Fruticultura e Horticultura

Guaraná o Sabor da Amazônia

O guaraná fixa famílias na floresta, gera renda e ? dizem ? prolonga a vida


Publicado em: 28/01/2013 às 13:40hs

Guaraná o Sabor da Amazônia

Na floresta, ele é mítico, encantador. Gera amor à terra, paixão pela natureza, dedicação ao cultivo e, dizem, vida longa a quem dele tira proveito. Na cidade, está presente em oito de cada dez lares. Faz o deleite de crianças e adultos ao trazer consigo um vapor festivo, cujas borbulhas às vezes provocam cócegas no nariz. E quem não quer ter por perto uma garrafa de guaraná, suando de gelada, para acompanhar uma boa pizza?

O guaraná, na mata, é semente, é remédio – e também pode ser muito rentável. Vale dinheiro. Nas cidades, é refrigerante, uma bebida genuinamente “made in Brazil”, sem similar em todo o mundo. Em Maués, cidade de 55 mil habitantes, localizada no centro do Estado do Amazonas, também é símbolo da economia pujante. A cultura do guaraná tem sido responsável pela fixação de populações agrícolas, quase extintas, nesse pedaço de chão, gerando renda a quem antes vivia apenas do plantio da mandioca.

Hoje, mais de 500 famílias produzem guaraná em Maués, em safras anuais generosas, capazes de abastecer, por dois anos, os estoques da maior fábrica de refrigerantes de guaraná do mundo, a Ambev. Francisco Pereira, de 60 anos, é um migrante. Deixou o Maranhão e rumou para viver na floresta com a família. Da selva, naquela época, não sabia nada. “Sabia só que dava pra viver bem aqui, plantar guaraná e ter uma vida mais digna”, diz. E quem lhe contou isso foi Cândido, seu irmão, que já estava na floresta há mais tempo. “Minha família veio para cá e virou guaranazeira. Este é nosso lugar, daqui não saímos.” Francisco criou os filhos com guaraná. Hoje, tem 10 hectares produtivos. Eunice, a filha mais velha, casou-se com Natanael Menezes, produtor de 4 hectares. O filho mais novo, Elvis, aos 20 anos, já tem sua própria roça. “Quando eu fiz 18 anos, comprei 2 hectares com a ajuda do meu pai e agora estou esperando os arbustos crescerem nas conformidades”, diz ele, que vai colher sua primeira safra em meados de dezembro de 2013, mês em que a safra atinge o auge.

Essa família vem fazendo história na região. Por três anos consecutivos, receberam o título de “melhor produtor de guaraná”. Primeiro foi Cândido, depois Francisco e, agora, Natanael. Elvis – que jura já ter saído no braço com uma onça-pintada – quer ser o próximo. “O pessoal da indústria vem aqui e nos orienta, portanto, plantamos o que eles precisam, do jeito que eles precisam e, em troca, eles nos pagam um valor um pouquinho acima do mercado”, explica o jovem.

Cada quilo de guaraná custa entre R$ 22 e R$ 25. Natanael colhe 1 tonelada e Francisco um pouco mais. “No ano passado, chegamos a receber R$ 27 por quilo”, lembra Natanael, prestes a quitar o empréstimo que fez no banco para comprar mais uma terrinha. Na propriedade, ele tem duas casas: uma para a família e uma para hóspedes, onde dormem os ajudantes Antonio e Fernando. “A colheita é manual e delicada, por isso preciso de gente. As crianças não trabalham, pois, se eu colocasse os meninos na lida, não poderia ser eleito o melhor produtor. Eles vão para a escola, eu tenho ajudantes”, conta. E os dois dizem que gostam dessa vida. Se não ajudassem na roça, teriam de ir para a cidade. “Lá, você ganha mais, mas gasta muito mais, então prefiro ficar por aqui”, diz Fernando.

Todo o guaraná produzido pela família vai direto para os estoques da Ambev – indústria que fabrica o Guaraná Antarctica, líder de vendas no país e exportado para Japão e Portugal –, que mantém uma fábrica de extratos em Maués. Do campo, segundo Edvaldo Galletti, gerente-geral da Arosuco Aromas, de Manaus, a semente já sai pronta. “Após a colheita, os produtores são responsáveis pelo beneficiamento do guaraná, da moagem ou pisagem à lavagem e torrefação do grão”, diz.

Ernandis Barbosa, o Top, é o contato da indústria com os agricultores. Compra a matéria-prima de produtores muito pequenos, que produzem 5 quilos ou menos, e também dos maiores, com mais de 1 tonelada. “Quando a produção é menor, os produtores levam de barco até a fábrica. Quando é uma produção grande, como a de Natanael, nós buscamos, senão o custo sobe demais para ele”, diz.

A indústria também tem uma fazenda de 1.070 hectares (200 produtivos) em Maués, a Santa Helena. Lá ficam os viveiros de mudas, que são obtidas por sistema de clonagem (a partir de um galho de árvore adulta), doadas depois para os produtores. Roosevelt Hada Leal e Miram Frota são os engenheiros agrônomos da fazenda e agora testam culturas consorciadas. Já tiveram sinal positivo para a mandioca e o abacaxi. “Queremos que esses produtores tenham outras fontes de renda em culturas consorciadas”, diz Roosevelt.

E Francisco já fica todo empolgado. Aos 60 anos, tem muita disposição. “Ô, menina, eu sou daqueles que tomam guaraná todo dia, terei disposição para viver com saúde até os 110 anos”, garante o animado sertanejo. E, para dar mais força à história de que o guaraná promove vida longa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de proclamar: Maués é a cidade brasileira com a maior expectativa de vida do país.

Fonte: Globo Rural

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