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Mandioca perde competitividade na região de Campinas

A mandioca tem perdido competitividade frente a culturas como a cana-de-açúcar, laranja, milho, soja e, recentemente, também a pecuária.


Publicado em: 04/06/2008 às 15:15hs

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Nos municípios de Araras e Santa Maria da Serra, que integram a região administrativa de Campinas (SP), a mandioca tem perdido competitividade frente a culturas como a cana-de-açúcar, laranja, milho, soja e, recentemente, também a pecuária, conforme pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. O município de Mogi Mirim, na mesma região, é um dos poucos onde a mandiocultura tem resistido à concorrência. Em Santa Maria da Serra, a indústria da mandioca se concentra na produção de farinha, enquanto em Mogi Mirim e Araras, algumas unidades processam também amido, mas em escala significativamente menor.

Nem mesmo os altos preços deste ano têm motivado a expansão da cultura. Segundo o Cepea, a tonelada de raiz de mandioca na região de Campinas atingiu R$ 144,88 no final de maio, o maior valor registrado pelo Centro desde 2004 e 37% superior ao do mesmo período de 2007 (R$ 105,68/t), em termos reais – deflacionado pelo IGP-DI de abril/08. Em 2007, a região produziu cerca de 115,8 mil toneladas, 8,7% a mais que em 2006 (106,4 mil toneladas), mas a expectativa é que a safra 2008/09 seja menor – não há estimativa oficial.

Pesquisas do Cepea mostram que boa parte dos produtores de Santa Maria da Serra que estão deixando ou reduzindo a área com mandioca tem conhecimento dos custos de produção e estão, portanto, aptos a estimar a rentabilidade da cultura. Cientes destes dados, porém, estão considerando outras atividades mais atraentes. Um dos itens de custo que merece análise à parte é a mão-de-obra. Muitos trabalhadores temporários mostram maior interesse por outras culturas em detrimento da mandioca, seja pela natureza do serviço seja pela remuneração média - a pecuária de corte e a criação de frangos são as que mais têm concorrido por mão-de-obra.

Em Santa Maria da Serra, especificamente, a concorrência se dá principalmente com a cana e a produção de frango de corte. Em 2007, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Santa Maria da Serra diminuiu em 51% a área com cana, fato que se deu pelo acréscimo na área cultivada com laranja e também pela rotação de cultura. Acredita-se que agora, estaria retomando parte dos 2.700 hectares que deixaram de ter essa cultura no ano passado.

Já em Araras, a área com cana cresceu 8,6% entre as safras 2005/2006 e 2006/2007 e, em Mogi Mirim, a expansão foi de 5,4%. Em igual período, houve aumento de 2,6% na área cultivada de laranja em Araras e de 11,6% em Mogi Mirim.

Entre 2002 e 2007, segundo o IEA, a produção de mandioca para a indústria diminuiu 62,5% em Santa Maria da Serra, enquanto em Araras, a redução foi de 33,3%. Em Mogi Mirim, o volume permaneceu estável no mesmo período (Tabela 1).

A área cultivada com mandioca em Santa Maria da Serra diminuiu de 800 hectares em 2002 para 500 ha em 2007 (queda de 37,5%). A produtividade, no período, recuou 40%, evidenciando a falta de interesse em se investir na cultura. Em Araras, nos mesmos seis anos, a área plantada reduziu 25% e a produtividade caiu 11%. Já em Mogi Mirim, houve crescimento de 11% da área, mas a produtividade recuou 10%.

Tabela 1 – Produção e área cultivada de mandioca para a indústria nos municípios selecionados entre 2002 e 2007.

Anos
Santa Maria da Serra
Araras
Mogi Mirim
Produção (t)
Área cultivada (ha)
Produção (t)
Área cultivada (ha)
Produção (t)
Área cultivada (ha)
2002
14000
800
9000
400
40000
1800
2003
10500
700
9000
450
40000
1800
2004
5250
500
9000
450
32000
1800
2005
5250
550
9000
450
32000
1800
2006
5250
500
6600
250
40000
2000
2007
5250
500
6000
300
40000
2000

Fonte: Instituto de Economia de Economia Agrícola (IEA), 2008.
Elaboração: Cepea-Esalq/USP.
 
A produtividade média de São Paulo é uma das maiores do mundo – a mundial corresponde a 12,1 toneladas/ha –, sendo que, no estado, as regiões de Assis e de Ourinhos lideram o ranking. Campinas vem na seqüência, mas com índices bem abaixo dos daquelas praças, conforme se vê na tabela 2.
 
Tabela 2 – Produtividade agrícola da mandioca entre 2002 e 2007 – toneladas de raiz por hectare.

 
Estado de
São Paulo
Região Administrativa de
Campinas
Santa Maria da Serra
Araras
Mogi Mirim
2002
20,47
24,21
17,50
22,50
22,22
2003
19,63
23,20
15,00
20,00
22,22
2004
15,19
20,24
10,50
20,00
17,78
2005
15,92
20,21
9,55
20,00
17,78
2006
17,07
20,46
10,50
26,40
20,00
2007
26,14
20,38
10,50
20,00
20,00

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA), 2008.
Elaboração: Cepea-Esalq/USP.
 
Segundo pesquisadores do Cepea, a atual perda de área da mandioca volta a evidenciar a necessidade de avanços na cadeia produtiva da mandioca. Produtores e indústrias precisam alcançar uma maior coordenação que reduza a volatilidade de oferta e preços, que tradicionalmente caracteriza o setor. Além disso, há de ser analisadas as diferenças da estrutura da cadeia mandioqueira entre os municípios produtores de raiz.

Fonte: Lucilio Alves e Fábio Isaias Felipe

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