Milho e Sorgo

Plantas de milho RR “tiguera” e as culturas em sucessão

Nos sistemas de produção que utilizam a sucessão de soja e milho tolerantes ao glifosato é frequente o aparecimento de plantas da cultura antecessora na cultura subsequente. São as chamadas plantas tiguera


Publicado em: 27/08/2013 às 00:00hs

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O uso de milho transgênico tolerante ao glifosato – princípio ativo do herbicida Roundup Ready ou RR - tem crescido nos últimos anos, especialmente em áreas de produção com alto uso de tecnologias.

Apesar da intensa utilização de tecnologias e eficiente controle dos fatores de produção, ainda é comum a observação de altos índices de perdas na colheita. O que favorece o aparecimento de plantas tiguera na próxima lavoura. O desejável é que essas perdas sejam mínimas; entretanto atualmente no Brasil, as perdas de grão de milho por hectare estão próximas de 4%.

Nas áreas de produção de milho com alto uso de tecnologias é comum sistema de sucessão em que se cultiva soja no verão seguido de cultivo de milho na safrinha, ou vice-versa. Menos comumente, encontramos áreas de produção de milho verão recebendo sorgo ou milheto em condições de safrinha.

Tradicionalmente, a dessecação de manejo que antecede a semeadura direta destas áreas era suficiente para promover o controle da tiguera de milho voluntário. No entanto, após o surgimento da tiguera de milho RR, as opções tradicionais de dessecação (à base de glifosato) não são mais suficientes para o manejo destas plantas.

O cultivo repetido de culturas RR numa mesma área pode ocasionar a seleção de biotipos resistentes de plantas daninhas ao produto. Além da possível competição entre as plantas tiguera com a cultura sucessora, estas podem também servir de hospedeiras para insetos considerados praga e para microrganismos causadores de doenças no período de entressafra.

A frequência e a intensidade do aparecimento de plantas tiguera de milho em culturas sucessoras são influenciadas por fatores ligados às perdas de grãos na colheita e ao manejo de herbicidas adotado nos sistemas de produção.

As plantas de milho provenientes de perda na colheita podem ser geradas por grãos e espigas. Os grãos desprendidos das espigas, geralmente, germinam logo em seguida, enquanto os grãos das espigas podem vir a germinar mais tardiamente, deixando o problema mais para o meio ou fim da cultura sucessora, geralmente, a soja. É importante ressaltar que a tiguera de soja também é problema para a cultura do milho RR.

As perdas de grãos na colheita são influenciadas por fatores inerentes à cultura e à colhedora, podendo-se citar: mal preparo do solo quando plantio convencional; inadequação da época de semeadura; espaçamento e densidade de plantas; falhas na distribuição das sementes nas linhas de plantio; espaçamento diferente entre linhas quando da não utilização do marcador de plantio; cultivares inadequadas; ocorrência de plantas invasoras; atraso na colheita; umidade incorreta dos grãos; velocidade de deslocamento da colhedora; falta de treinamento dos operadores; regulagem inadequada; mal estado de conservação do maquinário.

As perdas descritas acima podem ser parcialmente evitadas tomando-se uma série de cuidados durante a colheita, tais como: monitoramento rigoroso das velocidades de trabalho da colhedora e aferição regular dos mecanismos de trilha, limpeza e separação. A regulagem de rotação do cilindro de trilha e a distância entre o cilindro e o côncavo são essenciais à qualidade do produto e para a redução das perdas que ocorrem na unidade de trilha. No momento da colheita, teores de umidade entre 13 e 18% são recomendados como os mais adequados para menores perdas.

A não observação e o controle dos fatores anteriormente levantados podem exigir medidas de controle onerosas das plantas tiguera, como a necessidade de utilização de herbicidas de diferentes princípios ativos, que além dos preços mais altos podem demandar condições especiais na aplicação, como os pré-emergentes.

Grande parte dos herbicidas utilizados na modalidade de pré-emergência apresenta eficácia maior quando aplicados em solos úmidos e, em algumas situações, quando bem preparados.

Em sistemas de rotação ou sucessão em que o milho RR aparece como planta voluntária na cultura da soja RR, a aplicação combinada do glifosato com graminicidas que atuam em pré (s-metolachlor, clomazone, trifluralin) ou em pós-emergência (cletodim, sethoxydim) tem sido solução eficaz. Graminicidas com ação em pré-emergência associados com glifosato constituem uma opção de controle na dessecação de manejo antecedendo a semeadura direta, ao passo que misturas com graminicidas de pós-emergência podem ser opções importantes, após a instalação da cultura. Este manejo também vem sendo utilizado com sucesso em áreas onde há ocorrência de plantas daninhas resistentes ao glifosato. Mais recentemente, as empresas têm disponibilizado comercialmente misturas com outros principios ativos, o que não era muito usual.

Além de perdas por problemas na colheita, as plantas tiguera podem aparecer nos acostamentos das rodovias. Isto porque durante o transporte rodoviário da produção agrícola tem sido comum a ocorrência de perdas, que geralmente estão em torno de 10%, independentemente da cultura. A germinação das sementes nos acostamentos das rodovias, que normalmente ocorre no período de entressafra da cultura transportada, e sua manutenção permitem que essas sejam hospedeiras de pragas e doenças. Nestas circunstâncias, têm crescido as operações de controle dessas plantas nas rodovias de escoamento da produção.

Em sistemas de produção em que após a colheita de verão do milho ocorre o plantio de planta de cobertura, como milheto, a presença de plantas tiguera deve ser monitorada com maior rigor por causa da dificuldade de controle. Portanto, é importante monitoramento das áreas colhidas objetivando mensurar as perdas na colheita antes do plantio da cultura sucessora ou da planta de cobertura.

Autores:

Maurílio Fernandes de Oliveira - Pesquisador da área de Sistemas de Produção da Embrapa Milho e Sorgo
Rubem Silvério de Oliveira Júnior - Professor da Universidade Estadual de Maringá
Décio Karam - Pesquisador da área de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo
João Batista Guimarães Sobrinho - Assistente da Embrapa Milho e Sorgo

Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

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