Publicado em: 01/10/2013 às 20:00hs
“Segundo os produtores, no ano de 2013, observou-se nas lavouras de melancia, um aumento significativo na população de tripes, um dos vetores de vírus em cucurbitáceas, e que até bem pouco tempo possuíam pouca importância na região. Também foram observados sintomas um pouco diferentes dos sintomas causados por vírus transmitidos por pulgões e que já eram conhecidos dos produtores”, informa Mirtes Lima, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, na área de Virologia, que nos dias 28 e 29 de agosto compartilhou a visita à Uruana com Rita de Cássia Dias, pesquisadora da Embrapa Semi-Árido (Petrolina-PE), na área de Melhoramento Genético.
De acordo com a pesquisadora da Unidade, foram observados sintomas diversos nas plantas como redução da área foliar, mosaico e paralisação do crescimento da planta, com reflexos na produção e na qualidade dos frutos. “Foram coletadas cerca de 300 amostras de plantas e frutos de melancia, para análise no laboratório de Virologia e Biologia Molecular; ao mesmo tempo, foram amostradas plantas invasoras, dentro e fora da área de plantio, para estudos epidemiológicos com vistas à identificação de plantas hospedeiras do vírus, nas quais poderia sobreviver na ausência de um dos hospedeiros principais, a melancia”, explica.
A realização das análises revelou incidência significativa do vírus da clorose letal da abobrinha de moita (Zucchini lethal chlorosis virus – ZLCV; gênero Tospovirus) que é transmitido por tripes. “Entretanto, em menor incidência, detectou-se também a presença de outros vírus, mais comuns, transmitidos por pulgões, principalmente, o vírus da mancha anelar do mamoeiro, estirpe melancia (Papaya ringspot virus – type watermelon – PRSV-W)”, acrescenta Mirtes. Vale ressaltar que também neste ano situação semelhante foi verificada em plantios de melancia em outros municípios de Goiás, onde se detectou também incidência significativa do ZLCV.
No âmbito da pesquisa, um problema de difícil solução, quando já instalado. “Não há medidas curativas para o controle de viroses, e quanto mais cedo a planta é infectada, mais severos são os sintomas e, também, maiores os prejuízos na produção”. Nesse sentido, recomenda-se a adoção de medidas preventivas, visando evitar ou reduzir a ocorrência de viroses na área plantada, assim como também, a sua disseminação - entre diversas outras medidas igualmente importantes, ela aponta a sanitização, com a destruição dos restos de cultura logo após a colheita, o estabelecimento de plantios novos distante de plantios mais antigos e infectados e eliminação de plantas invasoras dentro e fora da área de plantio. “São medidas extremamente importantes, tendo em vista que, dessa forma, reduz-se as fontes de vírus e do vetor em campo, assim como também, reduz-se a disseminação da doença.
Manejo integrado de pragas
De acordo com o pesquisador Miguel Michereff Filho, entomologista da Embrapa Hortaliças e que visitará a região de Uruana na primeira quinzena do mês de outubro, é importante a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) visando os insetos vetores das fitoviroses, no caso, pulgões e tripes.
Neste contexto, ele alinha algumas recomendações, tais como 1) monitorar semanalmente as lavouras através de inspeção da planta em procura das fases jovens (ninfas) e adultas dos vetores, ou utilizar armadilhas adesivas (amarelas para pulgões, azuis para tripes) distribuídas estrategicamente nas bordaduras da área cultivada; 2) adotar medidas de manejo ambiental para desfavorecer ou retardar a infestação dos insetos vetores (isolamento das áreas de cultivo e época de plantio que permita escape com relação às pragas; sucessão e rotação de culturas com plantas que não sejam hospedeiras das pragas; vazio sanitário em nível regional de no mínimo 60 dias, etc.); 3) utilizar adequadamente os inseticidas registrados, considerando dose, alvo (face inferior das folhas) e momento de pulverização, tecnologia de aplicação para que o foco seja atingido; assim como a rotação correta de inseticidas pertencentes a diferentes grupos químicos e modos de ação.
Conforme a pesquisadora, na maioria dos plantios visitados foram observados sintomas de viroses, entretanto, com incidência bastante variável, dependendo de sua proximidade de áreas mais antigas e afetadas pela doença, idade das plantas em que ocorreu a infecção, nível de resistência/tolerância da cultivar, entre outros fatores. “Muitas dessas áreas estavam situadas próximas a plantios mais velhos e doentes, o que vem a ser uma situação extremamente favorável à disseminação das viroses.”
Conhecida como a “capital da melancia”, o município goiano de Uruana tem sete mil hectares de área plantada com a cultura, cerca de 300 produtores e uma produção em torno de 160 mil toneladas anuais.
Fonte: Embrapa
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