Publicado em: 06/09/2011 às 17:17hs
Por conta da disponibilidade comercial de diferentes materiais genéticos, e, portanto, com graus variados de ação sobre a praga, a população de lagartas não chegou a causar impactos negativos na produtividade, indicando a eficiência da tecnologia dos transgênicos. Tal eficiência tem sido verificada tanto na safra de verão quanto na safrinha. A utilização correta das recomendações de cultivo com certeza foi fundamental para o sucesso da lavoura de milho em 2010/2011.
Com relação a essas indicações, deve ser considerado principalmente o controle da praga em áreas de refúgio. Nessas áreas ainda há falta de consenso sobre a melhor estratégia de manejo da praga. Na realidade, a área de refúgio é fundamental para gerar insetos suscetíveis da praga que irão cruzar com possíveis insetos resistentes, oriundos de lagartas que sobreviveram e completaram o ciclo se alimentando do milho Bt. As gerações provenientes destes cruzamentos serão suscetíveis ao milho Bt . Obviamente que o inseto na área de refúgio (milho convencional) não pode atingir alta densidade populacional a ponto de a reduzir significativamente a produtividade. Para que isso seja alcançado, o produtor deve lançar mão de determinada medida de controle que possibilite manter a população da praga a um nível que não cause danos econômicos. Uma das estratégias interessantes é a utilização do monitoramento de mariposas na área de cultivo, tanto na de refúgio quanto na área de plantio de milho Bt. Para isso são utilizadas armadilhas contendo feromônio sexual sintético, colocadas logo no início do plantio. Na área de refúgio, a coleta de mariposas servirá como indicativo da necessidade de controle. Já na área de milho Bt, servirá para indicar a eficácia do material genético. Por exemplo, presença de pelo menos três mariposas capturadas em armadilhas e baixa incidência de lagartas (ou danos) na folhas indica eficiência do milho Bt. Por outro lado, para o mesmo número de insetos capturados, um aumento nos danos pode significar aumento na população de lagartas resistentes.
Nas áreas de refúgio, uma das possibilidades de manejo da praga é a utilização do controle biológico inundativo através da liberação de insetos benéficos, como aqueles comumente denominados “vespinhas”, ou mesmo com a utilização de inseticida de baixo impacto ambiental e seletivo. Tais estratégias também devem ser utilizadas em áreas de cultivo convencional.
Além da lagarta-do-cartucho, principal problema em áreas de milho convencional, outras espécies de insetos fitófagos foram alvo de preocupação em algumas áreas de plantio, independentemente do tipo de milho (convencional ou milho Bt) e merecem ser observadas nos próximos plantio. A primeira espécie é a cochonilha da raiz, com capacidade para reduzir o número de plantas por unidade de área, em consequência de sua alimentação na plântula, como tem sido observado, especialmente em Minas Gerais e Goiás. A planta atacada fica amarelada e enfraquecida devido ao definhamento das raízes. É uma espécie relativamente nova associada a milho e, por isso, pouca informação existe sobre sua bioecologia. O percevejo-castanho é outra espécie de praga subterrânea com presença constante, especialmente no Centro-Oeste, em plantio de segunda safra. O inseto é de difícil controle, mesmo quando são utilizadas medidas preventivas através da mistura da semente com inseticidas químicos ou pulverização do sulco de plantio.
Dentre as pragas que atacam as plantas logo após a emergência, o destaque é o tripes, antes concentrado no Sul do Brasil, nas duas safras anteriores aumentado em milho, com populações consideradas altas. A plântula de milho torna-se amarelada, como se apresentasse alguma deficiência mineral. Pode haver presença simultânea da cochonilha da raiz e do tripes, aumentando os riscos de perdas de produtividade.
Espécies de percevejos característicos da soja têm sido detectadas também no milho, como é o caso do percevejo-verde, do barriga-verde e, mais recentemente, do percevejo marrom.
Duas espécies de lagartas foram observadas na safra 2010/2011 atacando folhas e espigas, tanto em milho convencional como em milho Bt: a espécie Spodoptera cosmioides e a falsa-medideira da soja. Também na espiga, especialmente em áreas de produção de sementes, a preocupação foi o aumento na incidência das moscas Euxesta eluta e E. mazorca (espécie nova no Brasil) e da lagarta pequena da espiga, Dichomeris famulata.
Ivan Cruz - Pesquisasor da Embrapa Milho e Sorgo
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo
◄ Leia outros artigos