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Como alimentar nove bilhões de pessoas em 2050?

Leia artigo do presidente da Aprosoja sobre os desafios mundiais e o papel do Brasil na produção de alimentos nas próximas décadas


Publicado em: 18/07/2012 às 11:43hs

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"Em 2050 seremos nove bilhões de pessoas: o que faremos para superar isto de forma sustentável, produzindo mais na mesma área e evitando o desperdício?

Foi apresentada para o Brasil, pelo Economist Intelligence Unit, uma ferramenta que gera índices para medir os vários influenciadores da questão alimentar mundial. Foram avaliados em 105 países, inclusive no Brasil, os principais fatores positivos e negativos na produção de alimentos. O principal objetivo desse índice é auxiliar os países a fazerem seu dever de casa, aumentando a produtividade e diminuindo o desperdício, afinal, mais de um bilhão de pessoas passam fome hoje em dia e a metade de todo alimento produzido é desperdiçado.

O maior desafio deste século é alimentarmos o mundo. Em 2050 seremos nove bilhões de pessoas, sendo assim, o questionamento é: o que faremos para superar isto de forma sustentável, produzindo mais na mesma área e evitando o desperdício? Quais são as ameaças à produção, distribuição e segurança desses alimentos? E, principalmente, o que faremos para permitir que as pessoas tenham acesso a eles?

Tem se falado muito em segurança alimentar, mas o que realmente isso significa? Segurança alimentar é quando dispomos de alimentos suficientes e as pessoas possuem renda suficiente para adquiri-los. Fica claro que, isoladamente, será impossível alcançar a segurança alimentar mundial, mas, sem dúvida, juntos poderemos alimentar o mundo, daí a necessidade de identificar as potencialidades mundiais e criar mecanismos para a produção sustentável.

Nas primeiras avaliações do Global Food Securit Index (índice que mede a eficiência alimentar dos países) pode-se observar que o desafio é muito grande para diminuir a desigualdade entre os países. Em algumas nações da Ásia e África, por exemplo, as pessoas gastam mais de 50% de sua renda com alimentos. No Brasil, esse gasto chega a 20%.

O fator desperdício é crítico. Enquanto mais de um bilhão de pessoas passam fome, e outro bilhão se alimenta muito mal, países do dito primeiro mundo desperdiçam muitos alimentos. Desperdício é fator limitante para a sustentabilidade e segurança alimentar do mundo, é preciso focar nisso e criar um modelo de orientação global. Mesmo um país como o Brasil - que tem lutado muito para que nenhuma pessoa passe fome - muito alimento é jogado na lata de lixo ou perdido na colheita e no transporte.

A África lidera com os piores índices de segurança alimentar do mundo, sendo assim deve ser o foco global nos próximos anos não como fornecedor de alimentos, mas por meio da criação de mecanismos para amenizar a falta e a dependência de importação. Não basta somente buscar o aumento da renda dos países, é preciso buscar formas para que os alimentos fiquem mais baratos.

A posição do Brasil é baixa entre os 105 países. Estamos na 31ª colocação, isso porque dos 25 principais pontos estudados muitos independem de política agrícola, e estão, na verdade, relacionados com a infraestrutura e a renda. Mas independentemente da nossa colocação, a expectativa mundial em torno do Brasil é muito grande.

Segundo alguns institutos internacionais, o mundo até 2020 crescerá 20% em produção de alimentos e o Brasil terá um crescimento de 40% na produção com um incremento de apenas 16% de área. Vejam a responsabilidade, já que o incremento da produção em países tradicionais como EUA será de 15%, na China 15% e em toda a Europa, 4%.

Em todos os setores analisados pela OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil terá um crescimento na produção de carne, frango, soja, milho e açúcar acima da média mundial. Para se ter uma idéia, no setor de carnes o Brasil crescerá 4,3% ao ano, enquanto a produção mundial crescerá 2,5%. Na soja, cresceremos o dobro do mundo, com cerca de 3,6% enquanto o mundo deve crescer 1,8%. Isso demonstra uma grande oportunidade e um grande desafio.

Mas o estudo gerado pelo Global Food Securit Index mostrou também as nossas vantagens como terra. Dispomos de 85 milhões de hectares por cultivar entre pastagens e novas áreas (se for permitido); somos fortes em recursos humanos e em tecnologia e gestão. Os pontos fracos do Brasil são os velhos conhecidos: falta de infraestrutura, distribuição de renda e investimentos em pesquisa.

Para termos uma ideia da importância da pesquisa, o aumento de produtividade nas diversas culturas economizou 60 milhões de hectares ao Brasil, mas ainda em algumas culturas nossa produtividade média é baixa. No milho, por exemplo, nossa produtividade é a metade da produtividade dos EUA.

Pesquisa é um fator gerador de tecnologia e renda ao campo, mas o Brasil tem empregado pouco recurso na área. Em 2011 empregou 1,3% do PIB em ciência e tecnologia, e em 2012 deve empregar apenas 0,9%, o que é um retrocesso e falta de objetividade.

A pergunta é: qual a ação prioritária para o Brasil no setor da produção? Sem dúvida é infraestrutura, pois ela barateia os alimentos, diminui o desperdício e gera renda, fundamental na garantia da sustentabilidade do campo.

O Brasil precisa de um programa estratégico de desenvolvimento da produção, com política pública integrada e contínua, não dá para mudar a cada troca de ministro. Os ministérios precisam se falar, planejar, dar continuidade e cumprir. A estratégia tem que ser integrada, o financiamento tem que sair na hora certa. A estrada também. O armazém tem que ser construído e o porto ampliado e modernizado. A logística integrada. O Brasil tem tido uma política dispersa e isso tem custado caro a todos nós.

Glauber Silveira é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e-mail: glauber@aprosoja.com.br Twitter: GlauberAprosoja

Fonte: Assessoria de Comunicação Aprosoja Brasil

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