Fruticultura e Horticultura

Desafios para a produção de fruteiras nativas do Sul do Brasil

O Brasil é rico em espécies de fruteiras nativas que, nas diversas regiões brasileiras, têm papel importante, servindo de alimentação para a população local, bem como para a fauna silvestre


Publicado em: 19/12/2012 às 15:30hs

Desafios para a produção de fruteiras nativas do Sul do Brasil

Muitas destas fruteiras nativas podem ser exploradas economicamente, apresentando, além do excelente sabor e outras características organolépticas, propriedades funcionais e nutracêuticas que trazem benefícios para a saúde humana.

No Sul do país existe uma diversidade de fruteiras nativas com estas características, o que as diferencia e lhes confere potencial tanto para comercialização in natura como para agregação de valor na elaboração de produtos nutritivos e saborosos. Dentre estas espécies podem ser citadas a pitangueira (Eugenia uniflora), a uvaieira (E. pyriformis), a cerejeira-nativa (E. involucrata), a feijoa (Acca sellowiana), o araçazeiro (Psidium cattleyanum), a jabuticabeira (Plinia spp.), e o butiazeiro (Butia spp.), além de muitas outras. Porém, até o momento, são exploradas em pequena escala, de forma extrativista ou em pequenos plantios. Com o avanço das áreas cultivadas com lavouras, houve uma redução bastante significativa da população nativa destas plantas e, atualmente, muitas delas já não são mais encontradas em abundância.

No entanto, para que estas espécies possam ser exploradas economicamente, há uma série de desafios que precisam ser superados. Primeiramente, faz-se necessária a seleção de genótipos mais produtivos e com frutas de qualidade e, na sequência, a avaliação criteriosa sobre a necessidade de melhoramento genético, uma vez que um programa deste tipo envolve custos elevados e necessidade mão de obra especializada. Por outro lado, a seleção de genótipos superiores pode viabilizar o início do cultivo de uma espécie.

Existe a necessidade de desenvolvimento e adaptação de tecnologias para a produção. Neste contexto, podem ser destacados aspectos como propagação vegetativa, manejo de planta e pomar, nutrição vegetal, variedades, controle de pragas e doenças (especialmente mosca-das-frutas), pós-colheita e processamento.

A definição de um sistema de produção de mudas por métodos vegetativos permite que sejam clonados os melhores genótipos e implantados pomares uniformes. Permite também que se possa desenvolver técnicas de manejo adequado das plantas e do pomar, viabilizando alta produtividade e frutas de qualidade. Conhecer as necessidades nutricionais de cada espécie permitirá que se possa realizar a adubação correta na área de cultivo, com o aporte adequado de nutrientes.

Por se tratarem de espécies nativas, espera-se que sejam mais rústicas e adaptadas às condições de clima e solo. No entanto, com o cultivo em áreas maiores, também ocorrerá um aumento na incidência de pragas e, possivelmente, doenças. Atualmente, a principal praga que ocorre em fruteiras nativas é a mosca-das-frutas. Desenvolver estratégias de controle é mais um desafio para a produção dessas espécies.

Além disso, é necessária a definição de novos processos que permitam a elaboração de produtos diferenciados, bem como estudos de conservação pós-colheita, possibilitando a comercialização in natura. A caracterização fitoquímica das frutas e dos produtos elaborados com essas frutas, determinando sua qualidade como alimento funcional, é uma estratégia que pode ser adotada na busca de alimentos com maior valor agregado. Estratégias de marketing, destacando aspectos como, por exemplo, aroma e sabor diferenciados, propriedades nutracêuticas, dentre outras, também fazem parte dos desafios.

Porém, além dos trabalhos de pesquisa, a mobilização do setor produtivo é fundamental neste processo de inserção de fruteiras nativas na cadeia de frutas, de forma que vários produtores iniciem o cultivo em diferentes regiões, atingindo volumes consideráveis, viabilizando a comercialização e/ou funcionamento de agroindústrias. O desenvolvimento de políticas públicas, visando incentivar o cultivo de espécies nativas, também seria uma forma de impulsionar o plantio destas fruteiras.

Rodrigo Cezar Franzon - Engenheiro-agrônomo, Doutor, pesquisador da Embrapa Clima Temperado

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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