Publicado em: 28/08/2009 às 11:11hs
Essa técnica já vêm sendo utilizada no país há vários anos em diferentes culturas agrícolas e na pecuária. Ela também apresenta um potencial enorme para ser cada vez mais difundida, dada a grande ênfase que há atualmente na preocupação ambiental e na sustentabilidade.
Ao se abordar esse tema, é importante se entender bem o conceito de controle biológico, e existem várias formas de se defini-lo. Aqui ele é compreendido como o método que consiste no controle de pragas por meio de inimigos naturais, que são os organismos que mantém os níveis de população dessas pragas em equilíbrio. O controle biológico deve ser considerado um componente de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), ao lado de outros métodos de controle de insetos.
Alguns organismos, que são 100% naturais, possuem maior potencial para o controle biológico de pragas, como os fungos, bactérias, vírus, alguns predadores e insetos parasitóides. É possível multiplicá-los em maior escala em laboratórios, além de ser fácil aplicar ou liberá-los no campo. Nenhum deles é prejudicial ao ser humano ou ao meio ambiente, pois atuam especificamente em insetos.
Novos resultados de pesquisa têm ajudado a aperfeiçoar técnicas de produção e liberação de predadores e parasitos. Isso ocorre principalmente na produção de patógenos, que envolve novas técnicas de produção em larga escala, formulação, armazenamento e de aplicação no campo visando um aumento da eficiência desses inimigos naturais contra diferentes pragas.
A utilização do controle biológico apresenta várias vantagens sobre o uso de inseticidas. O controle apresenta especificidade na maioria das vezes, isto é, age apenas em relação à praga visada, sem afetar outros insetos e inimigos naturais. Esses organismos utilizados apresentam capacidade de multiplicação e dispersão natural no campo. Por isso, podem ser inseridos na lavoura por meio de liberação simples no campo ou aplicação com equipamento convencional. Além de não causar poluição ou toxicidade, o método permite controle mais duradouro, pois os insetos-praga dificilmente poderão se tornar resistentes aos patógenos ou ao ataque de predadores e de parasitos.
Não se pode deixar de lado as vantagens econômicas para o produtor que utiliza o controle biológico. Os produtos utilizados nesse método normalmente são mais baratos que os produtos químicos. Além disso, esse controle pode ser pode ser utilizado em cultivos orgânicos, que é um mercado que está em franca expansão por produz alimentos mais saudáveis.
Principais inimigos naturais utilizados
O fungo benéfico Metarhizium anisopliae é utilizado para o controle da cigarrinha-da-folha da cana-de-açúcar no Nordeste e da cigarrinha-da-raiz da cana no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Ele vem sendo utilizado em grande escala desde a década de 70 e está sendo cada vez mais aperfeiçoado pela pesquisa e, conseqüentemente, mais eficiente ao longo do tempo. Praticamente todas as áreas de produção de cana orgânica utilizam esse tipo de controle.
O mesmo fungo, Metarhizium anisopliae, também é benéfico para a pecuária. Ele é utilizado no controle de cigarrinha-das-pastagens nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. A vantagem de sua aplicação é que não é necessário retirar o gado da pastagem durante a aplicação. Como resultado também é possível produzir carne de qualidade, sem resíduos de agrotóxicos.
A bactéria benéfica Bacillus thuringiensis (Bt) é utilizada no controle de várias pragas. A bactéria Bt variedade kurstaki é utilizada no controle de lagartas desfolhadoras de grandes culturas e reflorestamentos. E a bactéria Bt variedade israelensis é utilizada no controle de larvas de pernilongos e borrachudos. Existem vários produtos a base de Bt à venda no Brasil como: Agree, Bac-Control, Bactur WP, Dipel SC, Dipel WG, Dipel WP, Ecotech Pro, Thuricide e Xentari.
Na saúde pública, existem alguns biolarvicidas a base de Bt variedade israelensis para o controle de pernilongos e borrachudos como: Aquabac XT, Bactivec, Bt-horus SC, Teknar HPD, Vectobac AS, Vectobac CG e Vectobac WDG. Existem também biolarvicidas utilizando a bactéria Bacillus sphaericus e têm-se no mercado brasileiro os produtos Grislesf, o Sphaerus SC e o Spherico SC e Vectolex CG.
Sobre a utilização de viroses benéficas no controle biológico de pragas temos o Baculovirus anticarsia para o controle da lagarta da soja e o Baculovirus spodoptera para o controle da lagarta do cartucho do milho. Atualmente existem vários produtos biológicos a base de Baculovirus no Brasil, como: Baculovirus AEE, Baculovirus Nitral, Coopervírus PM e Protege. A maioria das biofábricas está localizada no Paraná e Rio Grande do Sul.
Temos ainda os insetos parasitóides que controlam insetos-praga como a vespinha Cotesia flavipes utilizada no controle da broca-da-cana-de-açúcar e a vespinha Trichogramma que também é utilizada para o controle biológico da broca-da-cana e de lagartas do algodão.
Esse é apenas um panorama resumido dos principais inimigos naturais utilizados no controle biológico de insetos-praga no Brasil. A difusão de informações e o maior conhecimento do produtor sobre o assunto contribui para o aumento do uso adequado do controle biológico de insetos-praga, o que favorece toda a população. A longo prazo, isso pode significar diminuição dos resíduos químicos nos alimentos, da contaminação dos recursos naturais e das intoxicações dos trabalhadores rurais brasileiros.
Roberto Teixeira Alves - Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Cerrados - Planaltina/DF
E-mail: ralves@cpac.embrapa.br
Fonte: Embrapa Cerrados
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