Publicado em: 09/02/2012 às 15:00hs
O contínuo crescimento da população mundial e a melhoria de qualidade das dietas estão demandando do setor produtivo cada vez mais alimentos. A revolução verde, que garantiu o suprimento de alimentos para uma crescente população mundial, já não é mais suficiente.
A agricultura agora é desafiada a duplicar a produção para alimentar nove bilhões de pessoas em algumas décadas, o que nos impõe a necessidade de iniciar uma segunda revolução verde com desafios ainda maiores: duplicar a produção de alimentos através de uma agricultura sustentável. A revolução verde foi fruto do desenvolvimento de técnicas de cultivo, sementes, adubos e defensivos que permitiu um grande crescimento da produtividade agrícola. A partir de agora, a produtividade apenas não basta, é preciso buscar a sustentabilidade de uma produção agrícola muito maior que a atual.
O efeito estufa e as consequentes mudanças climáticas em escala global são realidades incontestes. É preciso agir rápido e consistentemente para entender melhor os seus efeitos sobre a agricultura atual e mitigá-los. Da mesma forma, a escassez de água em determinadas regiões do mundo (e do nosso país) nos mostram a dimensão do problema e confirmam a possibilidade de exaurirmos esse recurso natural fundamental para nossa existência.
A agricultura irrigada é uma das soluções para isso. Ao intensificar o uso do solo diminui-se a necessidade de novas áreas de cultivo para aumentar a produção agrícola. De maneira geral, a agricultura irrigada é pouco mais de três vezes mais produtiva que a agricultura de sequeiro. No entanto, em atividades como a produção leiteira, a irrigação aumenta a produtividade em mais de 12 vezes. Precisamos lembrar que no Brasil temos 200 milhões de hectares de pastagens. Com o uso mais intensivo dessa área, além do acréscimo de produção, também teríamos liberação de novas áreas para a expansão das culturas – inclusive as energéticas. Sem necessidade de desflorestamento.
Especialmente no cerrado, a agricultura irrigada favorece o uso do plantio direto. Essa técnica conservacionista é uma importante mitigadora de emissão de gases do efeito estufa. Estudos recentes mostram que a quantidade de carbono no solo é muito superior à da atmosfera. Com isso, ao evitar o revolvimento do solo, o plantio direto mantém esse carbono no solo, ao contrário do cultivo tradicional onde os solos são lavrados. A irrigação viabiliza as culturas de inverno melhorando a cobertura do solo. Por esses motivos o setor busca agora a inclusão da agricultura irrigada no programa Agricultura de Baixo Carbono do Ministério da Agricultura e Abastecimento.
Além da eficiência em relação ao uso do solo, a agricultura irrigada também deve ser analisada quanto a sua eficiência no uso da água. A atividade é responsável por 70% do volume de água retirado dos mananciais no Brasil, segundo o Relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA). A mesma fonte mostra que a água é subutilizada na imensa maioria do território nacional. Temos um potencial de quase 30 milhões de hectares irrigáveis, considerando a adequação dos solos e a disponibilidade de recursos hídricos – hoje usamos apenas 15% disso.
O controle da umidade do solo na agricultura irrigada permite o uso das áreas ao longo de todo o ano (no cerrado são cinco colheitas em dois anos). Além disso, reduz sensivelmente o risco da atividade agrícola e, principalmente, permite o cultivo de produtos de alto valor agregado. Pouco mais de 5% da área cultivada no Brasil é irrigada, mas o valor da produção é 35% do total – uma produtividade sete vezes maior. Atrelado a esse brutal aumento da produtividade vem o incremento de renda, geração de empregos e impostos, além da segurança alimentar. Estudos mostram que, nas últimas décadas, o crescimento do IDH em municípios do Nordeste onde a agricultura irrigada é forte foi muito superior à média da região.
Os benefícios da agricultura irrigada são inegáveis, assim como seu impacto ambiental. Partindo do princípio que toda atividade humana gera impacto ambiental a questão é pesar os prós e os contras de cada uma delas. Não é aceitável que o crescimento econômico e social aconteça à custa da degradação ambiental, esse é o princípio da sustentabilidade. Mas também não seria sustentável a preservação ambiental ser motivo de estagnação econômica e falta de desenvolvimento social.
Eis o enorme desafio que temos pela frente.
Marcelo Borges Lopes - Diretor-Presidente da Valmont Indústria e Comércio e Vice-Presidente da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
Fonte: VALLEY VALMONT
◄ Leia outros artigos