Fruticultura e Horticultura

Recebimento de Cacau Nacional Cai 23% nos Nove Primeiros Meses de 2024

Setor registra redução no processamento e prevê necessidade de importação para atender compromissos de exportação


Publicado em: 09/10/2024 às 10:00hs

Recebimento de Cacau Nacional Cai 23% nos Nove Primeiros Meses de 2024

Nos primeiros nove meses de 2024, o recebimento de amêndoas de cacau pela indústria processadora nacional registrou uma queda de 23,3%, totalizando 124,9 mil toneladas, contra as 162,9 mil toneladas recebidas no mesmo período de 2023, de acordo com dados do SindiDados – Campos Consultores, divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

No terceiro trimestre de 2024, o volume recebido pelas indústrias também foi inferior ao mesmo período de 2023, apresentando uma queda de 4,3%, passando de 69,6 mil toneladas para 66,6 mil toneladas. No entanto, em comparação com o segundo trimestre de 2024, houve um aumento significativo de 67,9% no recebimento, subindo de 39,6 mil toneladas para 66,6 mil toneladas. Segundo a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, "apesar da melhora em relação ao semestre passado, o volume ainda está abaixo do ano anterior, com destaque para os impactos climáticos e a ação de pragas como a vassoura-de-bruxa e a podridão parda."

Recebimento por Estado

Entre os estados produtores, a Bahia liderou com 50,6% do total de amêndoas de cacau recebidas até setembro de 2024, totalizando 63,2 mil toneladas. Esse volume representa uma queda de 30,5% em relação ao mesmo período de 2023, quando o estado forneceu 91 mil toneladas. O Pará foi responsável por 45,6% do total, com 56,9 mil toneladas, o que significa uma redução de 13,5% em comparação ao ano anterior. Outros estados como Espírito Santo e Rondônia, que juntos responderam por 3,9% do volume total, também registraram queda, com 3,7 mil toneladas e 1,1 mil toneladas, respectivamente.

Segundo Anna Paula, "embora investimentos estejam sendo feitos para melhorar a produtividade, os resultados ainda levarão tempo para se consolidar, especialmente diante das condições climáticas adversas que afetaram as áreas tradicionais de produção."

Moagem em Queda

A moagem de cacau no Brasil também apresentou recuo. Nos primeiros nove meses de 2024, o volume processado foi de 169,7 mil toneladas, 10,8% a menos que as 190,4 mil toneladas processadas no mesmo período de 2023. Apenas no terceiro trimestre, a moagem caiu 13,5%, passando de 64 mil toneladas em 2023 para 55,3 mil toneladas em 2024. De acordo com Losi, essa queda se deve principalmente à baixa qualidade das amêndoas recebidas, que chegaram com muita sujidade, e à redução na demanda, causada pela instabilidade no mercado.

Importações e Exportações

A importação de amêndoas de cacau também recuou, com uma queda de 47,7% nos três primeiros trimestres de 2024 em comparação ao mesmo período de 2023. Entre janeiro e setembro de 2024, o Brasil importou 22,5 mil toneladas de cacau, em contraste com as 43 mil toneladas importadas no ano anterior. Não houve importação no terceiro trimestre. Apesar disso, Losi destaca que, "diante dos números da safra brasileira, será necessário importar cacau no próximo trimestre e no início de 2025 para atender aos compromissos de exportação."

Em termos de exportação, o volume de amêndoas foi de 399 toneladas, ainda pequeno em relação à produção nacional. No entanto, as exportações de derivados de cacau mostraram estabilidade, passando de 35,5 mil toneladas para 36,6 mil toneladas, com uma tendência de alta entre os dois últimos trimestres.

Análise Internacional

Segundo Caio Santos, do departamento de mercado da StoneX, a temporada 2024/25 deverá registrar o primeiro excedente global de oferta de cacau em quatro anos, impulsionado pela recuperação na produção e pela queda na demanda devido ao aumento dos preços. A StoneX projeta um excedente de 166 mil toneladas no balanço de oferta e demanda de cacau para o ciclo 2024/25, uma melhoria significativa em relação ao déficit de quase meio milhão de toneladas registrado na safra 2023/24.

A produção da Costa do Marfim, o maior produtor mundial, deverá crescer 12,1%, alcançando 1,95 milhão de toneladas em 2024/25, enquanto a produção de Gana, o segundo maior produtor, deverá aumentar 33%, chegando a 600 mil toneladas. Para o Brasil, a expectativa é de uma recuperação de 20,6%, com a produção atingindo 205 mil toneladas, caso as condições climáticas se normalizem.

Santos também observa que a relação estoque/uso, um indicador importante para a tendência de preços, deve subir para 31,7% em 2024/25, em comparação com 27,2% na safra anterior. Ele acrescenta que os preços do cacau em Nova York subiram 61% em 2023 e acumularam alta de 65% até o momento em 2024.

Perspectivas para o Mercado

A negociação de cacau nas bolsas de Nova York e Londres tem sido marcada por baixo volume de transações desde o início do ano, mas há expectativa de aumento no volume de vendas nos próximos meses, com a entrada da nova safra e a possível flexibilização na implementação da Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que pode facilitar a entrada de mais cacau no mercado europeu. Esses fatores podem exercer pressão sobre os preços nas bolsas.

Fonte: Portal do Agronegócio

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