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Desafios para aumentar a produtividade e a sustentabilidade da produção de grãos na região dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste


Publicado em: 09/11/2010 às 17:19hs

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Embora as culturas perenes e semi-perenes componham as principais atividades agrícolas dos Tabuleiros Costeiros, a produção de grãos, seja de cereais ou de oleaginosas, precisa ser intensificada de modo que essa região não seja tão dependente do fornecimento dessas commodities por outras regiões do País, como a região dos Cerrados. Aproximadamente 50% da população da região Nordeste vivem em áreas de Tabuleiros Costeiros, sendo consequentemente a região que apresenta o maior consumo de alimentos e a maior demanda energética.

Os Tabuleiros Costeiros apresentam potencial agrícola expressivo, pois boa parte das áreas apresenta relevo plano a suave ondulado, além de possuir regime pluviométrico mais favorável do que o observado em outros ambientes do Nordeste, como o agreste e o semi-árido. Apesar disto, os solos dos Tabuleiros Costeiros apresentam algumas limitações como: baixa capacidade de retenção de água e de nutrientes e a presença de camadas coesas na subsuperfície dos solos.

Dentre vários aspectos que envolvem os sistemas de produção de grãos dessa região, dois merecem destaque e serão analisados no presente texto: 1) O predomínio do sistema de preparo convencional do solo, por meio de arações e gradagens; 2) A não utilização de sistemas de rotação de culturas.

Em relação ao primeiro ponto, a alternativa viável do ponto de vista da sustentabilidade, seria a adoção do Sistema de Plantio Direto nas áreas de produção de grãos. Tal procedimento já solucionaria o segundo ponto abordado, pois uma das premissas do plantio direto é a rotação de culturas.

Normalmente, nessa região são registrados cinco meses de precipitação pluviométrica adequadas do ponto de vista agrícola, sendo esse período compreendido entre os meses de maio e setembro. Ensaios preliminares realizados pela Embrapa Tabuleiros Costeiros no município de Lagarto-SE, mostraram a possibilidade de se fazer duas safras por ano na região, desde que as culturas postas em sucessão apresentem ciclo curto, sendo que a segunda cultura a entrar na área apresente maior tolerância ao déficit hídrico. Dentre as várias combinações avaliadas, as mais promissoras foram: soja seguida de sorgo, ou soja seguida de girassol. Algumas considerações sobre esses esquemas de rotação: A soja nessa região apresentou ótima sanidade - o que traz uma economia, principalmente no tocante a aquisição de fungicidas – e as variedades apresentam ciclo mais curto em relação à Região Centro-Sul do Brasil – o que favorece a realização da segunda safra. A opção por girassol como cultura de safrinha pode ser interessante sob o ponto de vista comercial, já que a compra dos grãos é praticamente garantida, principalmente pela forte atuação da Petrobrás Bicombustíveis na região. Todavia, o sorgo, além da produção de grãos, apresenta a capacidade de rebrota, e pode ser utilizado para a alimentação animal na entressafra, o que caracterizaria um Sistema de Integração Lavoura-Pecuária. Mas esses sistemas de rotação de culturas podem ter alguns pontos críticos, como: a ocorrência de chuvas no período da colheita da soja, situação muito comum enfrentada pelos sojicultores do Estado do Mato Grosso; o atraso no início das chuvas, pois a semeadura da cultura de segunda safra não poderia ultrapassar a segunda/terceira semana de agosto; e a falta de infraestrutura para o armazenamento de grãos na Região, fundamental para culturas como a soja.

A cultura do milho, que apresenta produção expressiva de palhada fundamental para a condução do Sistema de Plantio Direto, poderia entrar no esquema de rotação do ano seguinte, contudo nesse caso, sendo a única cultura no ano, pois apresenta ciclo mais longo, o que impediria a realização da safrinha. Nesse caso seria configurado o seguinte esquema: primeiro ano – soja seguida de girassol ou sorgo; no segundo ano – milho; voltando a rotação do primeiro ano novamente e assim sucessivamente.

É importante ressaltar que a sustentabilidade da produção agrícola depende fundamentalmente da diversidade agrícola e da proteção do solo.

Sergio de Oliveira Procópio e Marcelo Ferreira Fernandes são Pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE)

Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

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