Publicado em: 08/07/2008 às 10:31hs
A fruticultura contribui de quatro maneiras importantes para o crescimento da economia brasileira. Primeira, é fonte de alimentação. E alimentação também é uma questão de segurança nacional. Segunda, é geradora de emprego para a população. Se considerarmos que cada hectare plantado com fruticultura gera em média dois empregos diretos e que o Brasil tem uma área plantada com fruticultura em torno de 2,5 milhões de hectares, chega-se facilmente à estimativa de 5 milhões de empregos diretos gerados dentro da fazenda. Isso sem levar em consideração outros tantos empregos indiretos que são gerados antes e depois da porteira. Só para se ter uma idéia, o contigente de 5 milhões equivale à população conjunta de três capitais do Nordeste: Salvador, Fortaleza e Aracaju. Terceira, é geradora de divisas. Somente com as exportações de suco de laranja o país consegue divisas da ordem de 2 bilhões de dólares e outros 900 milhões com as exportações de frutas frescas e secas. Quarta, o valor da produção da fruticultura é superior a 10 bilhões de reais anuais.
Nos últimos anos o setor tem registrado importantes conquistas, destacando-se entre elas a Criação das Câmaras Setoriais da Fruticultura (em 2003) e da Citricultura (em 2004); o avanço da Produção Integrada de Frutas (PIF) no país; a instalação da biofábrica Moscamed Brasil em Juazeiro (Bahia); a expansão do seguro rural para importantes fruteiras; a inclusão do setor de fruticultura no Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal; as campanhas de promoção de nossas frutas no exterior sob uma única marca e a abertura, embora lenta, de novos mercados para o escoamento da produção nacional de frutas. Se as conquistas foram muitas, os desafios são ainda maiores, destacando-se os seguintes:
a) Manter e ampliar os protocolos governamentais e privados de produção, a exemplo da PIF e Eurepgap;
b) Superar as barreiras fitossanitárias e tarifárias impostas pelos principais mercados importadores;
c) Buscar formas de compensação da perda de receita dos agricultores provocada pela valorização da moeda nacional nos últimos anos;
d) Ampliar a infra-estrutura de transporte, armazenamento e de análise de resíduos de defensivos em frutas;
e) Estabelecer uma legislação de segurança alimentar aceita pelos principais países importadores, em relação a frutas frescas e processadas; f) Ampliação do seguro rural para inclusão de outras frutas de importância econômica, a exemplo do abacaxi, manga, mamão, melancia e melão; e
f) Estabelecer regulamentos oficiais de classificação para algumas frutas destinadas a exportação para a União Européia, compatíveis com o sistema de classificação exigido pelos países componentes do bloco.
Com uma produção de aproximadamente 40 milhões de toneladas anuais e uma área plantada em torno de 2,5 milhões de hectares, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial dos maiores produtores de frutas, atrás apenas da Índia e da China. As frutas são produzidas em todas as regiões do Brasil, mas há uma certa especialização regional em função do clima. As regiões Nordeste e Norte têm maior importância na produção de frutas de clima tropical enquanto as regiões Sudeste e Sul destacam-se na produção de frutas de clima temperado e subtropical. Há uma predominância das regiões Nordeste e Sudeste sobre as demais. A região Nordeste é a primeira na produção de banana, coco-da-baía, cacau, caju, mamão, manga, abacaxi, melão e maracujá; e a segunda em uva, laranja, limão e goiaba. O Sudeste lidera a produção de citros (laranja, limão e tangerina), goiaba e figo e ocupa a segunda posição na produção de mamão, manga, pêra e pêssego. O Sul é líder na produção de frutas de clima temperado como pêra, pêssego, uva e maçã e a segunda de tangerina e melancia. No Centro-Oeste, especializado na produção de grãos, a produção de frutas ainda é incipiente.
Para um grande número de fruteiras, a produção no ano de 2008 pode ser melhor que a do ano de 2007. Ao se confirmarem as estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, de maio de 2008, as safras de castanha de caju, cacau, abacaxi, maçã, banana, uva e coco-da-baía podem superar as do ano anterior em (102,86%), (3,51), (3,25%), (2,03%), (1,97%), (1,20%) e (0,10%), respectivamente - mas outras lavouras estão sujeitas a redução de safra, a exemplo da laranja, que pode registrar uma queda de produção da ordem de 3,12%.
O mercado interno é, e continuará sendo, o principal destino da produção nacional de frutas, o que é natural se considerarmos a demanda da população brasileira, em que pese o consumo per capita ainda seja muito baixo. Ao mercado externo são destinados menos de 3% da produção de frutas frescas, tendo como principais destinos o mercado europeu e norte-americano. Mas é bom que fique claro que as exportações não são constituídas pelo excedente da produção interna. Ao contrário do que muitos pensam, consegue exportar aquele produtor que tem tecnologia adequada de produção, custos competitivos, qualidade de fruto, variedades adequadas, capital, logística e acesso aos distribuidores, o que, infelizmente, apenas uma pequena parcela dos nossos produtores de frutas consegue atender.
Salvo raras exceções, a atuação do Brasil no mercado internacional de frutas ainda é muito tímida. O país ainda tem um longo caminho a percorrer para ocupar uma posição de destaque, condizendo com a sua importância na condição de grande produtor mundial de frutas. Os motivos que levam o país a ocupar uma posição pífia no mercado internacional de frutas são vários, indo desde problemas na produção e classificação, passando por uma infra-estrutura deficiente, até a falta de tradição no mercado internacional. Na fruticultura ainda estamos aprendendo como conquistar mercados e fortalecer os laços comerciais. Erramos aqui e ali, mas aos poucos aprendemos. O potencial de crescimento do Brasil no mercado externo de frutas é muito grande. O país ainda está nos primeiros passos para se tornar um grande exportador de frutas e derivados. O Brasil é um dos poucos países que tem condições potenciais de área disponível e de diversidade de frutas para atender ao crescimento da demanda externa por frutas e derivados. Mas ainda há muito o que fazer para se chegar até lá. Uma vez resolvidas as condições básicas de produção, certificação, infra-estrutura, crédito etc., ainda será preciso superar as barreiras tarifárias e fitossanitárias. As tarifárias, por meio de acordos bilaterais específicos, e as fitossantárias, através de programas internos de qualidade e controle da mosca-das-frutas. O exemplo mais marcante talvez seja a mosca do mediterrâneo, que pode afetar a produção e a qualidade de uma série de frutas se as condições ambientais forem apropriadas para o seu desenvolvimento e reprodução. Os Estados Unidos não aceitam frutas vindas de países que tenham moscas-das-frutas, salvo se estas forem submetidas a rigoroso tratamento para garantir a ausência desta praga. Tecnologias foram geradas pela Embrapa, USP e outras instituições parceiras visando definir medidas de controle desta praga. Como vimos antes, o governo brasileiro investiu na instalação da biofábrica Moscamed em Juazeiro (Bahia) com o objetivo de produzir machos estéreis para o controle biológico daquela que é considerada a praga mais ofensiva da fruticultura brasileira - a mosca do mediterrâneo. Tudo para garantir e ampliar o acesso ao mercado internacional de nossas frutas. Outro desafio é a diversificação de produtos e mercados. As exportações brasileiras de frutas e derivados ainda são muito concentradas quanto ao tipo de fruta exportada (uva, melão, manga, maçã, banana, limão e mamão) e quanto ao mercado de destino (especialmente União Européia e Estados Unidos, que juntos respondem por mais de 90% das nossas exportações).
As pesquisas vem buscando novas cultivares através do melhoramento genético convencional e não-convencional (este último por procedimentos biotecnológicos). São cultivares mais produtivas, mais resistentes ao ataque de pragas e doenças e, em alguns casos, mais adequadas às exigências dos consumidores internos e externos. Além das pesquisas na área genética, uma outra vertente tem como propósito introduzir mudanças no sistema de produção, às vezes pontuais, como é o caso do controle biológico de pragas e doenças, outras sistêmicas, a exemplo das pesquisas voltadas para a produção agroecológica, orgânica ou integrada.
Para os próximos anos as perspectivas para o setor, tendo em vista os mercados nacional e internacional, são favoráveis. Considerando que o Brasil continua sendo um dos poucos países que poderão suprir o crescimento da demanda internacional de fruas frescas e de seus derivados, considerando a perspectiva de crescimento da renda nacional projetada para os próximos anos, o avanço da produção integrada na fruticultura, o consumo per capita de frutas e suco de frutas no Brasil está muito aquém dos padrões dos países desenvolvidos e também que os consumidores buscam um padrão de alimentação mais saudável, devemos ser otimistas em relação ao crescimento do setor de fruticultura. Acreditamos que, tanto pelas ações governamentais quanto pelas ações da iniciativa privada voltadas ao fortalecimento do setor, as perspectivas otimistas vão se concretizar.
Clóvis Oliveira de Almeida
Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Doutor em Economia Aplicada
Fonte: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
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