Cana de Açucar

Descoberta Inédita Confirma Transmissão da Escaldadura das Folhas da Cana por Inseto Vetor

Pesquisa do IAC revela cigarrinha-das-raízes como transmissora da principal doença bacteriana da cana-de-açúcar


Publicado em: 27/09/2024 às 09:30hs

Descoberta Inédita Confirma Transmissão da Escaldadura das Folhas da Cana por Inseto Vetor
Foto: shutterstock

Uma pesquisa pioneira do Instituto Agronômico (IAC) revelou que a escaldadura das folhas da cana-de-açúcar, a mais importante doença bacteriana da cultura, é transmitida pela cigarrinha-das-raízes. Este inseto vetor é capaz de carregar a bactéria Xanthomonas albilineans, responsável por disseminar a doença em plantas saudáveis, para a qual ainda não existe controle e que muitas vezes se manifesta de forma assintomática.

Segundo a pesquisadora do IAC, Silvana Creste, o avanço da pesquisa oferece novas perspectivas para o controle da escaldadura. “Essa descoberta amplia nossa visão tanto sobre a praga quanto sobre a doença, pois demonstra que a cigarrinha, além de ser uma das principais ameaças à cana, também carrega um inimigo oculto”, destaca Creste.

A bactéria compromete principalmente os vasos do xilema, dificultando a absorção de água e nutrientes pela planta. Os impactos vão desde a baixa germinação das gemas e queda na produtividade até a redução do teor de açúcar e da longevidade dos canaviais. A gravidade dos prejuízos varia conforme a variedade da cana, o ciclo da cultura, a idade do canavial e fatores ambientais, além da agressividade da bactéria.

“Nas variedades mais suscetíveis, a doença pode causar a morte das gemas e, consequentemente, das plantas”, explica Silvana Creste, também vinculada à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Pesquisa com Colaboração Acadêmica e Científica

Além da equipe do IAC, a pesquisa contou com a colaboração de professores e pesquisadores da Unesp Jaboticabal, Esalq, Instituto de Botânica da USP, e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP, entre outros. O estudo foi publicado na revista Journal of Insect Science e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG).

Próximos Passos da Pesquisa

O próximo desafio dos pesquisadores é investigar se outras espécies de cigarrinha-das-raízes também podem ser hospedeiras da bactéria Xanthomonas albilineans. Além disso, pretende-se definir novas estratégias de manejo da praga e da doença, visto que, atualmente, o controle se baseia no uso de mudas saudáveis e na desinfecção de instrumentos de corte no plantio e na colheita.

De acordo com Creste, uma vez infectada, a planta só pode ser recuperada por meio da limpeza clonal em laboratórios especializados, que utilizam técnicas avançadas de biologia molecular para garantir a sanidade da cana. O Centro de Cana IAC, em Ribeirão Preto, abriga o único laboratório no Brasil capaz de detectar a presença da bactéria com tecnologia ultrassensível.

“Desenvolvemos essa tecnologia há cerca de uma década, quando percebemos que os materiais utilizados no plantio não tinham sanidade suficiente para garantir alta produtividade ao longo dos ciclos de cultivo”, comenta a pesquisadora.

A tecnologia INVICTA IAC, resultado desse trabalho, permite a produção de mudas certificadas quanto à sanidade e identidade genética, utilizando técnicas de biologia molecular. Esse avanço foi fundamental para a descoberta da transmissão da escaldadura pela cigarrinha-das-raízes.

“A convicção de que entregamos mudas saudáveis aos produtores foi o ponto de partida. Quando identificamos a presença da escaldadura em viveiros que não usavam instrumentos mecânicos, mas tinham alta infestação da cigarrinha, soubemos que havia algo mais. Redefinimos nosso foco e desvendamos essa nova forma de transmissão”, relata Creste.

A compreensão dos métodos de transmissão da doença permite o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para prevenir sua ocorrência e minimizar os prejuízos. Embora a pesquisa ainda não tenha gerado uma recomendação concreta de controle, a descoberta abre espaço para debates e novas estratégias de manejo voltadas à redução dos danos causados pela escaldadura das folhas da cana.

Fonte: Portal do Agronegócio

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