Fruticultura e Horticultura

Diálogo, conhecimento e articulação fazem renascer maracujá no Rio de Janeiro

José Roberto de Oliveira é um pequeno produtor de São José de Ubá (RJ) que resolveu investir na cultura do maracujá


Publicado em: 07/12/2012 às 09:20hs

Diálogo, conhecimento e articulação fazem renascer maracujá no Rio de Janeiro

A dedicação e a adoção de tecnologias estão lhe garantindo uma safra generosa em apenas nove meses após o cultivo. Uma área de meio hectare com 420 pés deve gerar uma produção de mais de 20 t/ha e uma renda de pelo menos R$ 35 mil na comercialização do fruto in natura, tamanha é a demanda pelo maracujá. O Brasil produz 85% do maracujá consumido no mundo e a fruta é a terceira mais consumida, perdendo apenas para a laranja e o caju. 

“O maracujá exige cuidados como a escolha correta de mudas (enxertadas se necessário), adubação, irrigação, polinização e poda. Mas é uma cultura que dá muito retorno”, afirmou José Roberto enquanto apresentava os resultados em sua propriedade para um grupo de técnicos, estudantes e produtores que participavam do Dia de Campo do Projeto APL Maracujá, no último dia 29, em São José de Ubá.

O evento organizado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro/RJ), em parceria com o IFF (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), Pesagro e UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), teve a presença de mais de 120 pessoas e reuniu representantes de quase toda a cadeia produtiva para discutir gargalos de mercado, soluções tecnológicas e perspectivas para a cultura nas regiões Norte, Noroeste e Baixadas Fluminense.

“O que chama a atenção no caso do sr. José Roberto é o vigor e a sanidade das plantas, um contraste numa região normalmente afetada por pragas e doenças”, afirmou o pesquisador Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF), e um dos responsáveis pelo desenvolvimento de novas cultivares de maracujá como o Gigante Amarelo, a Rubi e o Sol do Cerrado, que estão sendo validadas e introduzidas nos plantios no Estado do Rio de Janeiro.

As pesquisas para novas cultivares não levam em consideração apenas os aspectos agronômicos (boa produtividade e resistência a pragas e doenças), mas também características que interessam ao mercado como frutas com propriedades funcionais, ornamentais, doces ou azedas.

José Roberto consorciou maracujá com laranja. “Eu não tinha experiência com maracujá e tratei de aproveitar os espaços e seguir as recomendações técnicas. Também plantei do tipo comum para comparar com o maracujá da Embrapa. Estou muito satisfeito com os resultados”, explicou.

Uma das técnicas que estão sendo testadas e adotadas pelos produtores é a enxertia de mudas sobre a cultivar de maracujá doce. A prática garante maior sobrevivência da planta em função da resistência aos ataques de doenças do solo. A Pesagro e a Embrapa, em parceria com produtores, criou quatro unidades demonstrativas no Rio de Janeiro para avaliar os resultados.

“Selecionamos estrategicamente locais como Araruama, que tem solo arenoso com histórico de incidência de virose, Bom Jesus de Itabapoana, que apresenta incidência de doenças de solo, São José de Ubá, que consorcia maracujá com laranja, e Campos dos Goytacazes para ter uma visão ampla dos resultados nas regiões, pois cada área tem uma característica quanto a problemas fitossanitários e para cada situação aplicou-se um tratamento” explicou o engenheiro agrônomo José Francisco Maldonado, da Pesagro. 

Em algumas unidades também está sendo avaliada a adoção da gliricídia como mourão para sustentação das plantas. Trata-se de uma leguminosa que fixa nitrogênio no solo, contribuindo para seu enriquecimento e, de quebra, barateia os custos de instalação de novos cultivos.

A estratégia adota por José Roberto faz parte do projeto APL Maracujá que prevê a recuperação da cultura na região por meio de trabalhos em rede com instituições de pesquisa, ensino e extensão, com o objetivo de fomentar a cooperação técnica, a promoção da inovação mais o diálogo permanente para superar os gargalos da cadeia produtiva.

“De forma isolada e sem assistência técnica de qualidade não há como superar os problemas e alavancar a produção de maracujá no Rio de Janeiro”, afirma Sérgio Cenci, líder do projeto e pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Com uma visão holística, o APL Maracujá também aborda o aproveitamento dos resíduos como casca e semente (63% da fruta).

Em parceria com a UENF e a Embrapa Cerrados, os pesquisadores estão destinando a casca para produção de uma farinha de textura leve e rica em fibras que pode entrar na composição de alimentos como shakes e sorvetes, reduzindo a necessidade do uso de gorduras nesses alimentos.

Da semente já se extrai um óleo que interessa às indústrias de cosméticos, alimentos e fármacos. A Extrair Óleos Naturais é uma pequena empresa que nasceu junto com o projeto e está explorando esse mercado a partir de suas instalações em Bom Jesus de Itabapoana (RJ). “Junto com a pesquisa temos feito adaptações para garantir um óleo de qualidade com teor de acidez entre 0,5% a 1%. Temos conseguido, mas o mais difícil tem sido adquirir matéria-prima para atender a demanda. Falta maracujá no mercado”, destacou Sandro Reis, gerente da Extrair.

De acordo com dados do professor Eder Resende, da UENF, o Estado do Rio de Janeiro processa sete mil toneladas de maracujá/ano. Cerca de 2,4 ton viram suco e geram R$ 9,8 milhões na economia local. Se a totalidade da pectina da casca fosse aproveitada outros R$ 6,3 milhões seriam gerados. Na produção de óleo, algo em torno de 64 ton comercializados a R$ 15 o quilo, outros R$ 972 mil. “Isso mostra o potencial da região que ainda não está sendo aproveitado”.

Só o Estado do Rio de Janeiro tem sete agroindústrias de suco e polpa de maracujá. Todas operam de forma ociosa e importam frutos de outros Estados como Bahia, Espírito Santo e São Paulo para atender boa parte da demanda. 

Para Cenci, a solução para os problemas que começam no campo e afetam as agroindústrias e o meio ambiente começa pela integração, o emprego do conhecimento no setor produtivo e a governança (articulação de setores e políticas públicas).  “O maracujá é uma fruta com demanda crescente, muito valorizada e capaz de gerar resultados em diferentes setores da cadeia produtiva, mas o trabalho tem que ser articulado e pautado na inovação”.

O projeto APL Maracujá dispõe de um site (www.aplmaracuja) onde reúne informações sobre as principais atividades, resultados, parceiros, publicações, agenda, vídeos, imagens e contatos. É um veículo criado com o objetivo de ajudar a manter o diálogo permanente entre os interessados.

Fonte: Embrapa Agroindústria de Alimentos

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