Milho e Sorgo

Fila para receber milho da Conab

Os agricultores do Centro-Sul estão esperando a chegada do milho na Conab da cidade de Iguatu


Publicado em: 05/09/2012 às 15:30hs

Fila para receber milho da Conab

Centenas de produtores rurais de Municípios do Centro-Sul enfrentam longa espera para adquirir milho do Programa de Venda em Balcão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta cidade. O transtorno deixa os agricultores cansados e ainda ocorre a incerteza se recebem ou não os grãos, cujo estoque é insuficiente para atender a demanda regional.

No fim da tarde desta segunda-feira, um grupo de produtores rurais de Acopiara e Quixelô começou a chegar ao armazém da Conab, na cidade de Iguatu. Os agricultores passaram a noite e a madrugada, em frente ao portão da unidade. Alguns ficaram sentados e deitados sobre o asfalto e outros dentro da carroceria de caminhões. Essa cena vai se repetir nos próximos três dias, previstos para a venda do milho para os Municípios de Acopiara, Quixelô e Iguatu.

A reclamação é geral. Pela manhã os produtores são atendidos para o preenchimento de boleto de pagamento no sistema bancário e somente no período da tarde o milho é entregue. "O nosso sofrimento é grande porque a gente passa mais de 12 horas, em pé, acordado, na esperança de ser atendido no dia seguinte e muitas vezes não dá certo", disse o criador, Luis Soares Oliveira, do Distrito de Santo Antônio, zona rural de Acopiara. "Eu já dei cinco viagens perdidas, e não recebi nada".

Homens e mulheres vindos de Acopiara esperaram por toda a noite e madrugada. "O gado está morrendo de fome e em algumas comunidades sequer há água", disse o produtor rural, Ivan Costa. "A gente só vem para cá porque tem precisão". O criador Manoel Moreira de 70 anos de idade, morador do sítio São João, em Acopiara, disse que amanheceu muito cansado por causa da longa espera no meio da rua. "Se tivesse transporte, eu teria desistido", disse. "É muito sofrimento para quem já é idoso".

Os produtores rurais reclamam da falta de informação e organização por parte da Conab. "Deveria ter um atendimento mais organizado e a seleção daqueles que vão receber o milho deveria ser feito antes, com antecedência, para evitar essa espera ao longo da madrugada", observou o produtor, Francisco Lopes.

No armazém da Conab, em Iguatu, havia 200 toneladas de milho em estoque. O temor de que a quantidade é insuficiente para atender a demanda faz com que produtores de outros Municípios antecipem a busca pela venda do grão. Ontem, de acordo com o calendário da Conab, o atendimento era destinado para os criadores de Acopiara, mas já havia produtores de Quixelô e mesmo de Iguatu querendo comprar o produto. "É por causa do nosso desespero que é grande, pois o gado está passando fome", disse o criador José Roberto Soares.

No mês de agosto e agora no início de setembro, o reduzido estoque de milho nos armazéns da Conab e o atraso no transporte dos grãos dos centros produtores para o Ceará provocaram um desabastecimento para os criadores. "A situação é crítica e se agrava a cada dia por causa da seca registrada neste ano", observou o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya. Recentemente, a Faec promoveu em Fortaleza uma reunião com os presidentes de sindicatos rurais com o objetivo de planejar uma mobilização nos armazéns da Conab e enviar para o Governo Federal um documento solicitando apoio para a transferência de maior quantidade de milho para o Estado. A quota de milho prevista inicialmente para o Ceará não está chegando.

No campo, a situação é de desespero por parte dos criadores para assegurar alimentação ao rebanho, bovino, ovino, suíno e aves. A falta de estoque de milho decorre do fato de que os caminhoneiros preferem fazer o transporte para Estados próximos às áreas de produção, regiões Sul e Centro-Sul, pois conseguem frete de retorno, a trazer o produto para o Nordeste. O valor do frete contrato inicialmente pela Conab está defasado.

O Ceará necessita de 25 a 35 mil toneladas/mês, mas não recebe com regularidade sequer duas mil toneladas por mês. "Não faltou aviso, pois há mais de dois meses nós vimos alertando as autoridades sobre a situação que vinha se agravando e a demora na remessa de estoque", disse Saboya.

O milho vai atender agricultores familiares, que possuem a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e produtores rurais para alimentar o rebanho. Para os agricultores familiares, a saca de 60 quilos será vendida a R$ 18,10 e para os demais produtores a R$ 21,00. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) assumiu o compromisso com o Estado do Ceará para que, até o fim de setembro, mais de 31 mil toneladas de milho sejam distribuídas.

Os números revelam o crescimento da demanda por grãos para alimentar o rebanho no sertão do Ceará. Antes da seca, a Conab só tinha cadastrado 10 mil produtores rurais. Agora, são 40 mil inscritos para obtenção do milho do Programa Vendas em Balcão.

A reportagem entrou em contato com a superintendência da Conab em Fortaleza, mas as informações somente são repassadas pela Assessoria de Imprensa do órgão em Brasília, que até o fechamento desta edição não enviou esclarecimentos sobre o estoque de milho no Estado e a sistemática de atendimento aos criadores.

Mais informações:

  • Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec)
  • Fone: (85) 3535.8000
  • Superintendência da Conab no Ceará. Telefone: (85) 3252.1722

Fonte: Diário do Nordeste

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