início ao projeto “Rede de Transferência de Tecnologias para Revitalização das Áreas Cultivadas com a Cultura do Coqueiro na Baixada Litorânea Tabuleiros Costeiros do Nordeste”. O referido projeto prevê a capacitação de técnicos e produtores envolvidos com a cultura do coqueiro da variedade gigante, responsável em grande parte pela produção de “coco seco”, que atende a indústria de alimentos e mercado “in natura”.

O trabalho está focado para atender prioritariamente as necessidades do pequeno produtor de coco, segmento este que corresponde à maior parte dos estabelecimentos responsáveis pela  exploração esta cultura. Além da realização de cursos para  técnicos e treinamento de produtores, o projeto prevê a instalação de Unidades Demonstrativas nos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, as quais serão utilizadas nos treinamentos e visitas realizadas  por ocasião da realização dos dias de campo.

Essas unidades serão instaladas em pequenas propriedades, selecionadas a partir de plantios atualmente estabelecidos e que apresentam potencial produtivo para dar suporte a um programa de recuperação da produção através da utilização de práticas sustentáveis de manejo, que apresentem viabilidade técnica e econômica para utilização pelo pequeno produtor de coco.

Humberto Rollemberg Fontes é especialista em fitotecnia e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros

Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

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