Publicado em: 24/10/2012 às 14:00hs
Diante da alta demanda do mercado internacional, as frutas cítricas têm conquistado espaço nas propriedades do Paraná. Em 2011, a área de citros (laranja, tangerina e limão) alcançou 35,6 mil hectares e a produção chegou a 961 mil toneladas, com expansão de 3,4% e 24% em relação à safra anterior, respectivamente. O crescimento consolidou as espécies ácidas como carro-chefe da fruticultura estadual. Elas possuem 56,6% de participação no volume colhido pelo setor e 31% do Valor Bruto de Produção (R$ 317 milhões) de R$ 1 bilhão, que abrange 34 frutas.
Com exceção da tangerina, que está estabilizada, a última década representou um salto no cultivo das frutas cítricas. De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a laranja é a grande mola propulsora do segmento. Entre 2000 e 2011, a área dobrou (chegando a 25 mil hectares) e a colheita mais do que triplicou (768 mil toneladas), fatores que contribuíram para sustentar o Paraná no posto de 5.º maior produtor nacional.
O limão também registrou crescimento. A área de cultivo aumentou 60% e a produção dobrou na última década. Na safra passada, o fruto ocupou 875 hectares e teve uma produção de 17 mil toneladas.
“As frutas cítricas são uma garantia de renda para o agricultor porque tem indústria interessada na produção”, explica o agrônomo do Deral, Paulo Andrade. “As frutas permitem ao agricultor diversificar suas atividades: são algo a mais na propriedade e uma outra fonte de renda”, complementa.
Apesar de o município de Cerro Azul, na Região Metropolitana de Curitiba, ter o título de maior produtor de tangerina do país, a produção dessa fruta no estado se acomodou nos últimos anos. Desde 2009, a área da ponkan e outras tangerinas permanece em 9 mil hectares e a produção na casa das 180 mil toneladas.
Oferta
Mesmo com o crescimento da produção de laranja, o segmento informa estar em crise em função do excesso de oferta, resultado da queda das exportações. Os países que formam o bloco da União Europeia, principal cliente do Paraná, reduziram a compra do suco de laranja produzido pelas indústrias locais, reflexo da crise financeira que assola o continente. O Paraná produz 36 mil toneladas de suco ao ano – 98% para exportação e 2% para indústrias de bebidas que atendem ao mercado interno.
Com a redução da demanda da União Europeia, o governo brasileiro emitiu duas medidas para tentar escoar a safra nacional. Foi criada uma linha de crédito, para a armazenagem do alimento e, o mais importante, ampliou-se de 20% para 50% a concentração de néctar (sumo) no suco da fruta, medida que vale também para a maçã.
Segundo o presidente da Associação dos Citricultores do Paraná (Acipar), Maykon Scheliv, a mudança no processo industrial não coloca em risco o fornecimento da fruta para as empresas de suco no estado. “Atualmente está sobrando [laranja]. A produção estadual consegue atender com tranquilidade a demanda mesmo com o aumento do néctar, já que os pomares estão aumentando no Paraná”, afirma.
Indústrias apostam em maior consumo de suco no exterior
O momento conturbado, provocado pela queda nas exportações de suco de laranja, não afeta os planos de médio e longo prazo da indústria de suco. As empresas acreditam que a matéria-prima continuará sendo farta, apesar da expansão da soja, e que o mercado internacional deve se recuperar.
Com essa expectativa é que a cooperativa Integrada inaugura, no próximo mês, a sua indústria de sucos, em Uraí, Região Metropolitana de Londrina, com capacidade para processar 2 milhões de caixas/ano. No primeiro ano, serão 800 mil caixas. A empresa investiu R$ 15 milhões para atender uma reivindicação dos próprios associados.
“Quando fizemos o estudo em 2006, os grãos estavam com preços baixos e a laranja com um valor excelente. De qualquer forma, a proposta é dar uma opção de cultura diversificada para o associado e a garantia de que ele terá a produção comercializada”, afirma o diretor da Integrada, Sérgio Otaguiri.
Desde o anúncio da construção em 2008, a companhia mantém negociação para comercialização dos produtos com os mercados da Ásia e do Oriente Médio.
Ampliação
A cooperativa Cocamar, que possui indústria de processamento do fruto no município de Paranavai, prevê crescimento. A planta, com capacidade para até 30 milhões de litros de bebidas/ano, deve alcançar 25 milhões de litros este ano, aumento de 13% em relação ao ano passado (22 milhões de litros). A produção é exportada para o Japão.
“O momento atual do setor não é muito bom, há excesso de oferta. Mas os cooperados ligados à Cocamar estão tranquilos porque têm contrato ao preço de US$ 4,8 a caixa de 40,8 quilos, considerado razoável”, diz o superintendente de Negócios da empresa, José Cícero Aderaldo. Pioneira na citricultura no Paraná, a cooperativa abrange 13 mil hectares de pomares, sendo 8 mil na região de Paranavaí e 5 mil na região de Rolândia.
Renda e custos
Apesar de otimista, setor reluta em ampliar pomares
O citricultor João Pasquali, de Alto Paraná (Noroeste), está otimista com o aumento na concentração de néctar no suco de laranja. A indústria tem prazo para se adequar até janeiro. Pasquali acredita que, a partir daí, as vendas deverão fluir melhor. “As fábricas precisarão de mais laranjas e, por isso, vão comprar mais”, vibra. Não há previsão de elevação expressiva nos preços.
Antigo plantador de mandioca, Pasquali investe na citricultura desde 1989. Com um pomar de 314 hectares, um dos maiores da região, produz 350 mil caixas por ano, vendidas para a indústria Louis Dreyffus, de Paranavaí, por, aproximadamente, R$ 10 a caixa (40,8 quilos).
Mesmo com o retorno financeiro de R$ 3,5 por caixa e o provável aumento nas vendas, não pensa em ampliação dos pomares. “O salário do apanhador sobe demais e corrói todo o nosso ganho”, declara. “Não dá para trabalhar só para inglês ver”, brinca.
Fonte: Gazeta do Povo
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