Fruticultura e Horticultura

Desempenho do Setor de Cacau em 2024: Queda no Recebimento e Moagem em Meio à Alta dos Preços

Impactos climáticos e pragas reduzem produção nacional, enquanto a alta nos preços eleva a volatilidade do mercado


Publicado em: 14/01/2025 às 11:20hs

Desempenho do Setor de Cacau em 2024: Queda no Recebimento e Moagem em Meio à Alta dos Preços

Em 2024, o setor de cacau brasileiro enfrentou um ano de desafios significativos, marcado pela queda no recebimento de amêndoas e no processamento pela indústria. O volume de amêndoas recebidas pela indústria processadora caiu 18,5%, totalizando 179.431 toneladas, em comparação com as 220.303 toneladas registradas em 2023, de acordo com dados do SindiDados – Campos Consultores, divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). O quarto trimestre, por sua vez, registrou uma redução de 5%, com 54.435 toneladas recebidas, contra 57.353 toneladas no mesmo período do ano anterior.

Fatores Climáticos e Pragas Impactam a Produção

O desempenho abaixo das expectativas reflete o impacto dos fenômenos climáticos extremos e a presença de pragas, como a vassoura-de-bruxa e a podridão-parda, que prejudicaram severamente a produção no Brasil. Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC, destacou que as regiões produtoras enfrentaram dificuldades devido a essas condições adversas, ressaltando que o Brasil ainda não consegue suprir a demanda interna com produção local, sendo dependente da importação. Ela reforçou a necessidade de políticas públicas de apoio para garantir a resiliência e sustentabilidade da produção nacional.

Desempenho dos Estados Produtores

Em 2024, os principais estados produtores de cacau também apresentaram quedas acentuadas na entrega de amêndoas. Na Bahia, a redução foi de 21,8%, com 106.481 toneladas entregues, o que representou 59,3% do total nacional, contra 61,8% em 2023. O Pará, por sua vez, registrou uma queda de 11,9%, totalizando 65.654 toneladas, representando 36,6% da produção nacional. No Espírito Santo, o volume caiu 21%, enquanto Rondônia apresentou uma retração de 30,7%. No último trimestre de 2024, a Bahia ainda liderou a entrega, com 43.285 toneladas, seguida pelo Pará com 8.714 toneladas.

Moagem Nacional: Menor Demanda

A moagem de cacau também apresentou uma redução significativa em 2024, totalizando 229.334 toneladas, uma queda de 9,5% em relação ao ano anterior. No último trimestre, a moagem caiu 5,5%, passando de 63.025 toneladas em 2023 para 59.589 toneladas em 2024. Esse declínio é atribuído à diminuição na demanda dos derivados de cacau, que pode ser reflexo do aumento nos custos de produção devido à alta histórica no preço da matéria-prima.

Comércio Internacional: Queda nas Importações e Crescimento nas Exportações de Derivados

O comércio internacional de cacau apresentou comportamentos distintos em 2024. As importações de amêndoas de cacau diminuíram de 43.106 toneladas, em 2023, para 25.501 toneladas, em 2024. Anna Paula Losi explicou que, apesar de um bom desempenho da produção em 2023, que garantiu maior disponibilidade interna, a redução da produção em 2024 deverá impactar as importações no próximo ano.

Por outro lado, as exportações de derivados de cacau cresceram 6,2%, somando 50.257 toneladas, impulsionadas pelo desempenho positivo nos últimos três trimestres. Os principais destinos para esses produtos foram a Argentina, os Estados Unidos e os Países Baixos, com destaque para os mercados sul-americanos, como Chile, Peru, Uruguai e Bolívia.

Preços Históricos e Desafios no Mercado Global

Em 2024, o mercado internacional de cacau viu os preços atingirem níveis históricos devido ao déficit de oferta global, que marcou o terceiro ano consecutivo de escassez. A crise de produção na África, a maior região produtora, e o envelhecimento das plantações contribuíram para essa escassez. Rafael Borges e Lucca Bezzon, da StoneX, destacaram que a valorização do cacau foi impulsionada pela escassez de oferta, com o preço alcançando um aumento de 165% em relação ao início do ano.

Além disso, a alta volatilidade do mercado foi exacerbada pela redução das entregas na Costa do Marfim, maior produtor mundial, e pela crise de produção nos países africanos. A incerteza sobre a produção na safra 2024/25 e a baixa liquidez nos mercados futuros reforçam a expectativa de continuidade da volatilidade nos preços.

Perspectivas para 2025

Com a incerteza quanto à safra de cacau, investidores e analistas deverão monitorar de perto o desempenho da produção na África Ocidental e as possíveis repercussões sobre a oferta global. Além disso, as dificuldades econômicas, refletidas nos altos custos do cacau, podem levar à substituição da matéria-prima por outros produtos, impactando a demanda. A escassez de estoques e a redução de participantes no mercado futuro deverão manter a volatilidade, tornando 2025 um ano de incertezas para o mercado de cacau.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias