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A previsão da safra 2010/11 e os mercados da soja e do milho


Publicado em: 15/10/2010 às 01:50hs

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O primeiro levantamento de previsão da safra brasileira 2010/11, divulgado pela CONAB neste mês, evidencia a ocorrência de crescimento na área cultivada da primeira safra de feijão (1,6% a 3,3%) e da soja (1,3% a 3,1%) e queda na área de milho (-2,2% a -3,5%).  Considerando as 15 principais culturas de verão e de inverno, a área cultivada poderia crescer 1,3%, se as áreas a serem cultivadas na segunda safra e no inverno fossem as mesmas de 2010.

A previsão de produção não deverá repetir o recorde alcançado na safra 2009/10 (148,8 milhões de toneladas), devido a ocorrência de clima adverso (La Niña), com chuvas abaixo do normal e mal distribuídas no tempo e no espaço e possibilidade de inverno mais rigoroso. Foi inicialmente estimada entre 145,7 a 147,9 milhões de toneladas, verificando-se queda de 8,7% a 10,4% na primeira safra de milho e de até 1,5% na de soja e aumento de 13% a 16,1% na primeira safra de feijão.

A situação encontrada no Paraná não é diferente. Os baixos preços recebidos pelos produtores nas duas últimas safras e a menor liquidez levaram a uma redução de 13% a 16% na área cultivada de milho em 2010/11, com possibilidade de queda na produção entre 18,3% a 21,1%. Registra-se que esta será a segunda safra seguida em que se verifica queda de área cultivada no Estado, o maior produtor brasileiro do cereal. A melhor liquidez e rentabilidade da soja e a perspectiva de aumento no preço do feijão, principalmente o cores, levaram ao aumento na estimativa da área das duas culturas, de 1,2% a 3,2% e de 2% a 6% em 2010/11, respectivamente. Mas as estimativas de produção tendem a ser menores nas duas culturas, de até 2% e 2,8%, respectivamente, e comparando com os volumes colhidos na safra 2009/10.

A seca ocorrida no Paraná em setembro retardou o plantio do feijão e do milho, que só foi recuperado após as precipitações verificadas na última semana de setembro e neste início de outubro e já atinge cerca de 50% das áreas das duas culturas. O plantio da soja está adiantado e já ocorreu em aproximadamente 10% da área prevista.

O mercado mundial e as cotações internacionais da soja, milho e trigo mudaram radicalmente após o mês de agosto. Provocaram esta mudança a seca que reduziu a safra mundial do trigo em mais de 41 milhões de toneladas nesta safra 2010/11 em relação a anterior; a queda de 4,6 milhões de toneladas na safra mundial de soja 2010/11 em relação a anterior; a queda na estimativa da safra mundial de milho em 6,4 milhões de toneladas de setembro para outubro; e a queda de 21,8  e de 15,7 milhões de toneladas  nos estoques inicial e  final mundiais do trigo e do milho em 2010/11. O retorno da especulação dos fundos com os títulos de commodities e a recuperação da economia mundial, que traz reflexo positivo sobre a demanda destes produtos, já estavam ocorrendo durante o primeiro semestre e continuam a afetar positivamente as cotações.

As cotações internacionais do milho passaram de U$ 3,5 a 4,5 para U$ 4,5 a 5,9/bushel, da soja de U$ 9,3 a 10,5 para U$ 10,0 a 12,0/bushel e do trigo de U$ 4,5 a 5,5 para U$ 6,0 a 7,7/bushel.

Agora o mercado começou a ficar mais atento e a precificar a possível queda da safra sul-americana da soja e do milho em volume maior do que o previsto, devido ao fenômeno climático la niña, que já provocou o retardamento do plantio da primeira safra de milho no sul do Brasil e poderá causar chuvas abaixo da média e mal distribuídas, principalmente nos meses de novembro e dezembro deste ano e no início do próximo . A seca deverá ser maior na Argentina, no Paraguai, no norte do Rio Grande do Sul, no oeste de Santa Catarina e no sudoeste e oeste do Paraná.

Diante do quadro exposto, a melhor estratégia de comercialização do milho ainda em mãos dos produtores (8% da primeira safra e 50% da segunda) é a venda em pequenos lotes, de forma parcelada, até o mês de fevereiro do próximo ano. E da futura safra de soja, que está sendo plantada, é a venda antecipada de uma pequena parcela, em torno de 20%, como os produtores já efetuaram e aproveitando as cotações atuais. O restante deve ser deixado para mais tarde, aguardando a evolução do clima sobre o andamento da safra. Se a seca indicada pelos climatologistas de fato acontecer, a quebra da safra sul-americana tem grande probabilidade de ser maior do que as previsões e as cotações futuras da soja e do milho poderão experimentar novos aumentos em novembro e dezembro e durante o primeiro semestre do próximo ano.

Por fim, um comentário sobre a taxa de câmbio, que é fundamental para compor os preços em reais recebidos pelos produtores. Mesmo considerando as recentes medidas que foram tomadas pelo governo, ela está baixa e vai continuar baixa, oscilando no intervalo entre R$ 1,65 a 1,75, em curto prazo.

Eugenio Libreloto Stefanelo é técnico da Superintendência Regional da Conab no Paraná / eugenio.stefanelo@conab.gov.br

Fonte: Assessoria de Imprensa da Ocepar/Sescoop-PR

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