Publicado em: 19/09/2022 às 13:00hs
A Fazenda São José, localizada no município de Jaboticabal, interior de São Paulo, está há mais de 70 anos com a família Garcia. A história começa com a imigração para o Brasil do patriarca, o espanhol André Garcia Camacho, e após mais de meio século de práticas de agricultura convencional atinge um novo patamar com a implantação de um canavial sustentável, cultivado nos últimos 20 anos e com resultados superiores às médias nacional e do Estado.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que realizou o primeiro levantamento sobre a cana-de-açúcar para a safra 2022/23, no Brasil a perspectiva para o rendimento médio dos canaviais está em 72,6 toneladas por hectare. Já no Estado de São Paulo, esse número é um pouco maior, 73,6 toneladas por hectare.
“Com este manejo sustentável estamos produzindo, em média, 96 toneladas por hectare, e este resultado inclui canaviais que vão do primeiro ao nono corte”, comemora Eduardo Garcia, engenheiro agrônomo e responsável por toda a operação da fazenda atualmente.
Para chegar a esta produtividade foi preciso uma transição, iniciada há mais de 20 anos, que rompeu com a forma de cultivo tradicional da propriedade de 300 hectares. A mesma área, antes da cana-de-açúcar, já foi usada para plantar café, algodão e laranja.
“Devido ao Proálcool, na década de 1970, nós mudamos totalmente e passamos a produzir cana-de-açúcar, mas, apesar disso, ainda fazíamos um manejo tradicional”, acrescenta.
Eduardo lembra que foi preciso convencer o pai e o avô de que a mudança traria resultados positivos para o solo e para a cultura produzida. Contudo, após muita insistência, conseguiu um voto de confiança das gerações anteriores.
“Quando conheci a agricultura sustentável, eu fiquei encantado porque fugia, e muito, da nossa agricultura convencional. Então, resolvi apresentar para eles, já que era algo que nos obrigava a pensar, não simplesmente um receituário de calcário, nitrogênio, fósforo e potássio”, afirma.
Para o início do trabalho, os proprietários reservaram um talhão, de sete hectares, para que os testes pudessem ser realizados. O período de experimento durou cerca de dois anos e contou com bons resultados. “Fiz a lição de casa e deu tudo certo”, relembra Eduardo.
Os números positivos animaram o proprietário, que resolveu expandir o manejo sustentável para uma área maior, de 54 hectares, dentro da Fazenda São José. Mas para que os resultados continuassem favoráveis, o agrônomo percebeu que era preciso uma análise criteriosa do histórico do solo.
“Foi aí que descobrimos que o tratamento que era feito anteriormente havia deixado uma reserva no solo. Ou seja, as plantas daquela área não estavam preparadas para esse manejo sustentável. Então, demos um passo atrás, com toda essa fase de estudos e entendimento do solo, controle de pragas, doenças, entre outras coisas, e posteriormente voltamos a evoluir”.
Para migrar do cultivo tradicional para o sustentável foi necessário um processo gradual e cuidadoso. Eduardo afirma que deixar de usar herbicidas e fertilizantes compostos com produtos químicos, como o cloreto de potássio, fez parte do processo, e que foi preciso ir além, ter uma ideologia, seguir uma metodologia que garanta qualidade e produtividade.
“Nós iniciamos com a diminuição dos produtos, como herbicida, por exemplo, e outros produtos químicos. Hoje, nós não utilizamos nenhum produto sintético ou que tenha em seu processo de produção uma base química”, revela.
Apesar da dificuldade com o clima nos últimos dois anos, período em que faltou chuva, entre outros problemas, a produtividade atingida por hectare é positiva.
O agrônomo reforça que a cana produzida ali tem como destino empresas que estão posicionadas no setor de alimentos orgânicos. “São companhias que já atuam nesse mercado há algum tempo e que produzem açúcar, álcool, entre outras coisas”.
Há pouco mais de cinco anos a Fazenda São José passou a produzir uma outra commodity, a soja. O cultivo também é feito de maneira sustentável. Por isso, foi preciso substituir o cloreto de potássio comprado fora do Brasil pelo K Forte, potássio brasileiro produzido em Minas Gerais pela Verde Agritech, superior ao importado porque não contém cloro e não se perde por lixiviação. Além de ter liberação gradual de nutrientes, não compacta e nem saliniza o solo, favorecendo sua microbiota.
“O potássio sem cloro é fundamental para a nossa produção de modo geral. Além de favorecer o crescimento da planta, de forma mais sadia, mais estruturada e que nos fortalece contra o ataque de pragas", explica Eduardo.
Segundo o agricultor, a aplicação é feita por talhões de 50 a 60 hectares.
"Esse manejo com o K Forte é feito em época de rotação de cultura, então aplicamos no solo e o nutriente acaba servindo tanto para a soja, quanto para a cana-de-açúcar”, explica.
Eduardo reforça que os últimos resultados da soja sustentável foram ótimos e destaca que o manejo favorece também na hora da venda do grão.
“Hoje, a nossa produtividade está com média de 58 sacas por hectare. Sem contar que temos um outro bônus, que neste caso, é o preço final. A rentabilidade é maior do que com a soja que é comercializada com o cultivo tradicional“.
Fonte: Fato Relevante
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