Publicado em: 05/10/2011 às 13:38hs
A área de terra do planeta cobre um total de aproximadamente 140 milhões de quilômetros quadrados – um pouco menos do que um terço da superfície da Terra. Apesar de tão extensos limites, sabe-se que os recursos da terra são finitos, frágeis e não-renováveis (ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS, 2002).
A atual produção mundial de alimentos é superior à capacidade de consumo dos seres humanos; entretanto, esta já se encontra seriamente ameaçada em função do uso predatório dos recursos existentes. Se não bastasse, as produções agrícolas sofrem a ação constante de desperdícios calamitosos. Por estas questões, são inúmeras as regiões que enfrentam a fome como inimigo maior (Revista FZVA, 2002).
Assim, podemos constatar que a fome não resulta de uma baixa produtividade ou de pouca produção de alimentos no mundo. A miséria advém da desigualdade do modelo de crescimento mundial, que levam alguns poucos países a um consumo excessivo, enquanto que a maior parte da população mundial, à pobreza e à fome. A realidade brasileira não é muito diferente dos padrões mundiais, uma vez que, no Brasil, o problema da fome não é, primordialmente, uma questão de oferta, mas, basicamente, de demanda, dada a enorme desigualdade existente no país e a consequente marginalização de grande parte da população (FILHO, 1995).
Até 2030, as estimativas da FAO sugerem que 57 milhões de hectares adicionais serão utilizados para cultivo na África e 41 milhões de hectares na América Latina, representando aumentos de 25% e 20%, respectivamente (FAO, 2001). Essa expansão deve ocorrer necessariamente por meio de mais conversões de florestas e bosques ou pela conversão de áreas frágeis da zona semi-árida em terras próprias para cultivo. Ambas alternativas são graves motivos de preocupação ambiental. A degradação da terra leva a uma redução significativa de sua capacidade de produção. As atividades humanas que contribuem para a degradação do solo incluem o uso inadequado de terras agrícolas, práticas inadequadas de manejo da água e do solo, desmatamento, remoção da vegetação natural e redução da biodiversidade, uso frequente de maquinário pesado, excesso de pastoreio, rotação incorreta de cultivos e práticas de irrigação inadequadas. Responsabilizando casa um dos setores, onde se observará que a agropecuária merece destaque negativo nesse ranking, as causas da degradação do solo podem ser assim distribuídas: excesso de pastoreio (35%); desmatamento (30%); atividades agrícolas (27%); exploração excessiva da vegetação (7%); e as atividades industriais (1%) (GACGC, 1994, citado em ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS, 2002).
Nesse cenário, como está a situação em nosso país? A agricultura brasileira tem frequentado com assiduidade as páginas econômicas, nos últimos tempos, pelo menos por intermédio de três temas: a) sua contribuição no crescimento da produção; b) sua posição no esforço e no aumento da exportação; e c) sua responsabilidade na situação do abastecimento do mercado doméstico e no crescimento dos índices de custo de vida (BARROS & GRAHAM, 1978). Contudo, o Brasil produz excessivamente soja, café, algodão, cacau, laranja - enfim, monoculturas cuja produção é destinada à exportação; ou seja, produtos que, em sua maioria, não são consumidos pelos brasileiros. Por outro lado, o país vê, ano após ano, ser reduzida a produção de arroz, de feijão e de mandioca, produtos que constituem a nossa base alimentar. Em anos recentes, passamos a importar alguns produtos de nossa cesta básica com recursos das chamadas divisas do superávit da balança comercial resultante das exportações agrícolas (ANDRIOLI, 2009).
Tal procedimento tem como consequência o aumento nas desigualdades sociais: contribuem para a concentração de renda nos países ricos e para o aumento da fome nos países pobres. Para exemplificar, o Brasil é o maior produtor de café em grão do mundo; no entanto, a Alemanha, país mais rico da Europa, é o maior exportador de café refinado do mundo sem produzir um único grão do referido produto (ANDRIOLI, 2009).
O fato é que a produção focada na exportação pode reduzir a oferta doméstica de alimentos por dois caminhos simultâneos: a) substituição ao nível da composição da produção (cultivando-se mais soja ao invés de arroz feijão); e b) alterações tecnológicas que privilegiam o uso intensivo da terra e equipamento, reduzindo o emprego de moradores residentes e com eles as culturas de subsistência, cujos excedentes eventuais formavam uma importante parcela da oferta que chega aos centros urbanos (BARROS & GRAHAM, 1978).
Nas últimas décadas a opção da agricultura moderna tem sido fortemente mediada pela questão da escala de produção. A mecanização intensiva pressupõe grandes áreas cultivadas que possam responder economicamente ao capital aplicado. Fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes geneticamente melhoradas completam o padrão tecnológico vigente, e são compatíveis com as grandes monoculturas. O conjunto sementes melhoradas e uso intensivo de agroquímicos, nos dias atuais, é sinônimo de uniformidade genética e lucro garantido; porém, com maior vulnerabilidade às pragas e doenças, e, portanto, maior risco à saúde e aos danos ambientais. No atual modelo de produção, as indústrias de insumos agrícolas causam graves danos ambientais; contudo, em função das pressões que vêm recebendo, em todo o mundo, dão indícios de uma preocupação inicial na alteração na sua forma de agir. Ou seja, estão abertas novas alternativas na agricultura para mudanças na forma de se produzir (CARMO, 1998).
Segundo esta mesma autora, o rearranjo estrutural das indústrias alimentares está ocorrendo em nível mundial de acordo com as características internas de cada país; ou seja, em função do seu padrão econômico, nível tecnológico e perfil distributivo de renda, o que propicia a maior ou menor incorporação de novos produtos à alimentação básica. O padrão intensivo de exploração agrícola poderá ser substituído sem ocorrer queda na produtividade, mas é mister que se invista na pesquisa agropecuária para aumentar a eficiência dos sistemas sustentáveis. É necessário um esforço da pesquisa no sentido de uma transição para uma nova agricultura, onde a manutenção e o aumento da fertilidade do solo, a preservação de outros recursos naturais e a permanência dos valores culturais das populações rurais sejam partes de um modelo de desenvolvimento com novas formas de produção e organização social. Uma exigência fundamental para a sustentabilidade é a manutenção ou a melhoria do potencial produtivo dos recursos da terra para atender às necessidades de populações atuais e futuras, concomitante com a sustentabilidade das funções vitais do ecossistema e de outros usos múltiplos da terra.
O fato é que a produção de alimentos terá de aumentar em 70% até 2050 para suprir a expansão da população mundial (FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação). Caso não sejam adotadas medidas urgentes, a entidade previu que cerca de 370 milhões de pessoas poderão passar fome daqui a 40 anos. A afirmação foi feita durante a abertura de um encontro de dois dias sobre a situação alimentar em 2050, quando a população mundial deverá ter passado dos atuais 6,9 bilhões para 9,1 bilhões. Jacques Diouf (Diretor geral da FAO) citou as mudanças climáticas, que ameaçam reduzir o potencial de produção em algumas regiões. Na África e na Ásia, por exemplo, secas e enchentes provocadas pelo aquecimento global poderão representar uma queda na produção de 30% e 21%, respectivamente. Para que isso não ocorra, Diouf disse que deve haver um "foco especial nos pequenos fazendeiros, mulheres e famílias rurais e o acesso dessas pessoas a terra, água e sementes de alta qualidade" (REVISTA ABRIL, 2009). O padrão tecnológico está em transição, em fase de mudanças. A questão está em qual será a nova direção do progresso técnico na agricultura e se existe espaço para uma agricultura sustentável em bases científicas, com condições de competir com a agricultura convencional da “Revolução Verde”.
Na realidade, o modelo convencional de produção agrícola também impactou e continua impactando a agricultura familiar, principal responsável pelos produtos que compõem a cesta básica brasileira, que para acompanhar o referido processo produtivo, precisou recorrer a empréstimos bancários, ocasionando endividamento e chegando até mesmo a perda de suas propriedades, aumentando o êxodo rural e aumento dos problemas sociais nos centros urbanos.
Como novo paradigma, a “Agroecologia” é uma ciência que surge para propor um modelo de produção agrícola baseado nas técnicas de manejo e cultivo de forma tradicional, respeitando e valorizando os conhecimentos do homem do campo e sua relação com o meio ambiente e os recursos naturais. Desacreditada por uns e defendida por outros, a Agroecologia busca consolidar suas bases científicas, de forma a quebrar paradigmas e promover um desenvolvimento que se sustente nos pilares clássicos da economia que considere os aspectos econômico, social e ambiental; ou seja, a sua proposta é que se atinja o tão propalado “Desenvolvimento Sustentável”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ANDRIOLI, Antônio Inácio. Transgênico, produção de alimentos e combate à fome. In: Revista Espaço Acadêmico, nº 90, mensal, ano VII. Novembro/2009.
• BARROS, José Roberto M. de & GRAHAM, Douglas H. A agricultura brasileira e o problema da produção de alimentos. Dezembro/1978.
• CARMO, Maristela S. do. A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável. In: Agricultura em São Paulo, SP, vol. 1, nº 45, pág. 1-15, 1998.
• ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002, pág 64-93.
• FILHO, José Juliano de Carvalho. A produção de alimentos e o problema da segurança alimentar. In: Estudos Avançados, vol. 9, nº 24. São Paulo – SP, Maio/Agosto 2005.
• MARTINS, Calor Roberto & FARIAS, Roseli de Mello. Produção de alimentos x desperdício: Tipos, causas e como reduzir perdas na produção agrícola – Revisão. In: Revista FZVA, vol. 9, nº 1. Uruguaiana – RS, 2002.
• Produção de alimentos precisa aumentar em 70% até 2050. In: Revista Abril. Outubro/2009.
Joara Secchi Candian - Bacharel em Agroecologia – 6º período – Instituto Federal Sudeste de Minas campus Rio Pomba. E-mail: joara@live.com.
Maurício Novaes Souza - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental; e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.
Fonte: Maurício Novaes Souza - Professor IF Sudeste MG - Rio Pomba
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