Publicado em: 16/09/2013 às 14:40hs
Afetados por geadas desde julho, os Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná devem ter juntos uma perda equivalente a cerca de 11 milhões de toneladas de cana, o correspondente a 2,2% da moagem esperada para todo o Centro-Sul. Pequeno no conjunto da safra, o efeito das baixas temperaturas, no entanto, não será tão insignificante assim para os grupos que têm unidades nessas localidades. A estimativa é que, a produção de açúcar e etanol de algumas usinas instaladas na região possa cair até 15%.
No caso sul-mato-grossense, as baixíssimas temperaturas afetaram a chamada "Grande Dourados", onde operam grupos como Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities, Odebrecht Agroindustrial (antiga ETH Bioenergia), Raízen Energia (Cosan / Shell) e o Grupo Tonon. No Paraná, o fenômeno castigou também as duas usinas controladas pela indiana Shree Renuka Sugars.
Ao todo, foram sete ocorrências em Mato Grosso do Sul, a última ao fim de agosto, conta Roberto Hollanda, presidente da associação que representa as usinas do Estado, a Biosul. Mais de 100 mil hectares de cana foram submetidos à onda de frio, o equivalente a 15% da área de corte do Estado, de 650 mil hectares. "Vamos deixar de moer 4 milhões de toneladas de cana e ter um perda de açúcar na cana, o chamado ATR (Açúcar Total Recuperável) de 10 quilos por tonelada, que corresponde a uma perda adicional de 3,5 milhões de toneladas de cana", diz Hollanda.
O que ocorre, segundo o executivo, é que, após a geada, a cana precisa ser colhida rapidamente para não perder sacarose. "Isso atrapalha a programação de colheita", complementa Hollanda.
Uma das companhias mais prejudicadas pela intempérie foi a Biosev, que tem em Mato Grosso do Sul 27% de sua capacidade total de moagem da matéria-prima. Canaviais das três unidades sul-mato-grossenses da empresa foram duramente castigados pelas baixas temperaturas.
Por isso, a sucroalcooleira, a segunda maior do país, anunciou ao mercado que, na média de todo o grupo, o ATR cairá 5% e o volume de cana processado será 15% menor (sendo um terço disso causado pela estiagem nas usinas do Nordeste).
As duras geadas vieram num momento delicado para a companhia francesa. Desde o anúncio das perdas, as ações da Biosev recuaram 12,33%, na BM&FBovespa, para R$ 9,60. O problema adicional é que se essa ações não performarem a R$ 16,57 até julho de 2014, a controladora da Biosev, a francesa Louis Dreyfus, terá que recomprar esses papéis. Isto é, os detentores de uma opção de venda lançada pela empresa na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Biosev devem exercer o direito de vender o papel para a controladora. Se esse cenário se confirmar, a Dreyfus terá que desembolsar cerca de R$ 600 milhões.
Com um menor impacto, as baixas temperaturas atingiram a usina Vista Alegre, localizada em Maracaju (MS), que por isso reduziu em 5,7% sua previsão de produção de açúcar e etanol. Controlada pelo Grupo Tonon, que tem como sócio o fundo de private equity Terra Viva (DGF Investimentos), a Vista Alegre deve ter uma produtividade de açúcar na cana (ATR) de 126 quilos por tonelada, ante os 133,73 quilos previstos inicialmente, queda de 6%, segundo o presidente do Grupo Tonon, Rodrigo Aguiar. Ele afirma, no entanto, que, como as duas usinas em São Paulo não foram afetadas, na média do grupo, o recuo na produção final deve ser entre 3% e 3,5%.
A área de cana das três usinas da Odebrecht Agroindustrial localizadas em Mato Grosso do Sul também foram castigadas pelas baixas temperaturas de julho e agosto. Duas, a Eldorado e a Santa Luzia, foram pegas mais em cheio. Juntas, elas representa 24,2% da capacidade de processamento de cana do grupo sucroalcooleiro - que tem nove usinas e capacidade total para moagem de 34 milhões de toneladas. Por meio de sua assessoria, a Odebrecht Agroindustrial informou que ainda não dimensionou os prejuízos causados pela intempérie.
O canavial da unidade da Raízen Energia localizada em Caarapó (MS) também foi prejudicado. O vice-presidente da maior sucroalcooleira do país, Pedro Mizutani, estima que a perda na unidade entre cana e ATR deve variar de 5% e 10%. Ele lembra que a Raízen tem apenas uma usina em Mato Grosso do Sul que processa 2,150 milhões de toneladas da matéria-prima por safra, ou seja, tem uma participação pequena em relação às cerca de 60 milhões de toneladas que a empresa prevê moer em suas 24 usinas neste ciclo 2013/14.
Também em Mato Grosso do Sul, as baixas temperaturas prejudicaram a usina da Infinity Bioenergy, controlada pelo grupo Bertin e em recuperação judicial desde 2009. As perdas na Usinavi, localizada em Naviraí (MS), devem resultar em uma produção de açúcar e etanol 4% abaixo das estimativas iniciais, segundo o presidente da empresa, Douglas de Oliveira.
No Paraná, as perdas foram igualmente grandes. Na média do Estado, a produtividade vai recuar 11% (7% em volume de cana e 4% em ATR) nas áreas que ainda faltavam colher (55% da área) quando a geada veio, conforme explica Miguel Tranin, presidente da associação que representa as usinas do Estado (Alcoopar). "Nossa estimativa era de processar até 42 milhões de toneladas, mas vamos ficar em 39 milhões, no máximo, 40 milhões", diz Tranin.
No entanto, há grupos que tiveram perdas acima desse percentual. Foi o caso das duas unidades da indiana Shree Renuka Sugars. Juntas, as usinas localizadas em São Pedro de Ivaí e em Marialva, devem ter queda de cerca de 15% na produção de açúcar e etanol devido às baixas temperaturas de julho e agosto deste ano. A quantidade de ATR, antes projetada em 132 quilos por tonelada, foi revisada para 112 quilos, segundo o presidente da Renuka Vale do Ivaí, Paulo Zanetti.
Ele diz que as unidades da Renuka do Brasil, subsidiária da indiana com operação no Estado de São Paulo, não foram afetadas. As usinas ficam em Promissão e Brejo Alegre.
Fonte: Canal do Produtor
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