Milho e Sorgo

Milho 2ª Safra: a escolha da década

Paludo: ?O milho 2ª safra transformou a paisagem e a economia no Brasil Central?


Publicado em: 20/01/2011 às 20:30hs

...

A primeira década do novo milênio se encerra, e junto a ela ficam para trás inúmeras batalhas e vitórias no campo agrícola brasileiro, entre as quais podemos destacar: a consolidação da base produtiva agrícola e do potencial exportador nacional, a vitória do algodão na Organização Mundial do Comércio (OMC) e o exemplo mundial na produção de biocombustíveis. Entretanto, se fosse para elencar um destaque na agricultura brasileira nesse período, eu escolheria um fato mais “discreto”, que não ocorreu de um ano para o outro, mas sim veio evoluindo passo a passo, e hoje transformou e transforma a paisagem e a economia no Brasil Central: o milho 2ª safra.

Em 2000, a safra nacional de milho 2ª safra era de aproximadamente 3,7 milhões de toneladas, o que representava aproximadamente 12% da produção nacional. Passados dez anos, a produção decolou para quase 21,1 milhões de toneladas, ou seja, mais que quadruplicou, representando hoje 38% da produção total do cereal. Grande parte dessa expansão ocorreu essencialmente no Brasil Central, onde a produção pulou de 2,1 milhões de toneladas para 13,3 milhões, um avanço de mais de 500%, com o detalhe que no período a área só foi incrementada em 200%. Trata-se, portanto, de um efeito nítido e claro do ganho de produtividade.

Ainda no Brasil Central, destaque para o estado de Mato Grosso, que lidera a produção nacional da gramínea produzindo cerca de 8,5 milhões de toneladas, cerca de 40% de toda a produção nacional da 2ª safra. Os números de consumo de milho no Estado provam o que os olhos veem: de 2007 para 2010, o consumo interno incrementou de pouco mais de 1 milhão de toneladas para 2,2 milhões de toneladas, o que, trocando em miúdos, significa dizer que algumas regiões do Estado, impulsionadas pela produção do cereal, vem mudando seu perfil. É o caso de Nova Mutum, Campo Verde e outras cidades do interior, que hoje já estão passando pelo segundo ciclo de desenvolvimento, marcado pela transformação da proteína vegetal em animal por meio da industrialização. Cá entre nós, acredito que esse efeito não parará por aqui.

Toda essa expansão e pujança só foram possíveis graças a um somatório de fatores que vão desde a pesquisa de novas variedades cada vez mais produtivas e adaptadas às condições edafoclimáticas do Cerrado, passando por um melhoramento e aperfeiçoamento da cadeia (que inclui desde as grandes empresas multinacionais como também a otimização do sistema de atendimento e distribuição das revendas) e chegando por fim nas mãos de técnicos e produtores cada vez mais capacitados e com maturidade para tirar o melhor proveito da tecnologia que lhes é oferecida.

Entretanto, essa batalha não foi marcada apenas por vitórias. A última década também contou, de maneira assídua, com a imagem de montanhas de milho sendo armazenadas a céu aberto, de filas intermináveis de caminhões, de preços por diversas vezes abaixo do custo de produção, precisando inclusive da intervenção do Governo Federal para balizar o preço. Ainda assim, apesar das dificuldades, as batalhas vêm sendo ganhas e quando me perguntam qual a lógica por traz de tamanho avanço nessa cultura nas terras do Cerrado, quando por muitas vezes parece não existir lógica, sempre cito três motivos:

1. Questão agronômica: o milho na 2ª safra entra como rotação de cultura para a soja, promovendo todos os benefícios deste sistema de produção;

2. Otimização dos custos fixos: por ser uma cultura implantada num momento em que os custos fixos da propriedade estão subutilizados, o milho acaba, na prática, dividindo custos que, por teoria, seriam exclusivos da cultura de primeira safra;

3. Fonte de renda: apesar de, por muitas vezes, o preço do cereal não cobrir seus próprios custos, especialmente na boca da colheita nos meses de junho, julho e agosto, e da baixa liquidez em regiões privadas de logísticas e consumo, a comercialização do cereal não deixa de ser uma fonte de renda extra especialmente em uma época na qual a fonte de receita oriunda da propriedade normalmente é comprometida. O financiamento de parte da safra de soja por meio do escambo do milho é uma prática usual.

Portanto, por todos esses fatores, meu ponto de vista corrobora com estimativas de diversas fontes privadas e governamentais que apontam que a área da 2ª safra de 2011 deverá se manter estável, com tendência de aumento na produção. Finalmente, confesso que, para a nova década, se tivesse que fazer uma aposta, eu não mais escolheria o milho 2ª safra, pois esse já é uma realidade. Escolheria sim o que poderemos fazer desse grão. Com todo o melhoramento genético e evolução da tecnologia, não me assustaria se, daqui a 10 anos, estivermos fazendo do cereal nativo das Américas plásticos biodegradáveis em larga escala e outras centenas de utilizações industriais.

Seneri Paludo é diretor-executivo da FAMATO – Federação de Agricultura do Estado do Mato Grosso

Fonte: Monsanto em Campo

◄ Leia outros artigos