Publicado em: 03/07/2013 às 14:00hs
A Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas) inicia em julho a campanha nacional de conscientização “Manejo Integrado da Tecnologia Bt”. O objetivo é orientar os produtores sobre as boas práticas de manejo de resistência de insetos nas lavouras de milho Bt, o milho geneticamente modificado resistente a pragas, que possibilita a racionalização do uso de defensivos, bem como proteger o potencial de rendimento da lavoura.
“O manejo integrado da resistência (MIR) é uma iniciativa fundamental para evitar o processo de seleção de insetos-praga resistentes às toxinas produzidas pelas plantas geneticamente modificadas e preservar a eficiência e o potencial da tecnologia Bt, evitando prejuízos à lavoura”, afirma José Américo Pierre Rodrigues, superintendente executivo da Abrasem.
Coordenada pela Associação Paulista dos Produtores de Sementes (APPS), a campanha institucional “Manejo Integrado da Tecnologia Bt” é resultado de um grupo de trabalho da Abrasem, do qual fazem parte técnicos das empresas produtoras de sementes.
Além de anúncios nos principais veículos de comunicação especializados no setor e material de divulgação, a campanha tem como um de seus principais trunfos a realização de palestras para os produtores, ministradas por alguns dos principais consultores em entomologia do país. Outra importante ferramenta é o site do projeto, que pode ser acessado no endereço www.boaspraticasogm.com.br e que traz todas as informações necessárias para o produtor, incluindo dados técnicos, além de artigos e a programação de palestras.
O milho Bt é obtido por meio da transformação genética de plantas de milho com genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), fazendo com que a planta produza proteínas tóxicas para algumas espécies de insetos. A tecnologia, criada em 1997 nos Estados Unidos, espalhou-se rapidamente devido a sua eficiência e há pouco mais de cinco anos é utilizada no Brasil, representando atualmente cerca de 80% das sementes de milho comercializadas no país.
Mesmo com a produção contínua das toxinas ao longo do ciclo, as plantas Bt podem não controlar todas as pragas existentes, pois na população destas podem existir indivíduos naturalmente resistentes. Daí a importância do manejo integrado.
Segundo Rodrigues, investindo simultaneamente no plantio de refúgio (plantio de áreas de milho não Bt adjacentes à plantação de milho Bt) e em outras práticas como a dessecação antecipada seguida de inseticida, controle de plantas daninhas, tratamento de sementes, monitoramento seguido de inseticida e rotação de culturas, o produtor conseguirá garantir a longevidade da tecnologia.
Os pesquisadores consideram que a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de populações de insetos resistentes ao milho Bt é combinar lavouras de milho Bt com áreas plantadas com híbridos sem a tecnologia Bt. Dessa forma, os poucos possíveis insetos resistentes que sobreviverem na lavoura Bt irão cruzar com insetos suscetíveis presentes na lavoura de milho não Bt. Algumas possibilidades de "desenho" da lavoura, utilizando refúgio, estão disponíveis no site da campanha.
“A indústria fez a parte dela ao disponibilizar essa tecnologia, que foi um grande achado para a agricultura mundial. Mas é necessário que o produtor adote as práticas corretas de manejo de resistência de insetos para evitar a evolução dessa resistência”, explica José Magid Waquil, PHD em entomologia, que integra o grupo de consultores contratados pela Abrasem para a realização das palestras.
Na opinião de Waquil, a campanha de conscientização dos produtores é de extrema importância. “O otimismo é uma característica inerente ao produtor rural, faz parte de sua natureza. Com isso, existe um sentimento de que a indústria sempre conseguirá se superar e criar novas tecnologias que solucionem os problemas. Mas o agricultor precisa entender que a capacidade da ciência não é infinita e que ele precisa fazer a parte dele” define.
Cássio Camargo, diretor executivo da APPS, comenta que o produtor de milho brasileiro já possui amplo conhecimento das práticas corretas de manejo, mas ainda não partiu da teoria para a prática. “As medidas necessárias envolvem esforço e investimento, mas é preciso entender que são a única forma de o produtor evitar prejuízos no futuro”, resume.
As campanhas de conscientização da Abrasem estão sendo realizadas desde 2009, logo após a chegada do milho Bt ao Brasil. Inicialmente, as ações focavam apenas o plantio de áreas de refúgio, que é a principal prática de manejo. “Hoje já há o entendimento de que somente o refúgio não é suficiente e que o mais apropriado é adotar o manejo integrado, em um conjunto de ações simultâneas.”
As palestras para os produtores acontecerão ao longo do segundo semestre nas principais cidades produtoras dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
As boas práticas de manejo de resistência de insetos:
1 - Adoção de áreas de refúgio – O plantio e a manutenção das áreas de refúgio representa o principal componente do plano de Manejo Integrado da Resistência (MIR) das culturas Bt. O objetivo do refúgio é manter uma população de insetos-praga-alvo da tecnologia Bt sem exposição à proteína Bt.
2 - Dessecação antecipada seguida de inseticida – As culturas antecessoras, assim como as plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, podem hospedar as principais pragas que atacam a cultura do milho na fase inicial, influenciando a espécie predominante e a pressão inicial das pragas. Assim, no sistema de plantio direto, a pressão de pragas na fase inicial da cultura pode ser maior quando comparada ao sistema de plantio convencional.
3 - Controle de plantas daninhas – Algumas plantas daninhas podem hospedar insetos-praga das culturas subsequentes, permitindo que uma quantidade significativa sobreviva nas áreas de cultivo no período da entressafra. Além disso, ervas daninhas podem ser fontes de lagartas em ínstares mais avançados, as quais apresentam maior dificuldade de controle pela tecnologia Bt.
4 - Tratamento de sementes – O Tratamento de Sementes (TS) é uma prática que visa o controle de pragas subterrâneas e iniciais da cultura, período de grande suscetibilidade às pragas. Os danos causados por essas pragas resultam em falhas na lavoura devido ao ataque às sementes após a semeadura, danos às raízes após a germinação e à parte aérea das plantas recém-emergidas.
5 - Monitoramento seguido de inseticida – O monitoramento é fundamental. A partir dele, toma-se a decisão de realizar ou não uma aplicação complementar de inseticida na lavoura.
6 - Rotação de culturas – A rotação de culturas consiste em alternar o plantio de diferentes espécies de culturas na mesma área agrícola. Com ela, o produtor melhora as propriedades físico-químicas do solo e reduz a população inicial de alguns insetos-praga da cultura.
Sobre a Abrasem – Fundada em 1972, a Associação Brasileira de Sementes e Mudas representa os produtores de sementes e mudas no Brasil, com o objetivo de congregar e orientar as entidades correlatas e associadas, além de coordenar e gerenciar assuntos em âmbito nacional de interesse de suas associadas e da agricultura nacional. Ao todo, a Abrasem reúne 13 associações de produtores de sementes e mudas, 126 laboratórios, 332 unidades de beneficiamento, 1.200 unidades armazenadoras, além do segmento de pesquisa (obtentores). A entidade congrega 537 produtores associados, 42 mil agricultores, 4,4 mil técnicos e 16,6 mil vendedores, além de gerar 1,4 milhão de empregos diretos e indiretos. A entidade atua junto a membros das áreas de pesquisa, produção, multiplicação, beneficiamento, armazenamento e comercialização com o objetivo de obter uma representação mais forte e atuante do setor.
Fonte: Macchina de Comunicação Empresarial
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