Publicado em: 28/03/2025 às 12:30hs
Com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e regenerativa no Brasil, o Instituto Arapyaú, Violet, a ONG Tabôa Fortalecimento Comunitário e a MOV Investimentos lançam o Kawá, um fundo de investimento inovador destinado ao custeio de pequenos produtores de cacau no país. A meta do projeto é alcançar R$ 1 bilhão até 2030, com um aporte inicial de R$ 30 milhões que beneficiará 1.200 agricultores nos estados da Bahia e Pará.
A parceria conta com a administração do fundo pela VERT e o apoio da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), que sinalizou a compra do cacau produzido pelos beneficiários. O projeto também inclui o Enabling Conditions Facility (ECF), que financiará a assistência técnica, coordenada pela Violet. A Violet, além de fornecer a gestão da plataforma tecnológica, garantirá a transparência e a escalabilidade do fundo, assegurando eficiência operacional. A assistência técnica será realizada pela Fundação Solidaridad, o Ciapra (Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia) e a Polímatas Soluções Agrícolas e Ambientais, com o financiamento de Suzano. Já a originação de crédito será conduzida pela Tabôa, que também fornecerá apoio técnico na Bahia, enquanto a ReSeed se encarregará dos créditos de carbono gerados nas propriedades dos beneficiários.
O Kawá adota o modelo de blended finance, que combina recursos públicos, privados e filantrópicos, e utiliza uma metodologia simplificada de concessão de crédito. Esta abordagem, aliada à assistência técnica, foi implementada pela Tabôa desde 2017 e já resultou em mais de mil créditos concedidos, somando R$ 16 milhões e beneficiando 2.800 pessoas.
O fundo também incorpora uma inovação importante: a comercialização de créditos de carbono gerados nas propriedades de cacau de pequenos agricultores, que utilizam sistemas agroflorestais (SAFs). O sistema cabruca, predominante no Sul da Bahia, é uma forma de cultivo em que o cacau cresce sob a sombra da vegetação nativa, favorecendo a regeneração da Mata Atlântica e o aumento do estoque de carbono. Estima-se que a capacidade de sequestro de carbono nesses sistemas seja quase o dobro da encontrada em plantações de cacau cultivadas a pleno sol.
A estratégia de financiamento não só visa o aumento da produtividade e da renda dos agricultores, mas também foca na conservação e regeneração das florestas. O Kawá oferece crédito exclusivamente para produtores de cacau em sistemas agroflorestais, promovendo a sustentabilidade ambiental ao mesmo tempo em que contribui para a melhoria das condições de vida das famílias rurais. O projeto já está negociando a venda de créditos de carbono com investidores, sendo que 100 agricultores estão previstos para gerar os primeiros créditos de carbono através da plataforma ReSeed, responsável pela operacionalização dessa venda.
O Kawá opera como um Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) e oferece aos produtores de cacau um prazo de até 45 dias para aplicar o crédito recebido, com 36 meses para pagamento, sendo 6 meses de carência. A taxa de juros é de 12% ao ano, e os recursos são destinados, principalmente, para adubação, irrigação, compra de equipamentos e adensamento de plantas.
A metodologia de concessão de crédito inclui garantias solidárias, onde grupos de três a dez produtores se comprometem a cobrir a inadimplência de um membro, o que tem contribuído para um índice de inadimplência extremamente baixo nas operações anteriores, como o CRA Sustentável. Essa abordagem, aliada à assistência técnica contínua, tem mostrado excelentes resultados em termos de aumento de produtividade e redução de inadimplência, impactando diretamente a vida de centenas de produtores rurais.
Com o Kawá, a expectativa é ampliar esses benefícios, gerando impactos econômicos, sociais e ambientais positivos e atraindo investidores de maior porte para o setor. O projeto visa destravar novos modelos produtivos sustentáveis, beneficiando agricultores familiares e preservando as florestas brasileiras.
Fonte: Portal do Agronegócio
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